20/12/2012 19h55 - Atualizado em 21/12/2012 08h29
Fraude em transferência de pontos da CNH é denunciada em São José
Valores que chegariam a até R$ 2 mil seriam pagos a delegado da Ciretran.
Detran garante que todas as denúncias serão apuradas rapidamente.
Uma denúncia feita por pessoas ligadas à Ciretran de São José dos Camposaponta um susposto esquema de pagamento de propina para apagar ou transferir multas a outros motoristas que não têm relação com os casos.
A reportagem do Jornal Vanguarda teve acesso a documentos que apontavam a suspeita de irregularidade e conversou com pessoas que pagaram valores que chegariam a até R$ 2 mil para desaparecer com pontos de multas.
Um motorista da prefeitura de São José diz que deu dinheiro para um despachante fazer a transferência. Os pontos dele foram parar no prontuário de Ivandra de Fátima, dona da empresa SOS Recursos de Multas e que teria envolvimento com o esquema da Ciretran. Até agosto deste ano, ela acumulava 360 pontos, de diferentes carros e datas. Na empresa, um atendente confirma que é possível zerar a habilitação em São José.
Por telefone, Ivandra afirma que todos os pontos que estão na CNH dela são de parentes. “Eu não tenho muita pontuação na minha carteira, infração com meu carro, infração com carro de pai, mãe, irmão, enfim, e eu tenho uma irmã que é permissionária e ela levou vários pontos e eu assumi”. Mas, as pessoas que levaram esses pontos dizem desconhecer Ivandra.
Um motorista do transporte alternativo confessou à reportagem que já pagou para limpar a carteira de habilitação. Os pontos da van dele foram parar na CNH de um caminhoneiro do Sul de Minas Gerais, Osmar Batista Carneiro, uma das vítimas da fraude. Por causa dessas multas, que ele afirma que nunca levou, teve a carteira suspensa.
“Tinham seis multas na minha habilitação, sendo multas de veículos diferentes. Multa gravíssima de cinto de segurança, de excesso de velocidade, de radar, de motoqueiro sem capacete, totalizando 43 pontos na minha carteira”, disse.
Um homem, que já trabalhou no ramo e que não quer se identificar, denuncia todo o esquema. “Casos impossíveis, solucionava do dia para noite. Tem casos que ele transfere para outra pessoa e depois vê o que acontece”, contou.
Outra vítima do esquema foi Eliel Gonçalves. Ele trabalhava como motorista de van, foi parado em uma blitz e descobriu que estava com a carteira suspensa por dirigir uma moto alcoolizado. Foram três anos para tentar provar que a multa não era dele. “Eu estive na corregedoria de São José dos Campos, eu fui para Mairiporã, falei com o delegado de Mairiporã, aonde minha habilitação estava cadastrada. O delegado disse que nós não colocamos a multa, quem colocou foi São José, São José tira. Eu corri de delegacia em delegacia e fiquei muito tempo sem habilitação. Até minha van foi apreendida”, disse.
A reportagem encontrou o homem que realmente levou a multa dirigindo a moto alcoolizado. Ele contou que chegou a ser condenado e cumpriu a pena por meio de serviços comunitários. Com relação a CNH, ele revelou que a patroa dele foi atrás do serviço irregular.
O caso de Eliel foi parar na Justiça. O delegado da Ciretran em São José dos Campos, Reinaldo Checa Júnior, admitiu que houve um erro em decorrência de uma falha humana ou violação da senha do delegado.
Em outro caso, todas as multas de uma única pessoa foram desbloqueadas, desapareceram do prontuário em apenas dois dias. O registro mostra que toda a operação foi feita com o código de acesso, que segundo o denunciante, é do delegado Reinaldo.
O homem que denuncia a fraude teria testemunhado a transferência de pontos. "A pessoa paga diretamente para ele, para ele poder repassar o valor e fazer a baixa da pontuação. Mas, era R$ 600 para o delegado e aí o despachante cobrava em cima. Às vezes, olhava para a cara do cliente R$ 1,5 mil, R$ 2 mil, dependendo da situação”.
Segundo o Detran, a senha do delegado da Ciretran tem poderes para apagar pontos aplicados pelo próprio Detran. Caso os pontos sejam aplicados por outro órgão, a senha tem poderes apenas para transferir a pontuação.
Outro lado
O delegado Reinaldo Checa Junior foi procurado para comentar as denúncias. Ele informou que há cerca de quatro meses teve a senha violada. Nesta oportunidade diversos pontos teriam sido transferidos. Ele alega que informou o Detran sobre esta situação. O delegado também solicitou que os casos apontados pela reportagem fossem enviados por e-mail. Ele não respondeu mais aos contatos.
Apuração
A reportagem levou essas denúncias ao delegado do Detran de São Paulo, Daniel Annenberg, que esteve recentemente em São José dos Campos, ele disse que todas as denúncias serão apuradas. “Nós vamos abrir procedimentos internos e externos, vamos passar isso pra nossa corregedoria e vamos tomar medidas rápidas para que a gente possa em cima do que aconteceu não volte acontecer. É muito importante deixar claro para o cidadão, que aquele cidadão que se envolve com alguma prática criminosa como essa, ele também pode ser denunciado. Isso tudo nós vamos apurar e vamos dar retorno pra sociedade o mais rápido possível”
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