Novos testes para a depressão
A doença que afeta 17 milhões de brasileiros poderá ser detectada por exames de sangue e de imagens cerebrais e não mais apenas por avaliação dos sintomas feita pelo psiquiatra. Esses recursos também permitirão um melhor tratamento
Mônica Tarantino
Cerca de 17 milhões de brasileiros sofrem de depressão. Em face da gravidade do problema, a ciência procura formas de superar os obstáculos ao seu controle. Os dois principais são a dificuldade de obter um diagnóstico preciso – hoje, ele é realizado basicamente pela avaliação dos sintomas feita pelo psiquiatra – e as limitações para melhorar a resposta de cada paciente aos antidepressivos. A estimativa é de que apenas 30% dos indivíduos melhorem com a primeira opção indicada.
MARCADORES
Zanetti, da USP, estuda a aplicação de exames de imagem
para rastrear alterações cerebrais associadas à doença
Em relação a soluções para este último problema, a novidade é a chegada de exames capazes de apontar de que maneira um paciente responderá ao remédio. Começou a ser usado no Brasil, por exemplo, o teste MD Metal. A partir de uma amostra de saliva, ele analisa o DNA para identificar variações em genes ligados ao metabolismo e a eficácia de medicamentos psiquiátricos. “Ajuda o médico a prever a resposta a mais de 40 antidepressivos, estabilizadores de humor e antipsicóticos”, diz o patologista Hélio Torres Filho, diretor do Laboratório Richet, no Rio de Janeiro, que oferece o teste há um mês.
No Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, pacientes que apresentam dificuldade na adaptação ao tratamento podem ser submetidos a um teste que analisa alterações genéticas associadas ao ritmo de absorção dos remédios. “Estudos mostram que 20% das pessoas os metabolizam mais rápido ou mais lentamente, o que interfere no sucesso do tratamento”, explica o psiquiatra Marcus Zanetti, do Laboratório de Neuroimagem da USP. Esse tipo de investigação poderá ser feito também por exames de imagem. Recentemente, a neurologista Helen Mayberg, da Universidade Emory (EUA), identificou padrões cerebrais diferentes que predizem melhor aceitação à terapia ou aos remédios: pessoas com atividade maior na região da ínsula direita do cérebro, área ligada às emoções, se dão melhor com antidepressivos do que com terapia. Menor atividade metabólica na região indica os que se saem melhor com terapia. “São pesquisas promissoras. Atualmente essa escolha é feita com base nos sintomas, mas é comum trocar o remédio porque não surtiu efeito”, diz o psiquiatra Eduardo Nogueira, da PUC/RS, onde estão em andamento experimentos para aprimorar o diagnóstico e o tratamento da doença.
No que diz respeito ao diagnóstico, os cientistas estão à procura de indicadores – substâncias no sangue ou alterações cerebrais associadas à doença. “Queremos definir marcadores equivalentes aos que os cardiologistas identificaram no sistema circulatório para o risco de doenças cardiovasculares”, disse à ISTOÉ o pesquisador Peter Williamson, da Universidade Western (Canadá).
No que diz respeito ao diagnóstico, os cientistas estão à procura de indicadores – substâncias no sangue ou alterações cerebrais associadas à doença. “Queremos definir marcadores equivalentes aos que os cardiologistas identificaram no sistema circulatório para o risco de doenças cardiovasculares”, disse à ISTOÉ o pesquisador Peter Williamson, da Universidade Western (Canadá).
PESQUISA
Nogueira, do Instituto do Cérebro da PUC/RS, avalia pacientes em
busca de biomarcadores que ajudem a definir o melhor tratamento
Algumas informações já foram obtidas e originaram algumas possibilidades de testes. Já se sabe, por exemplo, que os pacientes costumam apresentar menor fluxo sanguíneo em determinados pontos do cérebro. Um teste de imagem cerebral que registra a ação e que pode ser adotado é o PET. Outro instrumento possível é medir as ondas cerebrais por meio de eletroencefalograma (80% dos pacientes tendem a ter padrões anormais durante o sono). Na área de compostos químicos identificados em exames de sangue, há, entre outros, a medição de uma substância (5-HIAA) associada à doença e o chamado teste de supressão de dexametasona. Este último ajuda a diferenciar o diagnóstico de depressão do de esquizofrenia.
Na PUC/RS, o neurorradiologista Ricardo Soder irá explorar o potencial da ressonância magnética funcional aplicada a doentes com transtornos como a depressão. Ele procura alterações na forma como as áreas do cérebro se conectam para trabalhar em conjunto. “As imagens são comparadas às de pessoas sem as doenças. O objetivo é encontrar um teste para ajudar no diagnóstico”, diz.
Outro campo explorado é achar marcadores capazes de revelar a predisposição à enfermidade. Na Universidade Johns Hopkins (EUA), cientistas anunciaram um possível marcador para identificar gestantes com maior risco de depressão pós-parto. “São dois genes que se mostram alterados em mulheres que tiveram depressão pós-parto”, explicou à ISTOÉ Zachary Kaminsky, autor do estudo. O pesquisador acredita que a detecção das alterações químicas associadas à ação desses genes poderia antecipar com 85% de acerto o risco dessa modalidade da doença.
Fotos: Rogério Cassimiro; Marcos Nagelstein
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