Nossa Região
Jornal O VALE
December 28, 2012 - 02:05
O que fazer com os R$ 56 de aumento do salário mínimo?
A empregada doméstica Ivanete Marco queria aumento maior do salário mínimo. Foto: Thiago Leon
Para aposentados, empregados domésticos e economistas da RMVale, a resposta é: muito pouco; para eles, o salário mínimo de R$ 678 que entrará em vigor no próximo dia 1º quase não faz diferença no bolso
Vivian Zwaricz
São José dos Campos
A diferença de R$ 56 no valor do salário mínimo, anunciado em 24 de dezembro último pelo governo federal, não vai fazer muita diferença no bolso do assalariado da região.
O valor do mínimo vai passar de R$ 622 para R$ 678 a partir do próximo dia 1° de janeiro, o que significa um reajuste nominal de 9%. Diante de uma inflação estimada de 6,10% para o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), o aumento real será de 2,89%.
Com a diferença, porém, o cidadão vai poder fazer pouca coisa.
Dá para comprar, por exemplo, 2 pacotes de arroz agulhinha tipo A de R$ 10,90 cada e 1 de bolacha maisena 500 gramas por R$ 3,25, 2 quilos de açúcar por R$ 1,59 cada, 3 litros de leite --R$ 1,85 cada--, 1 quilo de contrafilé de R$ 15,80, 4 sabonetes de R$ 0,68 e duas pastas de dente de 90 gramas de R$ 1,75 cada (veja quadro nesta página).
“A diferença é muito pouca. Nem dá para sentir. Não dá para comprar quase nada no supermercado, que a cada dia está com produtos mais caros”, disse a empregada doméstica Ivanete dos Santos Marco, 48 anos.
Valor ideal. Para ela, que sustenta dois filhos, de 14 e 21 anos, o ideal seria que o salário mínimo atingisse R$ 1.000. Ivanete trabalha há 14 anos como doméstica.
“Minha filha está desempregada e todos dependem de mim. Claro que todo aumento é bem-vindo, mas R$ 56 é muito pouco.”
De acordo com o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o salário mínimo deveria ser de R$ 2.617,33. O valor foi calculado em novembro deste ano.
O Dieese faz a estimativa com base no preceito constitucional de que o mínimo deve ser suficiente para suprir os gastos do trabalhador e de sua família com alimentação, moradia, educação, vestuário, saúde, transportes, higiene, lazer e previdência social.
O mesmo Dieese divulgou ontem pesquisa mostrando que desde 2003, primeiro ano do primeiro mandato do presidente Lula (PT), o salário mínimo foi reajustado em 70,49%, descontada a inflação. Os dados revelam que em todos os anos desde então o reajuste do salário mínimo superou a inflação medida pelo INPC.
Reflexo. No caso da aposentada Maria Engracia dos Santos, 69 anos, R$ 56 não paga nem metade do gasto que ela tem com remédios, de R$ 150 por mês. “Não rende muito. Preciso pegar alguns medicamentos no posto de saúde e meu neto também me ajuda”, disse a aposentada.
Além da farmácia, Maria ainda arca com a compra da casa, que fica em média R$ 500 por mês --já com a mistura que ela faz questão de mensurar--, mais as contas de água e luz.
“Não sobra quase nada no fim do mês. A gente vai se virando”, afirmou ela.
Mesmo considerado baixo pela maioria das pessoas que sobrevive com um salário mínimo mensal, o reajuste pode ajudar a aposentada Maria Aparecida dos Santos Borsoe, 62 anos, a investir o valor em lazer. Para ela, R$ 800 seria um bom rendimento.
“O valor é baixo. Só quem recebe esse valor é quem sabe o quanto é difícil. Mas vou tentar guardar para o meu lazer”
Segundo ela, R$ 56 paga apenas dois frangos assados.
“E depois o dinheiro acaba, some”, disse a aposentada.
PONTO DE VISTA
‘Valor não reflete muito no poder de compra’, afirma economista
São José dos Campos
O salário mínimo é o menor salário que uma organização, de qualquer tipo, pode pagar a um funcionário. É estabelecido por lei e reavaliado anualmente.
“É interessante avaliar que o governo repassou o valor da inflação de 6,10% e o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 2010 de 2,7%, o crescimento real da economia. Geralmente, é repassado o valor do PIB do ano anterior”, disse Jair Capatti Júnior, diretor regional do Corecon (Conselho Regional de Economia) de São José.
Reposição. Segundo ele, é importante que o assalariado considere o valor da diferença de R$ 56 apenas como uma reposição. “É importante que todos percebam isso para que não saiam gastando além do que pode. O valor não reflete muito no poder de aquisição”.
Para o economista Roberto Koga, o ganho real é positivo.
“Tem uma repercussão positiva na economia porque traz um ganho real. Mas embora aparente valor satisfatório, tem que haver equilíbrio.”
O pagamento do salário mínimo é obrigatório a todo empregador que mantém funcionários com carga horária de 44 horas semanais e contrato formal de trabalho. Caso a carga horária seja superior, a empresa deverá pagar hora extra.
