segunda-feira, 20 de junho de 2011

Carro roubado no Brasil é encontrado com oficial na Bolívia


Edição do dia 02/06/2011
03/06/2011 00h38 - Atualizado em 03/06/2011 00h49

FABOAUBRA

De acordo com as investigações, o major Diaz Caballero se preparava para emplacar o carro de maneira irregular quando foi detido em La Paz. Dados de uma empresa de rastreamento ajudaram a localizar veículo.

Eduardo Tchao
O dia é o da mentira – 1º de abril. A locadora escolhida fica em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

Luís Roberto Teixeira, de 57 anos, aluga um gol, modelo 2011. Na semana seguinte, ele faz um Boletim de Ocorrência na página da polícia de São Paulo na internet.
Informa que o carro foi roubado perto de um shopping no bairro do Brás, na capital paulista. Mas o veículo sequer passou pelo Brás. No dia 9 de abril, data do registro do furto, o carro estava em Puerto Suarez, na Bolívia - há cinco dias.
De Puerto Suarez, o carro foi parar em Sucre estacionado na rua Ravelo, dentro de um quartel do exército boliviano. O sistema de rastreamento da locadora registrou as coordenadas dadas pelo aparelho de localização - via satélite - que fica no carro alugado. O equipamento funciona indicando a posição em que o veículo se encontra.
O rastreador apontou que o carro ficou nove dias no estacionamento do exército. Depois, passou pela cidade de Potosí, a 150 quilômetros de Sucre.
Os dados da empresa de rastreamento, passados para a embaixada brasileira, em La Paz e depois à polícia boliviana, ajudaram a localizar o veículo roubado.
“Falamos que estava em La Paz. A equipe foi pra lá, da polícia deles, chegou em La Paz, qual a posição? Demos a posição, o local exato. É dez metros no máximo de erro”, diz o dono da empresa de rastreamento, Fernando Lopes.
O carro estava com um oficial da polícia nacional boliviana: major Diaz Caballero. De acordo com as investigações, o major já se preparava para emplacar o carro de maneira irregular quando foi detido numa rua da capital boliviana.
O caso está sendo investigado pelo Ministério Público da Bolívia. Segundo o promotor, o policial vai responder em liberdade por receptação, com pena até dois de prisão.
“Não foi o único caso que aconteceu, é muito comum ver carros roubados num país para ser vendido em outro”, afirma o representante do Ministério Público da Bolívia, Juan Carlos Chuque.
O repórter Eduardo Tchao foi até o quartel da Polícia Nacional em que o major trabalha, na cidade de Potosí. Entrou no quartel com uma câmera escondida. Diaz o recebeu desconfiado. Ele disse que estava fazendo uma reportagem sobre carros roubados no Brasil que entram facilmente na Bolívia.

O major confirma a compra de um Gol 2011 em Puerto Suarez, mas conta que o negócio foi feito pela mulher dele e diz que ela não sabia que o automóvel era roubado.

À polícia, ele contou ter pago US$ 5 mil - menos de R$ 10 mil. O carro vale cerca de R$ 30 mil.
O major disse que chegou a estacionar o carro perto do quartel do exército em Sucre, mas não lá dentro.
O rastreador, no entanto, revelou que o veículo ficou dentro do quartel. O carro da locadora já esteve em dois estacionamentos, um deles no da polícia boliviana em La Paz. Hoje está no pátio de uma oficina, na parte alta da cidade.
A equipe da TV Globo foi com uma câmera escondida na oficina em que está o carro. O carro parece estar bem conservado. Mas se o verdadeiro dono quiser pegá-lo de volta, ainda terá que pagar as diárias do estacionamento.

“Estamos numa luta há mais de um mês para reaver o carro, que economicamente pode até não valer a pena. Mas por questão de justiça a gente quer o carro de volta”, fala o dono da locadora, Ricardo Espírito Santo.
Para o promotor boliviano, só há uma solução para que casos como este não voltem a acontecer :fiscalização.

“Deveria haver um controle maior nas fronteiras. Creio que na Bolívia as pessoas compram sabendo que são roubados, porque pagam preço muito abaixo do mercado e os levam para lugares longe das cidades”, informa Juan Carlos Chuque.
Nas páginas dos classificados dos principais jornais de La Paz, vendem-se documentos para carros, negociam-se veículos sem placas e documentação.
Nas manchetes, um escândalo envolvendo policiais e carros clonados. O comandante geral da polícia em La Paz foi exonerado do cargo na semana passada, suspeito de ser o dono de uma picape com placas idênticas a de outro carro da mesma marca.
O verdadeiro dono passava por uma rua próxima a uma delegacia quando percebeu a fraude. “Me surpreendi quando vi meu carro, o mesmo carro, com as mesmas características. Vi o crachá, vi "polícia", e falei olha, este carro é do seu chefe. Veja, diz aí: "polícia nacional”, fala o dono do carro clonado, Ditter Retamozo.
Policiais descobriram que só no Rio de Janeiro, o homem que alugou o carro que foi parar na Bolívia já aplicou este golpe 13 vezes.
Segundo o endereço deixado na locadora, Luís Roberto Teixeira mora em Campina Grande, na Paraíba. Será verdade? Ou mais uma história do dia da mentira?

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