domingo, 1 de abril de 2012

SINDICATOS


De sindicalista para empresária: 
“Com a gente você vai pagar menos”

Dona de restaurante fast food diz que sindicato oferece acordo para piorar as condições de trabalho de seus empregados

HUMBERTO MAIA JUNIOR


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Reportagem sobre sindicatos (Foto: Filipe Redondo/Epoca)
Em novembro de 2006, a empresária Maria (nome fictício), franqueada de uma das maiores redes de restaurante do Brasil, recebeu um telefonema de uma pessoa que se dizia representante do Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Fast Food de São Paulo, conhecido pela sigla Sindifast. A pessoa do outro lado da linha afirmou que Maria estava devendo contribuições sindicais dos seus 18 funcionários. Maria respondeu que seus empregados faziam parte de um outro sindicato, o Sinthoresp, que, segundo os registros oficiais, representa trabalhadores de restaurantes e hotéis na grande São Paulo. Em seguida, segundo a empresária, ocorreu o seguinte diálogo:
- Os empregados da senhora estão no sindicato errado.
- Não foi isso que me informaram quando eu abri minha franquia.
- A franquia te passou errado. Hoje, todos os franqueados estão com a gente, menos a senhora.
- Eu acho que não. Mas não vou mudar, até porque eu não posso ficar tirando meus funcionários de um sindicato para jogar em outro.
Nesse momento, o interlocutor de Maria teria usado o trunfo:
- Mas a senhora está perdendo dinheiro em não mudar para o Sindifast. A senhora, como empresária, vai ter mais vantagens conosco.
Os sindicatos de trabalhadores começarama surgir no século 18 na Inglaterra para defender os interesses dos empregados das indústrias têxteis. De lá, espalharam-se pelo mundo sempre com o mesmo objetivo: lutar por melhores salários e condições de trabalho para seus representados, os trabalhadores. O diálogo acima, relatado pela empresária em entrevista exclusiva a ÉPOCA, mostra um sindicato atuando na via inversa. “Eles não estão preocupados em ser justos com a categoria”, diz Maria, que não pode ser identificada sob pena de perder a franquia. “Pelo contrário, defendem o empresário.”
As suspeitas de desvirtuamento do Sindifast não são novas. A entidade foi fundada em 1996 por Ataíde Francisco de Morais com o objetivo declarado de atuar em nome dos empregados dos restaurantes de fast food na capital, até entrão representados pelo Sinthoresp. A alegação era que funcionários de estabelecimentos como o McDonald’s são diferentes de funcionários de restaurantes convencionais. Em 2008, ÉPOCA publicou uma reportagem que mostrou o aumento de patrimônio do sindicalista Ataíde após a criação do Sindifast. Além de circular num carro de luxo e morar numa casa avaliada na época em mais de R$ 1 milhão num dos bairros mais ricos de Osasco, Ataíde aparecia como dono de um hotel perto de Fortaleza, no Ceará. Como o hotel tinha um restaurante interno, ele era ao mesmo tempo representante de empregados e empregador no mesmo segmento econômico. Hoje, o Sindfast é presidido por seu filho, Ataíde Francisco de Morais Júnior. 
Após ganhar registro provisório no Ministério do Trabalho, o Sindfast passou a fazer as negociações salariais em nome de 35 mil empregados de fast food e receber os milhões de reais provenientes das contribuições sindicais compulsórias. Para os trabalhadores, foi um desastre. Ano após ano, os salários e as condições de trabalho nas lojas de fast food foram ficando piores na comparação com restaurantes convencionais. Hoje, o piso de um cozinheiro representado pelo Sindfast é de R$ 609,24. Se for ligado ao Sinthoresp, sobe para R$ 839,91, diferença de quase 40%. É essa defasagem que estaria na origem da oferta “com a gente você vai pagar menos”, denunciada por Maria.
Alguns dias depois da primeira conversa com o sindicalista do Sindifast, Maria diz que se passou por uma empreendedora interessada em abrir um lanchonete fast food e foi à sede do Sindifast pedir informações. Nessa ocasião, diz, voltou a ouvir a estranha oferta: “O tempo todo me falavam que existia outro sindicato, mas que eu deveria fechar com eles ‘porque nosso piso é mais baixo’.” Meses depois, foi processada pelo Sindifast por não recolher o imposto sindical, mas ganhou o processo. Seus empregados continuam vinculados ao Sinthoresp.
Por escrito, Ataíde Júnior, confirmou que representantes do Sindfast procuraram empresas que não recolhem imposto sindical junto à entidade. Mas negou que tenha tentado seduzir empresários com a oferta de acordos coletivos que resultassem em salários menores.
Na Justiça, a disputa do Sinthoresp contra o Sindifast está longe de terminar. Enquanto questiona o desmembramento de uma categoria que hoje é pouco clara –o funcionário de fast food– o Sinthoresp teme a execução de uma sentença de 2004 que prevê multa de R$ 10 mil por dia por insistir em representar empregados de lojas de fast food. Difícil não perceber que há histórias muito mal explicadas nesse setor.

Eu diria que essa história pode ser conhecida em mais detalhes, acesse o link e veja como foi criado esse Sindifast, que tem um único objetivo, a redução dos direitos dos trabalhadores com fraude a lei. www.jornadacriminosa.com.br

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