Banco Itaú demite em massa e reduz crédito, mas lucros estão em alta
30/7/2013 12:52
Por Redação - de São Paulo
Por Redação - de São Paulo
O Itaú Unibanco, maior banco privado do Brasil, teve lucro maior no segundo trimestre, com aumento de empréstimos e redução na inadimplência, mas cortou projeção para o crescimento da carteira de crédito deste ano. O banco divulgou nesta terça-feira lucro líquido de R$ 3,583 bilhões para o segundo trimestre, alta anual de 8,4%. Em bases recorrentes, o lucro do Itaú Unibanco foi de R$ 3,622 bilhões, alinhado com as previsões dos analistas consultados pela agência inglesa de notíciasReuters.
Embora o resultado tenha melhorado, o cenário mais desafiador da economia levou o banco a revisar para baixo sua previsão para o crescimento da carteira de crédito, seguindo os passos do rival Bradesco. A previsão de crescimento da carteira de crédito do Itaú para 2013, que estava situada entre 11 e 14%, passou para 8 a 11%. O banco manteve suas outras estimativas como crescimento de 15% a 18% nas receitas com prestação de serviços e resultado com seguros, previdência e capitalização e despesas com provisões para perdas com empréstimos de R$ 19 a R$ 22 bilhões.
No segundo trimestre, a carteira de empréstimos do Itaú Unibanco terminou em R$ 445,11 bilhões, contra R$ 413,4 bilhões no ano anterior, alta de 7,6%. A inadimplência acima de 90 dias foi de 4,2% no trimestre, abaixo do índice de 5,2% registrado um ano antes. As despesas com provisões recuaram 20% no período, para R$ 4,9 bilhões.
Apesar do avanço do crédito e do recuo da inadimplência, o resultado foi afetado negativamente por piores resultados com as operações de tesouraria, que passaram de R$ 1,128 bilhão no segundo trimestre de 2012 para R$ 268 milhões no segundo trimestre deste ano, queda de 76,2%. A margem financeira com clientes também recuou na comparação anual e somou R$ 11,305 bilhões, queda de 8,8%. O spread de crédito líquido, que é a diferença entre os custos de captação e de empréstimo do banco menos os gastos com provisões para calotes, foi de 7,2% no segundo trimestre deste ano, ante 7,4% um ano antes.
Numa estratégia seguida pelos bancos do país de focar em produtos de menores riscos, porém de menor rentabilidade, o Itaú Unibanco tem feito esforços para aumentar as receitas com prestação de serviços. No segundo trimestre, esta linha avançou 24,4% ante o ano anterior, para R$ 5,399 bilhões, impulsionada pela aquisição das ações dos minoritários da empresa de cartões Redecard ao final de 2012. Segundo o Itaú Unibanco, desconsiderando esse efeito, o crescimento seria de 11,1%.
Demissões em massa
Enquanto celebram o aumento nos juros, os donos da maior banca rentista do país ampliam o arrocho nas vagas para emprego nas suas agências, em todo o país. O Itaú Unibanco demitiu milhares de trabalhadores nos últimos doze meses. A situação se agravou a partir de janeiro deste ano. Somente no Rio de Janeiro, no período de um ano, cerca de 600 bancários foram mandados embora.
“A política desumana do banco criou nas agências e nos departamentos um clima de verdadeiro inferno. Os funcionários estão sobrecarregados e com medo de serem os próximos a perder o emprego. Os clientes também têm sofrido com a piora no atendimento por conta das dispensas. E tudo isto é feito sem a menor necessidade, já que o banco está expandindo seus negócios por vários outros países, teve no ano passado o maior lucro já alcançado por uma instituição financeira em toda a América Latina (R$13,3 bilhões) e bateu novo recorde no primeiro trimestre deste ano, obtendo o maior lucro entre os bancos no Brasil: R$3,53 bilhões de lucro no período”, afirma, em artigo, o Sindicato dos Bancários.
“O corte tem dois objetivos cruéis. Um deles é reduzir custos a qualquer preço. O outro é criar deliberada e covardemente um clima de terror, um verdadeiro assédio moral coletivo, para manter os funcionários sob pressão, e assim obrigá-los a aumentar ainda mais seu ritmo de trabalho e a venda de produtos. Ambos para engordar ainda mais os resultados bilionários que o banco vem alcançando”, completa.
