“Sou osso duro de roer”, gabou-se Carlos Lupi nesta segunda-feira. (Orlando Silva se sentia “indestrutível” quando o velório já ia chegando ao fim). “Eu quero ver até onde vai essa onda de denuncismo”, foi em frente o ministro do Trabalho. Vai acompanhá-lo até a hora do enterro em cova rasa, logo saberá. (“Vou mostrar que todas essas denúncias são falsas”, prometeu o ministro do Esporte quando o tsunami de provas contundentes ainda lhe parecia uma marolinha. Não conseguiu desmentir nenhuma).
“Alguns nascem para se acovardar, outros para lutar”, declamou Lupi. “É o meu caso. Topo a luta. Vou até o fim”. É a Teoria do Casco Duro. Inventada por Lula, recomenda ao companheiro delinquente que resista entrincheirado no gabinete aos que tentam confiscar-lhe o empregão e a senha do cofre. A queda inevitável de Carlos Lupi repete o nauseante roteiro que orienta a cerimônia do adeus de ministros bandalhos.
Há menos de um mês, solidário com o camarada Orlando Silva, o PCdoB enxergou uma insidiosa conspiração contrarrevolucionária na descoberta de que o Ministério do Esporte se transformou na casa da moeda do partido. Solidário com o comparsa infiltrado no primeiro escalão, o deputado Paulinho da Força promete agora mobilizar as centrais sindicais que seu bando controla para a feroz resistência a inimigos de alta periculosidade.
Além da Força Sindical, quatro siglas descobriram que Carlos Lupi “está sendo vítima, assim como o movimento sindical, de uma sórdida e explícita campanha difamatória e de uma implacável perseguição política, que visa a desestabilização do governo e o linchamento público do titular da pasta.” Essa conversa de gatuno pilhado em flagrante já passou da conta, como passaram da conta todos os outros capítulos, tão previsíveis quanto repulsivos, do espetáculo do cinismo reencenado pela sexta vez em cinco meses. O país decente já não suporta a lengalenga dos canastrões desprovidos de vergonha.
De novo, Dilma Rousseff invocou a presunção de inocência. De novo, Gilberto Carvalho avisou que, “por enquanto”, não surgiu nenhum fato que incrimine diretamente o chefe do bando. De novo, a Comissão de Ética da Presidência abriu uma sindicância para nada apurar. De novo, o governo tenta ganhar tempo. Quando a tempestade se intensificar, será costurado o acerto malandro com o partido premiado com o Ministério do Trabalho: o PDT aceita a saída de Lupi e indica o substituto. Muda-se o ministro para que tudo continue como está.
Qualquer detetetive americano que tropeçar num Carlos Lupi não resistirá à tentação de repetir o ritual celebrizado pela TV. Depois de algemado pelas costas, o ministro saberá que tem o direito de chamar um advogado e de ficar em silêncio, porque tudo o que disser será usado contra ele no tribunal. Nem será necessário especificar o motivo da prisão. Lupi sabe que merece. Aperfeiçoado pelo governo Lula-Dilma, o faroeste brasileiro é diferente. Só aqui o bandido é autorizado a posar de mocinho e brincar de xerife antes de fingir que morreu. Depois, gasta em sossego o dinheiro que tungou.
07/11/2011
às 20:43 \ Direto ao PontoCandidata de Dirceu, Márcio e Lula fica sem a toga que a trinca prometeu para o Natal
A vaga no Supremo Tribunal Federal aberta por Ellen Gracie será preenchida por Rosa Maria Weber Candiota, ministra do Tribunal Superior do Trabalho. Apesar de apoiada pela trinca formada por Lula, José Dirceu e Márcio Thomaz Bastos, a candidata Maria Elizabeth Rocha não vai ganhar uma toga no Natal.
Não se sabe exatamente o que Rosa Maria Weber Candiota pensa do caso do mensalão. Tomara que tenha juízo, ignore palpites de gente como Tarso Genro e outros conselheiros oportunistas, enxergue as coisas como as coisas são, respeite a Justiça e cumpra sem medo o seu dever. De qualquer forma, é certo que os culpados foram impedidos de comemorar antecipadamente o aumento da bancada pronta para absolvê-los.
Lula fará de conta que não tem nada com isso. Márcio fará cara de paisagem. Dirceu fará o possível para não sacar de novo a lágrima do coldre. Os mensaleiros continuarão fazendo qualquer negócio para escapar do castigo merecidíssimo. Nesta segunda-feira, terão de fazer alguma coisa para dormir direito. O sono tranquilo só seria garantido se a candidata da trinca fosse presenteada com a vaga no Supremo.
07/11/2011
às 19:29 \ Direto ao PontoCelso Arnaldo: ‘Depois de dez meses desastrosos, continua a farsa da supergerente Dilma Rousseff’
Ilustrados pela foto do auditório deserto, quatro trechos pinçados por Celso Arnaldo Araújo foram suficientes para escancarar de novo, sempre com apavorante nitidez, a superlativa mediocridade de Dilma Rousseff. Mas o jornalismo oficialista é duro na queda: colunistas de grandes jornais continuam enxergando na chefia do governo a supergerente que nunca existiu. Justificadamente espantado com o que a turma andou escrevendo sobre a presidente que não diz coisa com coisa, Celso Arnaldo valeu-se de outro texto irretocável para tratar da epidemia de cegueira voluntária. (AN)
As dezenas de profissionais que integram a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República são pagos para defender a chefe. E não há melhor forma de defesa do que a mistificação — arte de mentir sem faltar com a verdade, que no caso é uma questão de crença pessoal. Por isso, não questiono jamais o tom e o teor das matérias do Blog do Planalto, que faz um trabalho parecido com o website oficial da monarquia britânica. Nós pagamos para essa gente defender a rainha. É a regra do jogo.
