domingo, 26 de junho de 2011

STOP GAY - Pais e filhos gays levam parentes para a Parada em SP


Evento acontece no domingo (26), na Avenida Paulista.
Professor irá com a filha e o namorado para a festa.

Paulo Toledo PizaDo G1 SP
Luís (à esq.) irá à Parada com a filha Samara e o namorado Jaison (Foto: Paulo Toledo Piza/G1)Luís (à esq.) irá à Parada com a filha Samara e o namorado Jaison (Foto: Paulo Toledo Piza/G1)
Pais com filhos homossexuais e casais gays com filhos e enteados héteros prometem se juntar a milhões de pessoas no domingo (26) para festejar na Avenida Paulista, em São Paulo, o orgulho gay. A tradicional Parada LGBT deve reunir ao menos 3 milhões de pessoas na via, símbolo da capital paulista.
O professor de matemática e cabeleireiro Luis Fernando Molinari, de 49 anos, que se descobriu gay há 17, levará o namorado e a filha para participar do evento. Fruto de um casamento hétero que teve durante 13 anos, a estudante Samara Molinari, de 18, é mais que uma filha para Molinari. “Ela é muito companheira. Quando ela era adolescente eu já a levava a baladas gays.” Apesar de ser heterossexual, a jovem afirma gostar da Parada por causa do agito. “A gente vai com um grupo de amigos comuns e ficamos sossegados, só aproveitando.”
O tema da 15ª edição da parada é o combate à homofobia. Apesar de o preconceito ainda afetar a vida dos gays, avanços são evidentes, como relatou Luís. “Eu sempre me senti gay, mas não poderia ter me assumido quando jovem. Naquela época não podia. Não tinha maturidade suficiente.”
Por seguir o que era comum na década de 1980, ele casou com uma mulher e teve três filhos. “Eu já sabia que o relacionamento tinha data de validade marcada.” Agora, com a recente decisão favorável do Supremo Tribunal Federal (STF) em relação à união estável entre pessoas do mesmo sexo, ele pretende casar com o namorado, o também cabeleireiro Jaison dos Santos Andrade, de 22 anos. “Está tudo pronto para o ano que vem. Vamos fazer uma cerimônia religiosa e civil.”
O fato de ser filha de um homossexual nunca foi problema para Samara. Mesmo assim, temendo discriminação, seu pai sempre a aconselhou a não falar sobre a opção sexual. “Quando era pequena, só contava para quem eu conhecia e confiava”, disse a estudante.
Família colorida
A auxiliar administrativa Fabiana Aparecida Pires, de 21 anos, irá aproveitar a proximidade de sua casa da Rua da Consolação, por onde passarão os festeiros e os carros durante a parada, para se divertir com amigos, a mãe e a madrasta.
Fabiana diz que sempre se sentiu gay, mas descobriu sua verdadeira orientação quando começou a namorar outra menina, aos 15 anos. “Eu nunca fiquei com meninos.” Já sua mãe, a aposentada Célia Pires, de 55 anos, acredita que tornou-se homossexual.
Após um casamento conturbado, Célia foi morar em Araxá, Minas Gerais. A calmaria em comparação à agitação de São Paulo foi o que fez a aposentada se mudar com os dois filhos para a cidade mineira, onde conheceu a ex-jogadora de futebol Aliani Lourenço da Silva, de 46 anos. “Quando eu vi ela pela primeira vez, senti algo estranho, como quando você vê algum homem bonito”, lembrou.
Com o passar do tempo, a amizade foi crescendo até que, durante um jantar, Aliani “roubou” um beijo de Célia. “Ela ficou catatônica. Pensei que tinha estragado tudo e pedi desculpas”, afirmou. Célia não soube o que dizer. “O maior preconceito senti de mim contra mim mesma.”
Ponderando a respeito dos seus sentimentos, a aposentada viu que realmente estava apaixonada por alguém do mesmo sexo. Ao se declarar a Aliani, ouviu da companheira um conselho: “Perguntei se ela estava preparada, porque ia enfrentar muito preconceito.” A previsão da ex-atleta se cumpriu. Mal assumiu-se gay, Célia, então com 51 anos, viu amigos e parentes se afastarem dela. “Por isso, não anuncio aos quatro ventos minha opção.”
O casal de filhos encarou cada um de seu modo. Fabiana ficou feliz com a opção da mãe e brincou: “Como vou chamar a Aliani? De padrasta?” Seu irmão, que tem 22, inicialmente ficou chocado. Agora, porém, aceita normalmente e trata a namorada da mãe como parente. “Somos uma família normal”, disse a aposentada.
No ano passado, ela, seus dois filhos voltaram para São Paulo em busca de novas oportunidades de emprego e estudo. Célia e Fabiana quiseram ir à Parada e se surpreenderam com o clima divertido e de confraternização presente. “Lá, somos mais humanizados, mais respeitados”, concluiu a aposentada.
Levar a família para a Parada, segundo os entrevistados, é uma forma de homenagear os parentes pelo apoio da família. Fernanda Estima, de 42 anos, pela terceira vez consecutiva levará para a Parada seu filho João Pedro, de 11, e a namorada, a fisioterapeuta Juliana Sá, de 35. Ao se revelar gay, há 3 anos e meio, Fernanda sofreu preconceito principalmente do ex-marido.
Temendo uma reação semelhante do filho pequeno, demorou algum tempo para encontrar a melhor forma de contar a ele sobre a novidade. “Para meu espanto, surpresa e orgulho, ele abraçou a Ju e disse: ‘Estou feliz que você é minha segunda mãe’.”
Por estar com uma criança, a família ficará em uma área mais reservada, na esquina da Avenida Paulista com a Rua da Consolação. “Não dá para entrar na muvuca. De longe dá para explicar cada carro.”
Para ela, o convívio desde pequeno com homossexuais faz com que crianças como seus filhos sejam mais tolerantes e receptivos ao diferente. Até hoje, João Pedro jamais foi zombado pela opção da mãe. E se isso acontecer, Fernanda é enfática. “Confio em seu bom senso e na boa formação que ele tem. Sei que ele saberá lutar pelos seus direitos.”
Célia (à esq.), sua filha e a namorada também vão à Parada Gay (Foto: Paulo Toledo Piza/G1)Célia (à esq.), sua filha e a namorada também vão à Parada Gay (Foto: Paulo Toledo Piza/G1)

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