11/08/2013 - 02h30
Descubra o preço que você paga pelos carros oficiais dos políticos (com tanque cheio)
ELVIS PEREIRA
DE SÃO PAULO
Há cidades cujos prefeitos vão para o gabinete e voltam para casa de bicicleta. Como Londres e Amsterdã. Existem políticos que compartilham o mesmo veículo ou utilizam o deles no dia a dia. A exemplo dos noruegueses e suecos. E há São Paulo, onde o carro placa preta é regra, não exceção.
Estão presentes no governo do Estado, na prefeitura, na Assembleia e na Câmara, tanto para atender os políticos eleitos, como seus auxiliares, em compromissos oficiais e no trajeto do lar para o trabalho. Pouquíssimos políticos o dispensam: três vereadores e dois deputados.
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Empoeirado, Chrysler 300C estacionado na garagem da prefeitura custa R$ 13.075 todo mês
Por três semanas, a sãopaulo perguntou ao Palácio dos Bandeirantes o número de veículos do governador Geraldo Alckmin (PSDB) e de seus secretários, os modelos, como foram contratados e o gasto com cada um deles. Não houve resposta, apesar de, no fim de junho deste ano, após a série de protestos contra o aumento das tarifas do transporte público, o governador ter anunciado que reduziria a frota de carros oficiais.
POEIRA
Na frota da prefeitura paulistana, um dos veículos é definido por sua fabricante, a Chrysler, como "puro luxo". O 300C vale R$ 154,5 mil, na cotação de tabela. Conta com motor V6, sistema de som premium, rodas de alumínio aro 18 e bancos de couro.
O que está na garagem da prefeitura, no vale do Anhangabaú, tem tudo isso mais blindagem.
O veículo foi alugado por meio de licitação em 15 de outubro de 2012, como parte de um pacote para o gabinete do prefeito. Ao todo, o serviço abrangia 22 carros alugados, ao custo de R$ 1,145 milhão por ano, com fornecimento de combustível.
O ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD) diz nunca ter entrado no veículo. A contratação do serviço, segundo sua assessoria, ocorreu no fim do mandato para não deixar o próximo gestor sem transporte. Os demais eram 20 veículos Fiat Linea.
Inicialmente havia dois Chrysler na garagem. Fernando Haddad (PT) considerou os veículos "inadequados", de acordo com sua assessoria, e decidiu não percorrer a cidade neles.
O contrato de aluguel acabou renegociado, e um deles foi devolvido, além de um Linea.
Não foi rescindido, justifica a assessoria da prefeitura, por conta do valor da multa. Empoeirado, o outro espera o término do contrato, em outubro próximo. O 300C parado custa R$ 13.075 por mês.
Atualmente, o prefeito Haddad locomove-se em um Omega blindado, emprestado pela GM, e em um Toyota Corolla blindado, pelo custo mensal de R$ 8.900.
Os carros oficiais do gabinete também atendem a primeira-dama, Ana Estela Haddad, e os dois filhos do casal, por questões de segurança.
Os auxiliares do prefeito igualmente dispõem de carro oficial, com motorista particular e que pode circular em dia de rodízio. Todos os 27 secretários, 27 secretários-adjuntos, 27 chefes de gabinete e 31 subprefeitos, além dos dois do prefeito.
Ao todo, são ao menos 114 placas pretas. A prefeitura, no entanto, não soube detalhar o custo de todos esses carros. Na contabilidade, eles se juntam aos veículos de serviço, como os funerários.
No total, a frota municipal soma 842 veículos, ao custo mensal de R$ 3.802 milhões.
A gestão Haddad afirmou que "trabalha em normas de padronização de uso e contratação dos veículos". Além disso, disse que "vem renegociando os contratos de transportes herdados da gestão anterior".
CÂMARA
Entre os vereadores, há falta de padrão para alugar os placas pretas. A Casa escolheu, por licitação, a locadora Cotrans para fornecer veículos Linea. Hoje, entretanto, 10 de 52 vereadores preferem outras empresas e modelos superiores, prática permitida por um ato da Casa.