Mas a coisa muda de figura quando a tarefa de mistificar o perfil de Dilma se estende à nata de nosso jornalismo político – que, depois de dez desastrosos meses de governo, continua comprando, e vendendo aos leitores, a velha farsa de Dilma como a supergerente que comandou a escalada do Brasil das cavernas para o Primeiro Mundo, no governo Lula.
Na página A11 da Folha deste domingo, o sempre comedido Fernando Rodrigues ainda insiste no surrado mito, desmontado a cada razia da mídia no ministério da presidente, da chairwoman perfeccionista, onipresente e onisciente, perto de quem Steve Jobs se pareceria com o dono de uma falida oficina de máquinas de escrever.
Escreve FR, a pretexto de justificar o ritmo lento, quase parado, com que o governo toma decisões e implementa programas fartamente anunciados pela máquina de propaganda: “Não há hipótese de a presidente receber algum interlocutor para tratar de alguma obra ou projeto governamental sem estar devidamente brifada a respeito (…) Dilma raramente vai se contentar com primeiras explicações. Fará perguntas adicionais e o encarregado terá de voltar aos estudos”.
Que lindo. A presidente não se contenta com primeiras explicações, mas achou o programa Segundo Tempo mais perfeito que uma jogada de Neymar – aquele que “eu vi, deixei de ver, voltei a ver”. Quem a brifou? Na certa, Orlando, depois de estudar muito o modus operandi dos ongueiros amigos.
Não fosse VEJA, o encarregado Orlando e sua quadrilha de malandros que roubam por esporte estariam ainda na zona do agrião, livres de marcação para estufar o cofre. Quantos níveis de explicações – segundas, terceiras, quartas? – Dilma exigiu para compreender a tática “ladrão de bola” do Segundo Tempo?
Não é só. Ao lado da “análise” de FR na Folha há outro texto, assinado por Natuza Nery, que traz o seguinte olho: “Dilma criou ritual de ‘espancamento’ de projetos, em que faz questionamentos para ver se a ideia fica de pé”.
Quem, em sã consciência, de posse de suas faculdades mentais e decentes, realmente acredita nessa imagem tão pífia? Essa postura “épica-ética” de governar combina com os 10 meses da Presidência Dilma? Não fosse a imprensa, a roubalheira dos projetos de ministérios até aqui implodidos ainda estaria de pé, apesar de cruelmente “espancados” por Dilma.
A mistificação se ramifica por todos os segmentos da mídia. No circuito Elizabeth Arden, a revista Poder dedica sua capa a Dilma. Mas a presidente manchetada na capa se parece com a que tomou posse em janeiro, não com a que vaza um ministro por corrupção a cada mês e meio:
SENHORA DO DESTINO – Rigorosa com subordinados e aliados, elogiada até pela oposição, como a presidente Dilma vem mudando o jeito de governar o país.
Qual é, exatamente, o novo jeito de governar dessa mocinha da novela das 9? O jeito de entregar ministérios com porteira fechada a larápios da base aliada? O jeito de levar a sério a promessa de construir 6 mil creches em quatro anos de governo? Madame, by the way, já inaugurou alguma, nesses 10 meses? No corpo da matéria de oito páginas, a revista explica esse jeito novo de governar o país, reproduzindo fielmente o delírio de um assessor direto:
“A presidente só faz perguntas difíceis. Na hora de despachar, é melhor estar preparadíssimo para respondê-la, caso contrário, é bronca na certa”.
Notaram? É preciso estar preparado para “respondê-la” — bem ao estilo Dilma. Um assessor com algum nível deveria estar preparado para responder ou responder a ela. Na verdade, a presidente só faz perguntas difíceis porque não sabe fazê-las fáceis. Quando se leu ou se ouviu em algum lugar uma pergunta ou uma resposta de Dilma que fosse fácil de fazer sentido?
É o caso de dizer: roubem à vontade – mas nos poupem.
07/11/2011
às 0:36 \ Direto ao PontoO fracasso do pobretão que se faz de rico vestindo um fraque puído nos fundilhos
“A reunião do G20 foi um sucesso relativo”, disse Dilma Rousseff. Nesse caso, outros participantes devem ter feito bonito para compensar as apresentações da supergerente do Brasil Maravilha. A foto desoladora informa aos berros, por exemplo, o que foi a conferência de imprensa que deveria juntar repórteres do mundo inteiro e demais interessados presentes ao encontro. Um fracasso absoluto. Havia menos gente na plateia do que na comitiva oficial da presidente brasileira.
É nisso que dá acreditar que governantes e jornalistas de todo o planeta disputam a socos e pontapés o privilégio de ouvir conselhos, bravatas, invencionices e embustes despejados por emissários de um pobretão que se faz de rico vestindo um fraque puído nos fundilhos.
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