terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

JOSEENSE MAIS POBRE!



25 DE FEVEREIRO DE 2013 ÀS 09H55PESQUISA

Perfil da renda muda para pior em S. José

Yann Walter
São José dos Campos
Indústria perdeu postos de trabalho em S. José
INDÚSTRIA PERDEU POSTOS DE TRABALHO EM S. JOSÉ Amplie
Apesar de uma distribuição mais igualitária –uma tendência nacional iniciada no início dos anos 2000– o perfil da renda mudou para pior em São José dos Campos. O número de pessoas que ganham três salários mínimos ou menos cresceu quase 75% entre 2000 e 2010, enquanto que o percentual de joseenses que recebem mais de três salários mínimos caiu mais ou menos na mesma proporção durante o período, de acordo com estudo divulgado semana passada pela Fundação Seade.
Em 2000, 38,77% da população joseense ganhava até três salários, enquanto 61,21% tinham vencimentos superiores. Uma década depois, a situação se inverteu: 65,07% recebiam três salários mínimos ou menos, e 34,92% ganhavam mais. A situação se repete em Taubaté, em Jacareí e também em São Paulo, segundo os dados da Seade.
O contraste fica ainda mais claro se forem comparados especificamente os percentuais dos que ganham entre mais de um e dois salários mínimos e, na outra ponta, dos que recebem vencimentos superiores a cinco ou dez salários. Em São José, os primeiros passaram de 11,33% em 2000 a 25,56% em 2010, o que significa um aumento de mais de 100%. Na contramão, o percentual dos joseenses que ganham entre mais de cinco e 10 salários passou de 24,26% a 12,30%, enquanto que o dos que recebem mais de 10 salários despencou de 18,75% para 7,25%. A queda nesta última categoria foi ainda mais expressiva em Taubaté (de 15,63% para 4,71%) e em Jacareí (de 11,31% a 2,97%).
Na opinião do economista Luiz Carlos Laureano Rosa, do Nupes (Núcleo de Pesquisas Econômicas e Sociais) da Unitau (Universidade de Taubaté), a situação em São José pode ser parcialmente explicada pela desaceleração do setor industrial registrada na última década. “A indústria, onde estão os salários mais altos, decaiu. Ao contrário, o setor de serviços, que paga menos, cresceu, passando a concentrar a maior parte dos novos empregos criados na cidade”, explicou o professor, frisando que o setor é o único da região a ostentar crescimento.
De acordo com Laureano, a retração do setor industrial também foi sentida em Taubaté, mas com menos impacto. “A cidade exporta principalmente seus produtos para os países da América Latina. Ao contrário, os destinos preferenciais das exportações joseenses são os Estados Unidos e a Europa, mais afetadas pela crise econômica e que, portanto, importaram menos”, destacou.
José Luís Nunes, secretário interino de Relações do Trabalho de São José, confirma parcialmente este quadro. “Avalio que houve neste período de 2000 a 2010 um forte crescimento do setor dos serviços, um crescimento médio no comércio e na construção civil e uma pequena baixa na indústria, o setor que concentra os cargos mais técnicos, de alta complexidade e, consequentemente, com melhor remuneração. A cidade de São José dos Campos vem produzindo principalmente empregos de média complexidade, com remuneração de até três salários. Isso explica a inversão de percentuais retratada pela pesquisa”, disse ele, destacando que se trata de uma tendência nacional.
O secretário ressaltou que o município tem muitos trabalhadores que atuam como autônomos e um alto número de microempreendedores individuais que têm geração de renda própria. Ele ainda lembrou que São José fechou 2012 com saldo positivo de contratações com carteira assinada, graças principalmente ao “alto crescimento no setor de serviços”.

Poder de compraMas os números publicados pela Seade mostram que pelo menos na população de menor renda em São josé, Jacareí e Taubaté a situação melhorou. Segundo os especialistas, quem ganhava muito pouco está hoje em uma situação mais confortável. “Durante o período, o reajuste do salário mínimo sempre foi superior à inflação. No ano passado, houve uma inflação de 6%, enquanto o mínimo teve reajuste de 9%. Isso significa que o poder de compra dos que ganham um salário aumentou”, disse Fábio Ricci, professor de economia na Unitau, lembrando que a maioria das categorias profissionais recebeu reajuste superior à inflação.
“Os metalúrgicos, por exemplo, tiveram 8%”, afirmou. Porém, esta melhora não é usufruída pelos trabalhadores que perderam seus empregos nas fábricas.

Bolsa FamíliaA Fundação Seade trouxe um dado preocupante: nas quatro cidades, o número de pessoas sem rendimento aumentou entre 2000 e 2010. Em São José, o percentual passou de 8,81% a 11,34% da população. Taubaté teve o aumento mais significativo –de 6,87% a 12,25%. Para o economista Luiz Carlos Laureano Rosa, uma explicação possível é que os detentores da Bolsa Família –não incluída nos rendimentos– não estejam se empenhando na busca de um emprego. “Pode ser que alguns estejam acomodados”, sugeriu.

Classe CImpulsionada pela expansão do crédito e pela ampliação do alcance dos programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, a Classe C é a que mais cresceu no Brasil entre 2000 e 2010: de 35% no início da década, ela passou a abranger 53% da população 10 anos depois. Hoje, ela é a principal responsável pelo aumento do consumo interno no país e pela subsequente disparada do comércio varejista.

MínimoO salário mínimo, que era de R$ 151 em 2000, já havia atingido o valor de R$ 510 em 2010. Hoje, está em R$ 678. De acordo com a pesquisa da Fundação Seade, São José tinha em 2000 uma renda per capita de R$ 469,61, equivalente a 3,11 salários mínimos. Em 2010, a renda per capita era de R$ 955,77 – 1,87 salários mínimos. As diferenças são semelhantes em Taubaté (renda per capita de R$ 459,04 em 2000 e de R$ 846,33 em 2010) e Jacareí (R$ 353,34 e R$ 712,14).

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