Coluna do
Ricardo Setti
28/08/2011
às 16:09 \ Política & CiaO incrível caso do presidiário que, de uma cela no Ceará, vende dinamite para quem quiser, no país todo
Amigos, está quentíssima a coluna que o jornalista Carlos Brickmannpublica hoje, domingo, em 5 jornais. Como de hábito aos domingos, reproduzo notas da coluna. Hoje, são 3 notas. Não percam.
Tá tudo dominado
De onde sai a dinamite para explodir caixas eletrônicos? O excelente repórter Agostinho Teixeira, da Rádio Bandeirantes de São Paulo, identificou um dos caminhos: o presidiário conhecido como Bruno .50, que por celular comanda os negócios de uma cela na Casa de Custódia de Itaitinga, no Ceará. Ele envia dinamite tranquilamente para todo o país, por 3.000 reais a caixa com 400 bananas, e pagamento contra a entrega.
O responsável pelos presídios do Ceará só se lamentou: não consegue evitar a entrega de celulares nas cadeias, nem seu uso. Tentou uma empresa chinesa para bloquear os sinais, não deu certo.
Traduzindo, o tal Bruno .50- nome alusivo a um calibre de metralhadora antiaérea – está no melhor dos mundos: tem casa, comida, roupa lavada, tudo por conta do governo; vive em segurança, protegido por nós de clientes que queiram eliminá-lo, sabe-se lá por que motivo; fatura seu dinheirinho sem despesas de infraestrutura. Talvez nem pague a conta do celular.
E quem deveria coibir suas atividades limita-se às reclamações. Mas, puxa, se o responsável não consegue, por um ou outro motivo, cumprir suas tarefas, que se afaste e deixe o lugar para outro. Só que demitir-se não ocorre a Sua Excelência.
Será tão difícil assim controlar as atividades dos presos? Os presídios americanos nada têm a nos ensinar? Como é que se carrega uma bateria de celular, se não há tomada nas celas? Ah, sim: pode-se ameaçar a família dos carcereiros, se eles não cumprirem determinadas tarefas. Em outros países, pelo menos nos mais desenvolvidos, as coisas não acontecem assim.
É que ali não está tudo dominado.
Por trás da notícia: Sarney e os supersalários
Muita gente estranhou a manutenção de salários superiores ao teto constitucional no Senado: os supersalários tinham sido reduzidos pela Justiça, por decisão da 9ª Vara Federal de Brasília, e quem recorreu para mantê-los foi o próprio Senado, que paga a conta – com o nosso dinheiro.
Mas por que o Senado recorreu?
Simples: porque o presidente do Senado, José Sarney, PMDB do Amapá, é dono de um supersalário dos mais invejáveis. O teto de quem recebe do Tesouro, pela Constituição, tudo somado, é de 26.700 reais mensais – salário de ministro do Supremo Tribunal Federal.
Sarney, porém, recebe 62.284,11 reais por mês, segundo o ótimo portal Congresso em Foco. É mais que o dobro do que a Constituição permite – sem contar que, no Senado, fora mordomias, ganha 15 salários por ano.
O estupro num quartel do Exército e o silêncio oficial
Um soldado de 19 anos foi estuprado por quatro companheiros, no banheiro de um quartel do Exército em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Ferido, o rapaz foi levado em sigilo para um hospital militar, onde ficou 8 dias. Só no quinto dia a família foi informada da hospitalização, com uma história mal contada: disseram que o rapaz “sofreu um mal súbito”, “numa atividade interna do quartel”.
Um sargento denunciou o caso; a investigação corre sob sigilo. O caso aconteceu em 19 de maio e até agora a única repreensão foi feita à mãe da vítima, ameaçada de prisão “por insubordinação contra as autoridades militares”. A subversiva queria obter informações confiáveis sobre a saúde do filho. O rapaz violentado também sofreu ameaça: “Tu vai se ferrar”, disse-lhe um soldado.
O caso foi levantado pelo jornalista Igor Natusch, do portal Sul21, de Porto Alegre – guardem seu nome, porque o trabalho que realiza é impecável. E as autoridades?
A ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, declarou-se chocada — e chocada deve estar até agora, porque não se sabe de qualquer providência que tenha tomado. O então ministro da Defesa, Nelson Jobim, silenciou. O novo ministro da Defesa, Celso Amorim, também guarda diplomático silêncio. A presidente Dilma, cuja carreira se fez no Rio Grande do Sul, nada falou.
O rapaz violentado ainda vai acabar levando a culpa.
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