Eduardo Tuma (PSDB) destina R$ 3.000 da verba de gabinete, todo mês, para dirigir um Cruze, da Chevrolet. Valor acima do Linea da Câmara, que sai por R$ 2.649,04.
O Cruze é locado da ARQ Solution, gestora de frotas. O CNPJ da empresa aparece entre os doadores de campanha do vereador na última eleição. A colaboração, registrada no dia 6 de agosto de 2012, foi de R$ 4.000, em cheque.
"Não há qualquer relação entre a doação e sua escolha" nem "qualquer vício na contratação", explicou o vereador à sãopaulo, em nota.
Tuma destacou o fato de o Cruze ter airbags laterais, airbags cortinas, sensores de estacionamento e regulagem da altura dos faróis. Tudo o que o Linea não tem, segundo ele.
Ressaltou, ainda, que dirige o próprio veículo e que não depende de motorista, o que custaria mais R$ 6.000 por mês.
Os vereadores Vavá do Transporte, Jair Tatto, Alfredinho, todos petistas, George Hato (PMDB) e Ota (PSB) igualmente gastam um pouco a mais para alugar Corollas. O gabinete de Ota desembolsa R$ 5.309 por mês.
Queixam-se do Linea, que apresentaria problemas mecânicos e falta de potência do motor para encarar subidas. A relação entre custo e benefício compensa, segundo eles.
Em abril deste ano, os promotores José Carlos Blat e Valter Santin, do Ministério Público, abriram um inquérito para apurar se a contratação da Cotrans foi a melhor escolha.
A meta é apurar se a Casa deveria alugar carros ou comprá-los, a fim de economizar o dinheiro dos contribuintes. O caso está em análise.
ASSEMBLEIA
Diferentemente dos vereadores, os 94 deputados estaduais dispõem de uma frota comprada. São veículos Vectra Elite 2.0, o mais completo do modelo, adquiridos em dezembro de 2010 por R$ 8.925 milhões.
No início deste ano, ensaiou-se a renovação da frota. Porém, reportagem de "O Estado de S. Paulo" afirmou que só o veículo Corolla atenderia às características exigidas pelos políticos, o que resultou na abertura de inquéritos no Tribunal de Contas e no Ministério Público.
Os deputados desistiram, então, de trocar os veículos.
A um ano da eleição, em que os políticos tentarão se reeleger, a Mesa Diretora da Assembleia diz que o "assunto não está na pauta".
Com a suspensão da troca, que consumiria estimados R$ 11 milhões, os processos no Tribunal de Contas terminaram arquivados. O MP recomendou o mesmo destino para o inquérito civil, que ainda passará pelo Conselho Superior da instituição.
Os deputados recebem carros oficiais desde 1975. Cada político tem o seu, com até dois motoristas à disposição. Caso ele opte por não utilizá-lo, o carro fica parado em alguma garagem, depreciando.
Há o carro e o fornecimento de combustível. Na Assembleia, segundo a assessoria da Mesa Diretora, o deputado pode solicitar o reembolso de até R$ 14.721,20 por mês, entre combustíveis e lubrificantes.
Nenhum deputado atinge o teto. O que mais se aproxima é o tucano Carlão Pignatari. Entre janeiro e maio, ele requereu R$ 37 mil em reembolsos (o que dá uma média de R$ 7.400 ao mês).
Com o litro de gasolina a R$ 2,79, essa quantia permitiria a ele percorrer os exatos 833 km entre São Paulo e a cidade catarinense de Tubarão todos os dias, nos cincos meses, descontados os domingos e trabalhando em Feriados, incluindo o Carnaval. A viagem dura mais de oito horas.
O deputado, que se declara empresário do ramo avícola, mora em Votuporanga, a 521 km da capital. Viaja para Assembleia às terças e retorna para casa às quintas.
Segundo seu assessor de imprensa, ele não poderia ser localizado para conversar com o repórter.
Carlão, informou, é um deputado "presente" e percorre a região de Votuporanga toda sexta e sábado.
A sãopaulo quis saber também como o gabinete gastou R$ 7.706,09 de Combustível em janeiro deste ano, quando a Assembleia está de recesso. O assessor respondeu: "Não sei, não tenho conhecimento".
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