Alheio a protestos, Renan gasta R$ 22 mil em spa antiestresse
- Petição on-line por seu impeachment tem 1,5 milhão de assinaturas
BRASÍLIA e PORTO ALEGRE - Isolado do barulho dos protestos nas ruas de cidadãos que nesta quarta-feira cravaram 1,48 milhão de assinaturas na internet pedindo seu impeachment, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), relaxa com a mulher, Verônica, desde a semana passada no spa do Kurotel, em Gramado (RS), um dos dez melhores spas médicos do mundo, e que tem em sua clientela mais cativa milionários e políticos brasileiros. Por R$ 22,2 mil, o casal Renan comprou o pacote antiestresse e ficou hospedado até hoje numa das quatro suítes mais caras, localizada num andar exclusivo com elevador privativo, espaço com business center, DVD, sala de massagem, serviço de abrir mala, lençol de algodão egípcio, cobertor de pluma de ganso e menu de travesseiros.
Do estresse causado pelos ataques e pela insistência dos que querem vê-lo longe da presidência do Senado, Renan está se tratando com a ajuda de psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, dermatologistas, sessões de cinema, aulas de culinária, jantares especiais, apresentações culturais, música ao vivo, recitais de piano, aulas de dança de salão e jogos. Renan e a mulher estavam acompanhados do também senador Gim Argello (PTB-AL), um dos seus mais fiéis aliados.
O pacote antiestresse inclui ainda sequência de banhos de lodo e sal, saunas, alimentação funcional, caminhadas externas, aulas de dança, dinâmica corporal e massagens terapêuticas indicada para alívio de tensões para maior relaxamento físico e mental, banheira com 100 jatos que massageiam o corpo durante 20 minutos, proporcionando intenso relaxamento, e banhos de extremidades — atividades com contrastes térmicos e aparelhos do Centro de Controle do Estresse com salas repletas de estímulos visuais e sonoros. Ducha de espuma antioxidante e piscina ozonizada com jatos de água e correnteza completam o serviço.
Pedido de impeachment
Enquanto isso, a petição criada pelo representante comercial Emiliano Magalhães Netto, de Ribeirão Preto, ganha apoiadores num ritmo frenético. A ONG Rio de Paz iniciou o movimento na internet antes da eleição de Renan Calheiros, dia 2, e chegou a cerca de 400 mil assinaturas. Inspirando-se na iniciativa, Emiliano Netto criou a petição pedindo o impeachment, que já ultrapassava hoje 1,5 milhão de assinaturas. O objetivo é chegar a 1,6 milhão para que seja levada ao Senado.
A legislação prevê projetos de lei de iniciativa popular apenas com assinaturas físicas, não virtuais. Mas o autor considera que sua petição vai chamar a atenção.
— Sou o criador da petição. Quero um ficha-limpa no Senado. Não sou filiado a nenhum partido. Defendo o Valor de “e-petições” como ferramenta de voz para a população. Não podem ignorar a voz do povo. Sou apenas uma das assinaturas na petição — disse Netto, ao defender sua iniciativa.
O juiz Marlon Reis, do comitê nacional do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) e um dos redatores da Lei da Ficha Limpa, diz que esse movimento acende uma luz amarela no Congresso:
— Como observador da realidade de movimentos de mobilização social nos últimos anos, estou impressionado com isso. Nem na campanha da Ficha Limpa conseguimos essa avalanche de apoios na internet. O processo de quebra de decoro é político, e essa manifestação da sociedade é relevante, não é possível ser ignorada. No mínimo, vai servir para acender uma luz amarela para o Congresso rever suas práticas.
Emiliano Netto pretende alcançar 1,6 milhão de assinaturas virtuais, para mostrar a revolta dos eleitores brasileiros com a eleição de Renan:
— Infelizmente, essa ferramenta popular foi criada apenas para propor leis e com requisitos tão complexos que quase ninguém consegue fazer uso dela. Mas poderemos causar um rebuliço na mídia, desafiar as restrições desta iniciativa popular e exigir a revogação da eleição de Renan Calheiros. Vamos usar o poder do povo agora para exigir um Senado limpo.
Procurada pelo GLOBO, a assessoria de Renan não retornou até o fechamento desta edição.
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