terça-feira, 10 de abril de 2012

TENENTE-CORONEL KATAYAMA E CACHOEIRA


“Cachoeira era meu informante”

Tenente-coronel Katayama, indiciado pela Operação Monte Carlo.
VANDRÉ ABREU
Em 10/04/2012, 01:40
O tenente-coronel Massatoshi Sérgio Katayama, de 44 anos, tinha o sonho de ser comandante-geral da Polícia Militar de Goiás. “São 26 anos de PM, nunca tirei licença e nem férias de 30 dias, trabalhei pela segurança pública e meu nome se perdeu em um dia”, relata. O dia foi 29 de fevereiro último, quando a Polícia Federal de Brasília e o Ministério Público Federal de Goiás deflagraram a Operação Monte Carlo, responsável por investigar uma quadrilha que explorava jogos ilegais em Goiás. Foram 81 denunciados e Katayama está entre eles.
O tenente-coronel Katayama é acusado de “repassar informações sigilosas e relevantes sobre as operações policiais, mediante o pagamento regular de propina”, sendo um dos “policiais com os quais a organização criminosa mantinha uma relação muito aproximada”. Segundo o inquérito, as denúncias procedem pela grande quantidade de ligações entre os envolvidos e Katayama, especialmente com Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, que seria o líder do grupo contraventor.

Katayama confirma as ligações com Cachoeira, mas nega ter repassado informações “sigilosas e relevantes” ao contraventor. “Cachoeira era muito mais informante meu do que eu dele. Era ele quem me passava informações de operações policiais, mudanças e um monte de coisa. Eu nunca passei nada de sigiloso para o Cachoeira”, revela o tenente-coronel, que perdeu o cargo de comandante do Policiamento da Capital (CPC) e foi afastado do trabalho.

Na edição de O HOJE do último domingo (8), na matéria “Cachoeira arrumou segurança para Delta” há a informação de que Cachoeira, por meio de alguém denominado Ananias, usou influência para conseguir, com Katayama, uma viatura da PM para realizar a segurança da empresa Delta Construções em Aparecida de Goiânia. O pedido teria sido feito por Thiago, um engenheiro da Delta. Sobre o assunto, Katayama alega que fez o seu serviço de policial ao conceder segurança a um cidadão que “parece que corria até risco de morte lá”.

O tenente-coronel releva o fato de se tratar da Delta: “Uma das maiores do País não pode ser menosprezada e se tratava da vida de um cidadão, independente de onde ele trabalha”. “A Delta faz muitos serviços com a gente, como locação de carros, veículos pesados e outros. Existe uma relação.” Katayama afirma que qualquer cidadão que ligar a ele com pedido de segurança, ele iria encaminhar e tentar resolver, independente de “ser do Cachoeira ou não”.
Chefe
Uma das razões de se incriminar o tenente-coronel é o modo como ele tratava Carlinhos Cachoeira, ao chamá-lo de “chefe” durante as ligações. Segundo o policial militar, o substantivo era usado comumente, com diversas pessoas. “Chamo todo mundo assim e também de professor, doutor, mestre e até de presidente sem ser. É só uma maneira de chamar e tratar bem qualquer pessoa, até para ele me informar das operações, como fazia, e eu pegar policiais criminosos.”

Katayama alega que sua relação com Cachoeira é apenas essa e nega que tenha recebido propina do grupo contraventor. “Podem olhar minhas contas, nunca recebi nada que não fosse meu, nunca pedi nada a ninguém, a nenhum empresário. Sempre trabalhei honestamente. Colocaram meu nome nessa a troco de nada, porque não recebi nada”, alega. No entanto, ele não culpa ninguém por seu envolvimento: “Existe o problema e eu tenho que resolver, não tenho a quem culpar”.

Perguntado se sabia das atividades ilícitas de Cachoeira, o policial negou ter conhecimento. “Até hoje eu acho que ele não era dono das casas, essa é a minha visão. Ele era um empresário de sucesso, como muitos em Goiás, e tinha relação com a Delta, que é uma grande empresa”, afirma. Katayama ainda faz questão de dizer que nunca teve máquinas caça-níqueis e não se envolveu em nada de ilícito. Ele também nega que tenha possibilitado serviço de segurança pessoal para o contraventor.
Em ligações interceptadas pela Polícia Federal, em pelo menos duas vezes há conversas em que Cachoeira mandava Ananias avisar ao “japonês” (que seria o tenente-coronel Katayama) que dormiria em determinado lugar e, por isso, necessitava de uma viatura da PM na porta. “Isso jamais existiu, não faria isso nunca. Isso seria fazer uma segurança pessoal e meu trabalho não é esse. Eu nunca nem recebi qualquer pedido deste.”

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