(21-06-11) - Quando uma marca precisa concertar sua imagem junto ao público consumidor, várias estratégias são estudadas. As mais comuns estão em baixar o preço e direcionar o produto para um novo perfil de consumidor. A Chrysler acertou adotando este viés para o Dodginho 1800 SE.
Quando em 1973 a marca se adiantou em lançar um carro esporte para somar ao seu mix de veículos, os modelos 1800 e 1800 GL, não esperava que as críticas do consumidor maduro fossem tão duras. Talvez pela fama dos outros carros (Dodge Dart e Charger) já terem uma história, diga-se, mais agressiva, a expectativa foi maior do que a realidade do produto entregue.
De certa forma, o conceito do modelo 1800 foi mal interpretado. De acordo com o especialista, é preciso entender que carro esportivo é diferente de esporte. “O esportivo é aquele que oferece desempenho realmente arisco. Já o esporte tem adornos que remetem ao primeiro, mas o motor não é muito melhor do que aquele da linha tradicional do carro.”
Segundo ele, o Doginho era tão forte e competitivo quanto qualquer outro concorrente contemporâneo seu. Tinha sim suas limitações, mas qual carro não tem? Para ele o grande truque, que deveria ser seu diferencial, acabou sendo um problema. “O sistema de carburador SU não é para leigos. Pouca gente entende e o conhece o suficiente para regular da forma correta” diz.
O carro em si é silencioso. Motor de quatro cilindros, alimentação feita com carburador tipo SU, venturi variável que permite melhor mistura gasolina-ar. Embora na saída seja um tanto lento para um esporte, na retomada é interessante. Em altas velocidades a estabilidade é boa, salvo em terrenos irregulares.
“O carburador é fantástico! Dá possibilidades de diferentes acertos para o mesmo carro. Alinhando desempenho com economia de forma simples” empolga-se. O venturi variável também é interessante para aqueles consumidores que gostam de preparar o carro, mais um motivo para atrair os mais ousados.
Seu visual esporte encanta até hoje, muitos modelos foram inspirados em suas linhas nos anos posteriores. As duas faixas pretas, que percorrem a lateral inferior do carro, são de um bom gosto à parte. Ainda, as rodas de desenhos exclusivos conferiam um charme extra ao conjunto. Já o interior fazia uma composição com lado externo, usando o xadrez como base, tão na moda em quase tudo nos anos 70.
Por fora sua cor alegre e moderna, que Restart que nada!, remete à efervescente cultura da daquela década. Em sintonia com o Tropicalismo e, de certa moda com a Jovem Guarda também, movimentos que marcaram a geração. Músicas de Caetano, calça boca de sino, costeletas e por aí vai.
“O carro foi direcionado para o jovem da classe média, que gostava de um visual bacana. Usava o carro para ir à faculdade e acampar, curtir a “natureza” aos finais de semana, que era muito comum naquela época” comenta. Realmente o carro foi de encontro. Sem o uso dos cromados, trocou tudo por itens de plástico em preto-fosco, que além de influenciar no peso do veículo, ainda facilitava na limpeza sem comprometer o conforto.
A luta pela conquista de mercado foi brava, mesmo sendo este o segundo modelo mais barato da linha, não atingiu as metas da fábrica. Embora a crítica tenha sido receptiva, principalmente no sentido do design e acabamento, o modelo 1800 SE não teve vida longa. Mas foi o suficiente para fazer a sua parte na história.
Fonte: “Alguns Aspectos da História do Automóvel no Brasil”, Editora Tempo & Memória, entre sites e blogs. Agradecimentos: Automóveis do Brasil.
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