Senador mantinha diário com relato de todos os dias de asilo
POR MEIO DE REGISTROS INÉDITOS, A GQ REVELA OS ÚLTIMOS DIAS DO ASILO POLÍTICO MAIS LONGO DA HISTÓRIA DO BRASIL
A GQ teve acesso, com exclusividade, ao diário em que o senador Roger Pinto, de 53 anos, líder da oposição ao governo Evo Morales, registrou, desde o primeiro dia, as impressões sobre o mais longo asilo político da história do país.
O senador procurou asilo político na chancelaria brasileira em La Paz em 28 de maio de 2012. Acusado em 22 processos (a maioria por corrupção e desacato), alegava sofrer perseguição política. Onze dias depois, o governo Dilma Rousseff concedeu-lhe o asilo.
Durante 15 meses, o senador boliviano viveu preso em uma sala de 20 metros quadrados dentro da embaixada brasileira em la paz. Não pôde sair à rua, abrir a janela, pegar sol, conceder entrevistas, receber convidados ou visita íntima. Ele teme que o isolamento tenha deixado sequelas graves.
A matéria de Vitor Hugo Brandalise na edição de setembro da revista GQ vai mostrar também como a falta de convicção e a letargia do Itamaraty no trato com o governo Evo Morales - que apareceu com força no caso Roger Pinto - não só causa constrangimentos diplomáticos mas vem dificultando até o combate ao tráfico de drogas nos 3.600 km de fronteiras com a Bolívia.
Em dois cadernos com capa de couro preta, ele numerou cada dia vivido na embaixada. E denotava com um emoticon seu estado de espírito no dia. Confira trechos do diário de Roger Pinto:
04/06/2012
Às 8h30, o embaixador Marcel Biato entra no quarto e avisa que o asilo foi concedido. Ele transcreveu o anúncio: “Sua solicitação de asilo foi aceita e será uma honra recebê-lo
no Brasil. Seja bemvindo, a presidente Dilma Rousseff me encarregou de lhe
transmitir”. Ele ainda adicionou: “Obrigado, Senhor”.
Às 8h30, o embaixador Marcel Biato entra no quarto e avisa que o asilo foi concedido. Ele transcreveu o anúncio: “Sua solicitação de asilo foi aceita e será uma honra recebê-lo
no Brasil. Seja bemvindo, a presidente Dilma Rousseff me encarregou de lhe
transmitir”. Ele ainda adicionou: “Obrigado, Senhor”.
06/07/2012
Naquela sexta-feira, o 41º dia confinado, ele descreve o que faz em cada hora do dia. Levanta às 7h45, se exercita entre 20h e 21h e vai dormir às 23h. Também recebeu visitas do embaixador e da neta, que chama “chanchita” (equivalente a “piggie”, ou “porquinha”, um
apelido carinhoso).
Naquela sexta-feira, o 41º dia confinado, ele descreve o que faz em cada hora do dia. Levanta às 7h45, se exercita entre 20h e 21h e vai dormir às 23h. Também recebeu visitas do embaixador e da neta, que chama “chanchita” (equivalente a “piggie”, ou “porquinha”, um
apelido carinhoso).
06/03/2013
As visitas são limitadas a parentes e seu advogado. Ele não poderia mais receber amigos
políticos. Pinto se irrita e critica o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota: “A visita de Patriota complicou mais ainda o meu caso. Deixou-se convencer pelo governo”.
28/05/2013
Ao completar um ano no asilo, ele se diz perdido: “Estou confuso, meu Deus. Tu conheces o futuro”. E cita problemas pessoais: “Muito difícil com a família”. Outro dia, relata problemas com a mulher, Blanca: “Chateada com tudo o que acontece”. Segundo a família, é provável que se divorciem.
02/08/2013
No início do 15º mês isolado, escreve sobre o futuro e indica que deixará a Bolívia. “Me
parte a alma, é parte da minha vida e da dos meus filhos. Mas é a hora, nada me amarra a esta terra e a este país”. Dizia que, ao sair, pretendia viver em Brasília defendendo mais segurança na fronteira Brasil-Bolívia.
No início do 15º mês isolado, escreve sobre o futuro e indica que deixará a Bolívia. “Me
parte a alma, é parte da minha vida e da dos meus filhos. Mas é a hora, nada me amarra a esta terra e a este país”. Dizia que, ao sair, pretendia viver em Brasília defendendo mais segurança na fronteira Brasil-Bolívia.
A matéria traz fotos inéditas da rotina do senador dentro da sala de 20 metros quadrados na embaixada brasileira em La Paz, onde ele viveu por 15 meses, além de passagens marcantes durante estes 454 dias. Os registros mostram também como ele dizia que estava "enlouquecendo" dentro da sala, "sem ar puro e sem tomar sol" e os gastos do asilo.
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