REGIÃO
Trabalhador ganha até três salários
Pesquisa divulgada neste ano pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revela que a maior parte da população economicamente ativa das três maiores cidades da RMVale --São José dos Campos, Taubaté e Jacareí-- vive com renda mensal de até três salários mínimos (R$ 1.866). O estudo tomou como base os dados do Censo de 2010.
São José dos Campos
A diferença de R$ 56 no valor do salário mínimo, anunciado em 24 de dezembro último pelo governo federal, não vai fazer muita diferença no bolso do assalariado da região.
O valor do mínimo vai passar de R$ 622 para R$ 678 a partir do próximo dia 1° de janeiro, o que significa um reajuste nominal de 9%. Diante de uma inflação estimada de 6,10% para o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), o aumento real será de 2,89%.
Com a diferença, porém, o cidadão vai poder fazer pouca coisa.
Dá para comprar, por exemplo, 2 pacotes de arroz agulhinha tipo A de R$ 10,90 cada e 1 de bolacha maisena 500 gramas por R$ 3,25, 2 quilos de açúcar por R$ 1,59 cada, 3 litros de leite --R$ 1,85 cada--, 1 quilo de contrafilé de R$ 15,80, 4 sabonetes de R$ 0,68 e duas pastas de dente de 90 gramas de R$ 1,75 cada (veja quadro nesta página).
“A diferença é muito pouca. Nem dá para sentir. Não dá para comprar quase nada no supermercado, que a cada dia está com produtos mais caros”, disse a empregada doméstica Ivanete dos Santos Marco, 48 anos.
Valor ideal. Para ela, que sustenta dois filhos, de 14 e 21 anos, o ideal seria que o salário mínimo atingisse R$ 1.000. Ivanete trabalha há 14 anos como doméstica.
“Minha filha está desempregada e todos dependem de mim. Claro que todo aumento é bem-vindo, mas R$ 56 é muito pouco.”
De acordo com o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o salário mínimo deveria ser de R$ 2.617,33. O valor foi calculado em novembro deste ano.
O Dieese faz a estimativa com base no preceito constitucional de que o mínimo deve ser suficiente para suprir os gastos do trabalhador e de sua família com alimentação, moradia, educação, vestuário, saúde, transportes, higiene, lazer e previdência social.
O mesmo Dieese divulgou ontem pesquisa mostrando que desde 2003, primeiro ano do primeiro mandato do presidente Lula (PT), o salário mínimo foi reajustado em 70,49%, descontada a inflação. Os dados revelam que em todos os anos desde então o reajuste do salário mínimo superou a inflação medida pelo INPC.
Reflexo. No caso da aposentada Maria Engracia dos Santos, 69 anos, R$ 56 não paga nem metade do gasto que ela tem com remédios, de R$ 150 por mês. “Não rende muito. Preciso pegar alguns medicamentos no posto de saúde e meu neto também me ajuda”, disse a aposentada.
Além da farmácia, Maria ainda arca com a compra da casa, que fica em média R$ 500 por mês --já com a mistura que ela faz questão de mensurar--, mais as contas de água e luz.
“Não sobra quase nada no fim do mês. A gente vai se virando”, afirmou ela.
Mesmo considerado baixo pela maioria das pessoas que sobrevive com um salário mínimo mensal, o reajuste pode ajudar a aposentada Maria Aparecida dos Santos Borsoe, 62 anos, a investir o valor em lazer. Para ela, R$ 800 seria um bom rendimento.
“O valor é baixo. Só quem recebe esse valor é quem sabe o quanto é difícil. Mas vou tentar guardar para o meu lazer”
Segundo ela, R$ 56 paga apenas dois frangos assados.
“E depois o dinheiro acaba, some”, disse a aposentada.
PONTO DE VISTA
‘Valor não reflete muito no poder de compra’, afirma economista
São José dos Campos
O salário mínimo é o menor salário que uma organização, de qualquer tipo, pode pagar a um funcionário. É estabelecido por lei e reavaliado anualmente.
“É interessante avaliar que o governo repassou o valor da inflação de 6,10% e o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 2010 de 2,7%, o crescimento real da economia. Geralmente, é repassado o valor do PIB do ano anterior”, disse Jair Capatti Júnior, diretor regional do Corecon (Conselho Regional de Economia) de São José.
Reposição. Segundo ele, é importante que o assalariado considere o valor da diferença de R$ 56 apenas como uma reposição. “É importante que todos percebam isso para que não saiam gastando além do que pode. O valor não reflete muito no poder de aquisição”.
Para o economista Roberto Koga, o ganho real é positivo.
“Tem uma repercussão positiva na economia porque traz um ganho real. Mas embora aparente valor satisfatório, tem que haver equilíbrio.”
O pagamento do salário mínimo é obrigatório a todo empregador que mantém funcionários com carga horária de 44 horas semanais e contrato formal de trabalho. Caso a carga horária seja superior, a empresa deverá pagar hora extra.
REGIÃO
Trabalhador ganha até três salários
Pesquisa divulgada neste ano pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revela que a maior parte da população economicamente ativa das três maiores cidades da RMVale --São José dos Campos, Taubaté e Jacareí-- vive com renda mensal de até três salários mínimos (R$ 1.866). O estudo tomou como base os dados do Censo de 2010.