quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

FOXCONN E TERRY GUO, O "EMPRESÁRIO" QUE CHAMA OS SEUS FUNCIONÁRIOS DE ANIMAIS





"Terry Tai-Ming OU Terry Guo, (traditional Chinese: 郭台銘; simplified Chinese: 郭台铭; pinyin: Guō Táimíng)

CEO's Comparison of Workers to 'Animals'
"Hon Hai has a workforce of over one million worldwide and as human beings are also animals, to manage one million animals gives me a headache," Gou said at the event, according to WantChina Times, which translated Gou's remarks.[*].

[*] Foxconn Clarifies, Apologizes for CEO's Comparison of Workers to 'Animals', pcmag.com, January 2012. Retrieved on 5 January, 2012"





É o fim do modelo chinês?
Onda de suicídios em uma das principais empresas da China coloca em xeque o sistema econômico baseado na exploração cruel da mão de obra e pode causar estragos até no comércio mundial
Por Amauri Segalla
No dia 23 de janeiro, Max Xiangqian, um operário chinês de 19 anos, foi encontrado morto em um complexo industrial localizado na cidade de Longhua, em Taiwan. Xiangqian trabalhava 11 horas por dia na fábrica da Foxconn, maior fornecedora terceirizada do mundo de produtos eletrônicos, conhecida por confeccionar equipamentos para gigantes como Apple, Dell, HP e Nintendo.

A outra face da Apple: O iPhone, que custa R$ 1,5 mil no Brasil, é feito por uma empresa que paga
US$ 150 por mês aos empregados - e pela primeira vez eles se revoltam

O rapaz ganhava US$ 1 por hora, não podia falar durante o expediente e, enquanto permanecia na empresa, tinha permissão para ir ao banheiro apenas por três vezes. Depois dele, outros 11 operários da Foxconn também morreram. Todos se mataram. Um dos suicidas deixou uma carta para a família. Disse que não via futuro no que fazia e que estava condenado a passar o resto da vida como escravo.
Por fim, escreveu que preferia a morte a esse sacrilégio. A onda de suicídios em uma empresa que, sob todos os aspectos, é o símbolo acabado do modelo que levou a China a se tornar a potência mundial do século XXI suscita uma discussão. Até que ponto as tragédias podem significar o fim de uma era – a do crescimento econômico baseado na exploração da mão de obra barata, maltratada e conformada?

A China se tornou sinônimo de pujança nos últimos anos, graças sobretudo a esse modelo. Um funcionário fabril chinês recebe, em média, US$ 130 por mês. É metade do que um profissional do mesmo nível embolsa na Índia e um quarto dos ganhos de brasileiros que batem cartão em plantas industriais. Em termos de jornada, nada se compara ao ritmo asiático.



Como na China as leis trabalhistas são apenas produto da ficção, ignoradas pela maioria das companhias, os empregados se sujeitam a todo tipo de abuso. Após os suicídios da Foxconn, familiares dos funcionários que morreram foram às ruas protestar e apresentaram os fatos: expediente de no mínimo dez horas, sete dias por semana e com direito a apenas cinco dias de folga por ano.
Na lógica capitalista, esse modelo gera uma competição desigual. As empresas chinesas têm os maiores índices de produtividade do planeta e cobram pouco por isso. Resultado: não há uma grande corporação global que não contrate fornecedores baseados na China. A Foxconn fabrica, por exemplo, o novo iPhone, lançado pela Apple na semana passada, e o videogame Wii, sucesso global da Nintendo.

Diante da pressão internacional (Steve Jobs, dono da Apple, disse que está preocupado com o impacto que o caso pode provocar na imagem da empresa), a Foxconn anunciou de imediato um aumento de 70% nos salários de seus empregados. Segundo analistas, a elevação dos contracheques na China vai causar uma alta de preços global.
De camisetas a smarthphones, tudo deve ficar mais caro. “Por um longo período, a China foi uma âncora para a deflação global”, afirmou Dong Tao, economista do Credit Suisse. “A China industrial ajudou muitas companhias globais a reduzirem os custos e preços.” Se essa era acabar, que impacto terá no consumo planetário?
Até que ponto isso vai afetar, digamos, as vendas de iPhones, que correm o risco de ficar mais caros? A própria China, que é o canhão econômico destes novos tempos em que os países desenvolvidos enfrentam uma crise financeira sem precedentes, não pode submergir se tiver de ficar igual a todo mundo – ou seja, fabricar produtos com custos equivalentes aos de qualquer outro lugar?

A China possui essencialmente duas vantagens competitivas: além da produtividade alta e barata das empresas, o país desvaloriza artificialmente sua moeda, de modo que os produtos locais fiquem mais baratos e as exportações aumentem. Será possível resistir se essa equação for desfeita?
A história demonstra que os grandes modelos econômicos em geral se impõem por meio de uma série de equívocos e depois sofrem o que se pode chamar de aperfeiçoamento. No século XIX, a Revolução Industrial provocou uma ruptura. O fim do trabalho artesanal, substituído pelo fabril, levou uma multidão de crianças às fábricas – e elas, que trabalhavam 15 horas por dia, ajudaram a tornar a Inglaterra um império planetário.
Ao mesmo tempo, a Revolução Industrial estimulou o surgimento do movimento operário e com ele a luta pelos direitos dos trabalhadores. Num certo sentido, a China passa pelo mesmo processo. Pela primeira vez, funcionários tiveram a coragem de ir às ruas exigir melhores condições de trabalho. Não se trata de uma revolução em um país que pode ser chamado de tudo, menos de democrático? Toda mudança tem um preço alto e só o futuro dirá quem vai pagar a conta das transformações em curso na China: se apenas o país asiático ou o mundo inteiro.

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