domingo, 17 de fevereiro de 2013

ERNST VON FREYBERG, NOVO PRESIDENTE DO BANCO DO VATICANO, FOI AMIGO DE HITLER


Escolha de advogado alemão para CEO do Banco do Vaticano gera mal-estar

Ernst von Freyberg, nomeado pelo papa Bento XVI para renovar instituição alvo de denúncias de irregularidades, é acionista de estaleiro de navios de guerra

16 de fevereiro de 2013 | 2h 06
Jamil Chade, enviado especial, Cidade do Vaticano - O Estado de S.Paulo
Cargo estava vago porque o banqueiro Ettore Tedeschi, amigo de Bento XVI, foi sumariamente demitido - AP
AP
Cargo estava vago porque o banqueiro Ettore Tedeschi, amigo de Bento XVI, foi sumariamente demitido
A meta era dar fim a um conflito. Mas de pouco serviu. Ontem, o Vaticano anunciou que uma das últimas medidas tomadas pelo papa Bento XVI antes de deixar o cargo foi a nomeação de um novo presidente para o Instituto de Obras Religiosos (IOR), mais conhecido como o Banco do Vaticano e que está assolado por um escândalo de corrupção. Mas a pressa em preencher o cargo antes da saída do papa e a revelação de que a pessoa escolhida também era executivo e acionista de uma empresa de construção de navios de guerra - inclusive já nos anos do nazismo - abriram uma nova polêmica. 

O escolhido foi o alemão Ernst von Freyberg, que terá justamente a missão de apagar uma imagem de fraude e de corrupção que o banco ganhou nos últimos meses. O cargo estava vago desde maio e a pressa de Bento XVI em aprovar um nome teria sido uma forma de impedir que o conclave começasse com alas diferentes da Igreja disputando quem seria a pessoa com a chave do cofre.
 
1 dia atrás

Mas o que era para ser um alívio se transformou rapidamente numa nova dor de cabeça. Freyberg seria presidente executivo e um dos acionistas da Blohm + Voss, empresa que fabrica e exporta navios de guerra e que, no passado, foi uma das principais fornecedoras para o governo de Adolf Hitler. O alemão dividirá seu tempo entre as duas funções.

Irritação - O porta-voz da Santa Sé, Federico Lombardi, ajudou a contribuir para a polêmica em um encontro com jornalistas no Vaticano que acabou ficando tenso. "Não sei se ele fabrica navios de guerra ou navios em geral", respondeu Lombardi, visivelmente irritado. 

O Vaticano havia emitido um comunicado admitindo que, apesar de a atividade da empresa ser navios civis, ela fazia parte de um "consórcio que está construindo quatro fragatas para a Marinha alemã". 

O comunicado seria depois corrigido por Lombardi que, ao receber um papel com a nova informação, apontou que a construção das fragatas já está concluída, o que significa que a empresa já é 100% civil. Para Lombardi, o fato de que Freyberg é um dos organizadores de peregrinações a Lurdes e é cavaleiro da Ordem de Malta mostrariam que ele tem "sensibilidade cristã".

Outra crise que também ainda não foi plenamente solucionada é a da corrupção no banco. O alemão teria sido escolhido em um processo de seleção que envolveu 40 candidatos. Os finalistas foram apresentados a um comissão de cardeais, composta inclusive pelo arcebispo de São Paulo, d. Odilo Scherer, que recomendou a nomeação de Freyburg.

O cargo estava vago porque, em maio, o banqueiro Ettore Gotti Tedeschi, um amigo pessoal do papa, foi sumariamente demitido. Na época, o Vaticano deu a entender que o banqueiro estava relacionado com o sumiço dos documentos roubados pelo mordomo do papa e que revelavam a corrupção na Igreja.

Mas, poucos dias depois, a polícia italiana encontrou em sua casa uma carta que era para ser lida caso ele fosse assassinado. Durante seus três anos no comando dos cofres do Vaticano, ele teria descoberto que as contas eram usadas para lavagem de dinheiro.

Disputa. A pressa na nomeação de seu sucessor fez despertar suspeitas de que não teria sido nem mesmo o papa quem o nomeou, e sim o cardeal Tarcisio Bertone, protagonista da disputa interna.

Fontes no Vaticano sustentam a tese de que, com a nomeação, o italiano teria garantido um aliado seu no cargo, antes da chegada de um novo papa.

"Ao fazer a nomeação, podemos evitar ver coisas que não são verdades sendo ditas", disse o cardeal Jose Saraiva Martins. 

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