quinta-feira, 23 de maio de 2013

CÂNCER DE PRÓSTATA E O ATENDIMENTO SEM VERGONHA NO BRASIL


23/05/2013 06h30 - Atualizado em 23/05/2013 06h30

'É uma guerra', diz idoso que esperou 11 meses para tratar câncer no RS

Adão Monteiro foi diagnosticado com câncer de próstata em 2011.
Lei fixa em 60 dias o tempo máximo para o início do tratamento.

Tanise SchererDo G1 RS
Adão Monteiro vive em Canoas (Foto: Tanise Scherer/G1)Adão Monteiro vive em Canoas e realiza tratamento em Porto Alegre (Foto: Tanise Scherer/G1)
Já abalado com a descoberta de um câncer de próstata em novembro de 2011, o aposentado Adão Monteiro, 66 anos, teve de conviver com a angústia da espera por atendimento. Foram mais de 11 meses desde o diagnóstico até a primeira sessão de radioterapia para tratar a doença no Hospital Santa Rita, do Complexo Hospitalar da Santa Casa, em Porto Alegre. O idoso é um dos casos que seriam beneficiados pela regulamentação da lei que fixa em 60 dias o tempo máximo para o início do tratamento de câncer a partir do diagnóstico da doença.
Não é nem luta, é uma guerra"
Adão Monteiro, sobre tratamento
“Quando descobri o câncer, fiquei apavorado. Pensei: 'será que vou morrer?'. Aí começou a minha luta para conseguir ser tratado”, conta ao G1 Adão, que vive em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, e fez tratamento na capital.
A ajuda só veio depois que sua mulher, Regiane Alves Monteiro, conversou com um vereador, que fez o caso ser encaminhado para o hospital. “Não é nem luta, é uma guerra. A família toda entrou na guerra. Todo dia alguém ligava para o hospital ou para o posto de saúde”, recorda Regiane. “Foi demorado. Se não conhecer ninguém influente, a pessoa morre”, desabafa.
Adão Monteiro mostra documentação (Foto: Tanise Scherer/G1)Adão Monteiro mostra documentos e diz que terá de refazer os exames (Foto: Tanise Scherer/G1)
Outra dificuldade enfrentada foi com o medicamento que necessita tomar por via oral. Monteiro precisou entrar na Justiça para ganhá-lo, já que não tinha dinheiro para comprar. “Preciso deste medicamento para eu ter uma vida normal”, revela.
Adão Monteiro começou as sessões de radioterapia no dia 20 de agosto de 2012. Todos os dias precisava ir da sua casa, em Canoas, até o Centro de Porto Alegre, onde fica o hospital. Devido a um AVC sofrido há cerca de sete anos, tem dificuldade para caminhar. Por isso, precisava de transporte do SUS para chegar até o local de tratamento. “Foi outra luta. Às vezes, eu perdia o transporte, se o tratamento demorava, e tinha de voltar para casa de ônibus. Era terrível."
Adão Monteiro esperou 11 meses por tratamento de um câncer (Foto: Tanise Scherer/G1)Adão Monteiro esperou 11 meses por tratamento
de um câncer (Foto: Tanise Scherer/G1)
Foram 37 sessões de radioterapia, sendo a última em novembro do ano passado. Agora ele espera um exame que fará em junho para saber se precisará ou não fazer quimioterapia. “A pessoa passa a vida toda trabalhando. Quando se aposenta tem de passar por uma situação dessas. Não tenho palavras”, desabafa. Mesmo com as dificuldades, Monteiro é otimista sobre o futuro. “Espero viver a minha vida com os meus netos da melhor maneira possível. A gente sabe que vai morrer um dia, mas não quer que seja em cima de uma cama doente.”
Hospital diz que prazo de 60 dias já é cumprido
Segundo a direção do Hospital Santa Rita, que faz parte da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, o tratamento em pacientes com câncer já é iniciado em menos de 60 dias a partir da data da primeira consulta no local. Entretanto, o diretor médico do hospital, Ricardo Kroef, explica que o problema está na demora entre o momento do diagnóstico da doença nos postos de saúde e o encaminhamento ao hospital que irá tratar o paciente.
“O que a gente tem certeza é que quando o paciente diagnosticado com câncer chegar, ele terá tratamento. Existe uma estruturação para dar prioridade ao paciente diagnosticado com câncer. Mas eu não sei quanto tempo vai levar da biopsia até ele chegar aqui”, diz Kroef.
O médico explica que a primeira consulta no hospital para pacientes diagnosticados com câncer é marcada pela Secretaria de Saúde de Porto Alegre. Por isso, defende que vai ser importante a regulação do elo entre o diagnóstico e o sistema de marcação de consultas. “O Santa Rita recebe muitos pacientes de fora da capital. É necessário um esforço para que haja mais espaço nas agendas. É preciso melhorar a qualidade da regulação entre as secretarias municipais do interior e o hospital. Essa regulação é feita pela cidade de Porto Alegre”, afirma.
De acordo com a Secretaria da Saúde da Prefeitura de Porto Alegre, a Central de Consultas do município, que faz a primeira marcação de consulta no hospital da capital onde será realizado o tratamento, funciona bem e o paciente começa a ser tratado em menos de 30 dias. Segundo eles, não há fila de oncologia e todos os dados são informatizados.
Lei
Os detalhes da regulamentação da lei que fixa um tempo máximo para o início do tratamento a partir do diagnóstico da doença foram anunciados na última quinta-feira (16). A partir de agora, os gestores de saúde nos estados e municípios deverão inscrever os dados clínicos do paciente diagnosticado com câncer em um sistema. A partir daí, será possível avaliar se o tratamento da doença se iniciou em no máximo 60 dias, como exige a Lei 12.732, aprovada no fim de 2012. Caso a regra não seja cumprida, o Ministério da Saúde poderá impedir repasses que faz para atendimento oncológico. Outra medida adotada pela pasta para garantir o cumprimento da lei foi a criação da Comissão de Monitoramento e Avaliação, que será responsável por acompanhar a execução dos planos regionais de oncologia.

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