Corrupção policial explica crise na segurança de SP
Foto: Edição/247
GESTÃO DO SECRETÁRIO DE SEGURANÇA ANTONIO FERREIRA PINTO CAÇA QUADRILHAS DENTRO DA POLÍCIA CIVIL E TENTA ENQUADRAR POLÍCIA MILITAR, MAS SOFRE REVÉS NO AUMENTO DAS TAXAS DE CRIMINALIDADE; PARA O POVO, E SEGUNDO AS ESTATÍSTICAS, BANDIDOS PARECEM AVANÇAR DE TODAS AS DIREÇÕES
Marco Damiani _247 – Pouco afeito às luzes da mídia, já se sabe que no tocante à comunicação o secretário de Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, está perdendo a batalha na opinião pública. O grau de insegurança entre a população aumenta a olhos vistos, sensação generalizada que se ampliou com a divulgação, na segunda-feira 25, de estatísticas que mostraram um acentuado crescimento em crimes como homicídios (+ 16,3% entre janeiro em maio), estupros (+16,7% no período) e roubos de carros (+26%). Desde o início do ano, nada menos que 40 policiais militares foram mortos, enquanto mais de 40 arrastões a restaurantes e edifícios residenciais ocorreram apenas na capital. Nem por isso, no entanto, se pode dizer que Ferreira Pinto seja inoperante. "Ele não é o gestor mais moderno do mundo, mas trabalha com inteligência nos bastidores", resume um antigo auxiliar do governador Geraldo Alckmin na área da segurança. "O grande problema da gestão dele, neste momento, é que as mudanças efetuadas tanto na Polícia Militar como na Polícia Civil ainda não amadureceram. É uma fase de transição".
E que transição difícil. Todos os dias, sem exceção, paulistas e paulistanos estão sendo bombardeados com novidades quentes sobre as práticas de crimes. Dois ônibus foram incediados na periferia na segunda 25, no típico modo de 'tocar o terror' executado pelo PCC, o Primeiro Comando da Capital. O grupo criminoso organizado ainda estaria respondendo a baixas entre seus membros no episódio de conflito com a Rota, semanas atrás, que resultou na morte de seis suspeitos e na prisão de policiais acusados de execução sumária. Mas o secretário, enquanto isso, se recusa a chamar o PCC pelo nome, numa estratégia que visa não dar publicidade ao grupo mas que soa, ao público, como falta de enfrentamento. Na prática, acima das questões de comunicação, o que se vê, nos últimos anos, é a consolidação da hegemonia do PCC sobre o tráfico de drogas no Estado, com controle absoluto sobre quase todos os milhares de pontos de venda de cocaína espalhados pelo território paulista.
Na Polícia Civil, organização sobre a qual Ferreira Pinto comandou ações que derrubaram verdadeiras quadrilhas organizadas em áreas estratégicas como os Departamentos de Narcóticos (Denarc), de Investigações Criminais (Deic) e do trânsito (Detran), a política do secretário esbarra numa renitente má vontade por parte das bases. "Um policial civil pode permanecer na carreira até os 70 anos de idade, o que dificulta qualquer processo de renovação", lembra o antigo assessor de Alckmin. Para que o atual delegado-geral Marcos Carneiro Lima fosse nomeado, Ferreira Pinto preciso forjar novas regras de escolha, de modo a escapar do círculo vicioso no colégio de130 cardeais da Polícia Civil. Pela via da Assembleia Legislativa, ele atuou pela aprovação de um projeto que reconhece juridicamente a carreira de delegado, com aumento de prerrogativas.
Neste meio, mostrando sua face dura contra os ilícitos internos, Ferreira Pinto mandou instaurar mais de 7 mil inquéritos contra a atuação de policiais civis. Estes resultaram, apenas no primeiro ano de sua gestão, em 72 demissões, nove exonerações e mais de 500 punições. "Quando eu cheguei, encontrei no Deic gente suspeita de envolvimento com o PCC, e no Denarc pessoas que haviam compactuado com o (megatraficante colombiano (Juan Carlos) Abadía (traficante cubano)", disse o secretário numa de suas raras entrevistas. "Tirei sessenta pessoas logo de cara, e os envolvidos foram remanejados para delegacias afastadas ou até para funções administrativas.". "Não há corporação que não reaja quando se sente atacada", diz a fonte de 247. As incursões moralizantes na polícia, no entanto, têm como reflexo direto uma aparente queda no interesse dos próprios policiais por sua atividade fim. "Mas o trabalho já está voltando ao pleno, com uma série de investigações concluídas. Vai melhorar", aposta o analista.
Na Polícia Militar, o atual comandante Roberval França é visto como um dos policiais melhor preparados do País, tendo sido chamado pelo governo federal para ser o homem forte na confecção dos planos de segurança para a Copa do Mundo de 2014. França, porém, tem abaixo de si um Alto Comando formado por cerca de 30 coronéis que têm em suas mãos os córdeis do funcionamento da PM. Como se a corporação fosse dividida em feudos, há quem seja o responsável informal pelo patrulhamento, outro pelo almoxarifado, um terceiro pelo setor de comunicação e assim por diante. A grande missão do coronel França, neste momento, é enfeixar poderes efetivos, para coordenar melhor a ação da PM, que voltou a se mostrar alvo fácil, especialmente em suas bases móveis, dos atentados à sorrelfa praticados pelo PCC.
O governador Alckmin, na avaliação do interlocutor de 247, colabora, com sua falta de objetividade, para a sensação de insegurança. Ele tem escolhido não se manifestar pontualmente, mas, quando o faz, tem apresentado o que já se vai chamando de "meia solução". O anúncio de que, contra os arrastões a restaurantes, o efetivo policial seria ampliado exclusivamente no Dia dos Namorados é uma dessas situações. Foi Alckmin o responsável, por outro lado, pela iniciativa de divulgação, mês a mês, e não mais trimestralmente, como ocorria antes, das estatísticas da criminalidade, nas quais dezessete tipos de crimes são listados. O aumento na velocidade na divulgação dos números ainda não correspondeu à melhoria do serviço policial – e as esperanças no governo são a de que essa elevação de padrão aconteça o quanto antes, sob pena de atingir o prestígio da administração tucana bem na hora das eleições municipais.
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