SINDIPETRO-SJC
INFORME – 24/07/2013
INFORME – 24/07/2013
A segregação da sociedade em camadas
Demorou, mas uma liderança local do ex-Partido dos Trabalhadores retirou de vez a máscara e apresentou-se diante da população joseense desnudo. O prefeito Carlos Almeida mostra-se tão reacionário quanto seus antecessores tucanos ao ponto de dar declarações cínicas, desculpas maquiavélicas e malabarismos ideológicos para justificar a opção de governar para o capital financeiro municipal.
Em audiência pública do POP (Programa do Orçamento Participativo), em 10 de julho, o referido político portou-se como boneco de ventríloquo dos empresários do transporte urbano ao proferir: “muita gente fala de transporte, mas nunca pegou um ônibus na vida”. Apesar da jocosidade da declaração, é notório que o prefeito fazia o seu mea-culpa, já que fala de transporte quando não é usuário do sistema municipal.
E ora, ora, ora! O prefeito acaba de instituir nesta cidade o conceito de “sociedade de camadas” em que a cidadania deve ser exercida nos movimentos apenas pelos que estão diretamente submetidos às agruras apontadas. Neste caso, apenas os usuários de ônibus poderiam protestar contra o sistema público de transporte.
Bom, pelo menos agora podemos afirmar com absoluta certeza comprovada pelos fatos que a diferença fundamental quanto à visão social e entendimento do que seja política entre o PSDB e o PT se resume a duas letras a menos na sigla.
Ora! Se nos é imposta uma sociedade por camadas, devemos instituir também os prefeitos por camada, ou seja, um prefeito para tratar do transporte que seja usuário de ônibus; um prefeito para a área do SUS que seja usuário do sistema público de saúde; um prefeito para o sistema educacional que seja estudante; um prefeito para tratar dos programas habitacionais que seja sem-teto; um prefeito que discuta a questão dos sem-terra que seja sem-terra.
Entretanto, o atual prefeito não anda de ônibus, não é usuário do SUS, não tem filho em creche, não está na famosa lista de espera da habitação, cujo número oficial é sempre manipulado conforme o interesse do poder municipal. Muito pelo contrário. Tanto prefeito, quanto vice, secretários municipais e vereadores levam uma vida muito confortável à custa do erário, aumentando os próprios salários contra a vontade da população. Aliás, essa foi a primeira ação do atual prefeito: aumentar o próprio salário e o do vice. Já os vereadores se preveniram e aumentaram os próprios salários no ano passado para passarem a receber mais de R$ 10 mil desde janeiro último.
Como político profissional há décadas, o atual prefeito mora muito bem obrigado à custa do erário no valorizado Jardim Esplanada e ainda de frente para o Banhado, de onde pretende expulsar – tal qual seu antecessor – famílias que lá vivem antes mesmo dele nascer. Já sua casa segue artificialmente valorizada pela especulação imobiliária, algo pelo qual deveria agradecer seus antecessores tucanos.
Este prefeito burguês, oriundo da mesma fornalha que criou seus antecessores, mantém os cofre$ públicos abertos para alocar todo e qualquer desafeto da mesma forma que os aliados em cabides de emprego comissionados na administração municipal. Não existe oposição que não possa ser agraciada com uma “boquinha”. Afinal, na política capitalista burguesa todo mundo tem o seu preço. Mesmo que esse preço seja pago com a extinção da frente de trabalho, por exemplo, que, junto com a Casa do Idoso, foi a única coisa útil feita pelo governo anterior.
Na cidade em que o legislativo e o executivo se encontram debaixo dos lençóis, a verba que faltou para a manutenção da frente de trabalho sobrou para aumentar o orçamento imoral de R$ 40 milhões da Câmara Municipal, que por acaso é comandada pela esposa do prefeito, e aumentar escandalosamente o número de cargos comissionados como “nunca antes na história deste país” em ação espúria de todos os partidos da direita que até ontem era inimigos ferozes. E olha que nem no mais distante rincão do país deve haver município com a unidade governista tão promíscua quanto São José dos Campos.
Este prefeito não poderia mesmo ter outro entendimento de sociedade. Sua visão é tacanha e baseada na manutenção do status quoeternamente vigente e que faz parte deste pt minúsculo que no âmbito nacional quer manter o Ministério Público longe das investigações de corrupção e quem sabe ainda conseguir – não importa de que forma – o desagravo dos mensaleiros frente ao país, além, claro de impor uma mordaça na imprensa. A mídia já não é independente, tem o lado da elite, dos ricos. Sob o controle do Congresso, tão pouco será neutra ou justa.
Resta-nos manter a fé de que esta meninada afrontada pelo poder público de São José dos Campos e do país afora não há de deixar as ruas e praças e que a geração de 1968 – o ano que jamais acabará – volte às ruas, como tem voltado, acompanhando filhos e netos ou quem sabe até mesmo sozinhos. Afinal, na luta nas ruas e nas praças todos são nossos filhos muito amados.
É uma pena, Carlos e Amélia, que ainda hoje vocês estejam se perguntando por quem dobram os sinos. Lamento, mas eles dobraram, dobram e sempre dobraram por todos nós, povo em luta!
Ari de Carvalho Pinho - petroleiro aposentado e ex-secretário geral do Sindipetro/SJC
Emerson José - jornalista de São José dos Campos
Emerson José - jornalista de São José dos Campos
SINDIPETRO – Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Destilação e Refino de Petróleo
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