Reforma do Sistema de Medidas muda forma de definir o quilo
Publicada em 26/10/2011 às 06h09m
Cesar Baima (cesar.baima@oglobo.com.br)RIO - Afinal, quanto pesa um quilo? Esta pergunta, aparentemente simples, guarda um problema complexo que tem desafiado os metrologistas nas últimas décadas e, agora, incita uma reforma no sistema mundial de medidas. Atualmente definido como a massa de um cilindro feito de uma liga de platina e irídio guardado em um cofre do Escritório Internacional de Pesos e Medidas em Sèvres, nas cercanias de Paris, o quilograma está ficando cada vez mais "leve", tendo perdido 50 microgramas - o equivalente a um grão de areia - desde que foi fabricado, na segunda metade do século XIX.
Embora não seja uma grande questão quando se vai pesar compras na feira, a alteração na massa do cilindro metálico - apelidado Le Grand K (O Grande K) - pode causar problemas para cientistas que realizam experimentos que necessitam de medidas muito precisas.
Vale lembrar que a medição precisa está no cerne de uma grande discussão travada atualmente entre físicos de todo o mundo, desde que um grupo do Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern) anunciou, no mês passado, que tinha flagrado neutrinos viajando numa velocidade mais rápida do que a da luz - uma impossibilidade, segundo a Teoria da Relatividade de Albert Einstein. Os maiores críticos dos resultados alegam que a medição tem margem de erro maior que os bilionésimos de segundo apontados pelos responsáveis pela experiência.
Na tentativa de contornar parte do problema, especialistas reunidos na Conferência Geral de Pesos e Medidas (CGPM) aprovaram este mês proposta de mudar sua definição para que esteja diretamente ligada a uma constante física universal, no que pode ser a maior reforma do chamado Sistema Internacional de unidades (SI) em mais de um século.
Junto com o mol (quantidade de uma substância), o kelvin (temperatura), o ampere (corrente elétrica), o metro (comprimento), o segundo (tempo) e a candela (intensidade luminosa), o quilograma faz parte do SI, que por sua vez serve de base para diversos outros tipos de medidas. Anteriormente, o metro também era definido com base em um objeto físico, a extensão de uma barra de metal também guardada em Sèvres. Degradação semelhante à observada no cilindro do quilo, no entanto, levou à sua substituição pela distância percorrida pela luz no vácuo em um intervalo de 1/299.792.458 segundo, que por sua vez está ligado à transição de estados de um átomo de césio 133, fazendo destas as duas primeiras unidades do SI já diretamente associadas a constantes físicas universais.
Assim, o problema não é exclusivo do quilo e sua alteração afeta diretamente o mol. Já o kelvin é definido de acordo com as propriedades da água em um estado e condições determinadas, o que faz com que sejam impossíveis medições precisas em condições de temperatura extremamente alta ou baixa. Enquanto isso, a definição do ampere é pouco prática - envolve condutores hipotéticos de comprimento infinito.
Diante disso, os especialistas reunidos na CGPM decidiram acatar proposta apresentada por Ian Mills, da Universidade de Reading, no Reino Unido, para redefinições do quilo, do mol, do kelvin e do ampere que tenham como base algumas das constantes físicas universais.
No caso do quilo, Mills e os também metrologistas Terry Quinn, Peter Mohr, Edwin Williams e Barry Taylor sugeriram o uso da Constante de Planck, que relaciona a energia de radiação eletromagnética à sua frequência. A mesma constante pode ser usada para definir o mol. Por fim, o ampere seria relacionado à carga elétrica elementar de elétrons e prótons e o kelvin à Constante de Boltzmann, que relaciona energias mecânica e térmica.
A aceitação da proposta pelos especialistas reunidos na CGPM, porém, não significa que as mudanças nas definições serão adotadas em breve. O órgão - que se reúne apenas uma vez a cada quatro anos - é conhecido por seu conservadorismo e será necessário convencer muitos dos 55 representantes dos países-membros para a necessidade das mudanças, além de provar que os novos padrões são precisos. Em entrevista à revista "New Scientist", o próprio Mills admitiu que poderá não estar vivo para vê-las entrar em vigor:
- Vai acontecer, mas talvez só depois de eu ter ido, pois tenho 81 anos de idade.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/ciencia/mat/2011/10/25/reforma-do-sistema-de-medidas-muda-forma-de-definir-quilo-925660648.asp#ixzz1butPiZg1
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