Mas o Itaú não está sozinho na estratégia de reduzir o número de empregos para ver o lucro aumentar. Os bancos privados que operam no país fecharam quase 5 mil postos de trabalho no primeiro semestre de 2013, andando na contramão da economia brasileira, que gerou 826.168 novos empregos de janeiro a junho. Além disso, a rotatividade continua alta no sistema financeiro, mecanismo que os bancos usam para reduzir custos. Esses são os principais resultados da 18ª Pesquisa de Emprego Bancário (PEB), divulgada pela Contraf-CUT, que faz o estudo em parceria com o Dieese com base nos dados dos Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged), do Ministério do Trabalho.
– Mesmo aumentando os lucros e mantendo a mais alta rentabilidade do sistema financeiro internacional, os bancos brasileiros, principalmente os privados, continuam demitindo trabalhadores e empregando a rotatividade para reduzir os salários dos trabalhadores – critica Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT, ao jornal interno da instituição.
Segundo o Caged, os bancos brasileiros contrataram 20.230 bancários no primeiro semestre e desligaram 22.187. No total do sistema financeiro, foram fechados 1.957 postos de trabalho. O Caged não discrimina a evolução do emprego por empresa; apenas por setor. Mas como a Caixa Econômica Federal é a única instituição do seu segmento, sabe-se que ela apresentou um saldo positivo de 2.804 empregos no primeiro semestre. E como o Banco do Brasil manteve o quadro de funcionários estável, fica evidente que os cortes nos postos de trabalho se concentram nos bancos privados.
Rotatividade
A pesquisa Contraf-CUT/Dieese mostra que o salário médio dos admitidos pelos bancos no primeiro semestre foi de R$ 2.896,07, contra salário médio de R$ 4.523,65 dos afastados. Ou seja, os trabalhadores que entram no sistema financeiro recebem remuneração 36% inferior à dos que saem.
– Isso explica por que, embora com muita mobilização os bancários tenham conquistado 16,2% de aumento real no salário e 35,6% de ganho real no piso salarial desde 2004, a média salarial da categoria diminuiu neste período. Esse é o mais perverso mecanismo de concentração de renda, num país que faz um grande esforço para se tornar menos injusto”, denuncia Carlos Cordeiro.
Nesse panorama, as mulheres são as maiores prejudicadas. Apesar de constituírem hoje praticamente a metade da categoria bancária e de terem nível de escolaridade superior ao dos homens, a pesquisa Contraf-CUT/Dieese mostra que as mulheres continuam sendo discriminadas no sistema financeiro. Quando são contratadas, as mulheres recebem salário médio de R$ 2.479,92, ou 25% a menos que os homens (R$ 3.290,43). E quando são desligadas, o salário médio das bancárias é 30% inferior ao dos bancários homens (R$ 3.713,43 contra R$ 5.314,74).
– A pesquisa mostra por que os bancários definiram a defesa do emprego como uma das principais bandeiras da campanha nacional deste ano. O setor que mais lucra na economia não pode continuar fechando postos de trabalho e concentrando renda da forma escancarada como faz hoje – afirma o presidente da Contraf-CUT.
Os 10% mais ricos no país, segundo estudo do Dieese com base no Censo de 2010, têm renda média mensal 39 vezes maior que a dos 10% mais pobres. Ou seja, um brasileiro que está na faixa mais pobre da população teria que reunir tudo o que ganha durante 3,3 anos para chegar à renda média mensal de um integrante do grupo mais rico.
No sistema financeiro a concentração de renda é ainda maior. No Banco Itaú, por exemplo, os executivos da Diretoria recebem em média R$ 9,05 milhões por ano, o que representa 234,27 vezes o que ganha o bancário do piso. No Santander, os diretores embolsam R$ 5,6 milhões, o que significa 145,64 vezes o salário do caixa. E no Bradesco, que paga R$ 5 milhões anuais a seus executivos, a diferença é de 129,57 vezes. Ou seja, para ganhar a remuneração mensal de um executivo, o Caixa do Itaú tem que trabalhar 16 anos e o caixa do Bradesco 9 anos.
– A sociedade brasileira mostrou nas recentes manifestações de rua que quer mudança e certamente está de olho na prática dos bancos, de juros e tarifas escorchantes. Queremos transformar o crescimento em desenvolvimento econômico e social. Isso passa por melhoria de salário e mais emprego, o contrário do que os bancos estão fazendo – comenta Carlos Cordeiro.
O Comando Nacional dos Bancários entregou à Fenaban, nesta terça-feira, a pauta de reivindicações da campanha nacional de 2013 aprovada na 15ª Conferência Nacional, realizada em São Paulo no último fim de semana.
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