Um Zeca incomoda muito mais
17:55, 2 DE SETEMBRO DE 2011 MARCELO ROCHA CONGRESSO TAGS: OSMAR SERRAGLIO, PARANÁ, PMDB, PT, ZECA DIRCEU
O deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR) tem 33 anos e exerce seu primeiro mandato. Filho do ex-ministro José Dirceu, Zeca chegou à Câmara depois de cinco anos como prefetio de Cruzeiro D`Oeste, município paranaense com pouco mais de 20 mil habitantes. Em geral, estreantes como Zeca demoram a se destacar na Câmara. Mas Zeca é uma exceção. Ele circula com desenvoltura incomum para quem passou a viver há pouco a rotina de parlamentar em Brasília. Há duas semanas, Zeca causou celeuma ao levar uma comitiva de prefeitos do interior do Paraná a audiências em oito ministérios e na Fundação Nacional de Saúde (Funasa), em dois dias de visita a Brasília. Zeca faz questão de registrar todos esses feitos em sua página na internet.O desempenho de Zeca Dirceu, no entanto, virou alvo de denúncia no Congresso. Parlamentares do Paraná, incluindo integrantes da base governista, acusam o colega de se apropriar do trabalho alheio para colher dividendos políticos. ÉPOCA teve acesso a uma carta enviada pelo vice-líder do governo Osmar Serraglio (PMDB) para a coordenação da bancada paranaense. No texto, Serraglio cita exemplos ocorridos em Umuarama, cidade onde mora e tem seu maior eleitorado. Serraglio afirma que obteve a liberação de verba federal para a construção do Centro de Eventos de Umuarama. Mas não teve tempo de divulgar o feito. “O deputado Zeca Dirceu foi ao ministro do Turismo, divulgou a fotografia e noticiou nos jornais que, finalmente, por sua intervenção, a obra estava sendo executada”, diz Serraglio no texto.
Em outra ocasião, Serraglio diz que teria sido convidado pelo prefeito para a inauguração de um posto de saúde. A verba para a construção foi obtida por ele há dois anos. Segundo Serraglio, Zeca compareceu à solenidade e fez discurso. Há dois anos, quando o dinheiro para a obra foi liberado, Zeca não era deputado: era prefeito de Cruzeiro D`Oeste. Em outro episódio, Serraglio afirma que em 2007 submeteu à bancada do Paraná um pedido de R$ 8 milhões para o Hospital do Câncer de Umuarama. No ano passado a bancada teria apresentado emenda de R$ 5 milhões a orçamento da União e o próprio Serraglio fez uma emenda individual de mais R$ 1 milhão. Na semana passada, em audiência com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e com os deputados Alex Canziani (PTB) e Nelson Meurer (PP), Serraglio pediu a liberação do dinheiro. Serraglio diz ter divulgado a audiência. Segundo Serraglio, em seguida Zeca convocou o diretor do hospital a Brasília. Zeca gravou mensagem em que ele e o diretor do hospital afirmam que os recursos para o hospital só serão liberados graças à sua intervenção.
Esses episódios motivam a raiva entre os políticos. Para os deputados, fazer com que os cidadãos saibam que eles foram responsáveis por determinado benefício é fundamental para obter votos. Osmar Serraglio e Zeca Dirceu têm problemas porque disputam votos na mesma região. Mas há queixas sobre a suposta conduta de Zeca em outras regiões do Paraná. “Esse cidadão (Zeca) intervém até em municípios onde não tem base eleitoral”, afirma o deputado Moacir Micheletto (PMDB). “Nós vamos levar, sim, esse assunto para a bancada do Paraná.” O deputado Dilceu Sperafico (PP) também defende a discussão do assunto pela bancada. “O deputado (Zeca Dirceu) busca fazer parecer que todo trabalho que existe no Paraná seja dele. Ele procura trazer para si todo o mérito de todas as coisas que acontecem no governo federal.”
Em entrevista a ÉPOCA, Zeca Dirceu evitou o confronto, apesar das acusações a ele endereçadas. Zeca defendeu o “espírito de cooperação” entre os integrantes da bancada paranaense no Congresso Nacional e elogiou o colega Osmar Serraglio. “Serraglio é vice-líder do governo e tem importante atuação nos interesses do Paraná”, diz. A pedido de Zeca, prefeitos aliados enviaram à assessoria do parlamentar notas em sua defesa.
Reclamações sobre a conduta competitiva de Zeca não são novas. Na Justiça Federal, em Brasília, Zeca aparece como denunciado num processo que apura tráfico de influência e outras irregularidades na liberação de verbas públicas para a região de Cruzeiro D`Oeste. As supostas irregularidades ocorreram quando Zeca disputava a prefeitura em 2004. Zeca teria sido beneficiado pela liberação de verbas federais quando seu pai era ministro da Casa Civil. Ele, o pai e o então assessor Waldomiro Diniz estão entre os denunciados. Como prefeito de Cruzeiro D`Oeste, Zeca era conhecido na região por levar colegas prefeitos a Brasília para audiências em ministérios. Desse ponto de vista, as habilidades de Zeca são as mesmas.
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