sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O JORNALISMO IMPRESSO VAI ACABAR?



O jornalismo em xeque. Foto: Olga Vlahou
Não há consenso entre os profissionais da imprensa, do marketing digital e da propaganda:  qual será o modelo vencedor no futuro, capaz de gerar renda na internet e substituir os negócios hoje ainda centrados no papel e na televisão? No segundo dia do evento New Brand Communication (NBC) a grande pergunta era se a internet conseguirá democratizar a comunicação no País, hoje concentradas em algumas poucas corporações familiares.
A questão pesa tanto na publicidade quanto no jornalismo. “A gente tem um vício que é a Casa Grande – Senzala,” diz Rene de Paula, que participou da mesa “Inovação em Comunicação de Marcas”. Segundo o publicitário, os profissionais da área acabam imersos em um universo particular, onde “todos possuem Iphone, enquanto a maioria do Brasil está comprando um notebook ou PC em 12 prestações”. É esse público que o marketing online deve atingir. “O grande desafio é entender que as coisas não acontecem somente na Vila Olímpia. A inovação deve ser social, política”, diz.
O editor do site de CartaCapital, Gianni Carta, durante o debate. Foto: Divulgação NBC11
Para exemplificar, De Paula cita o Orkut, site de relacionamentos tido como ultrapassado pelas Classes AB, mas ainda um dos mais acessados no País. Segundo ele, é o que dá mais retorno. A inovação, diz De Paula, não consiste em criar aplicativos, mas em entender os mecanismos de acesso à Web no Brasil. “Achava que a internet iria ser a coisa mais inclusiva, mas acho que estamos aumentando o abismo.”
O conteúdo continua sendo elencado como o fator mais importante para um negócio de sucesso. Gianni Carta, editor do website de CartaCapital, falou da sua experiência à frente da página eletrônica da revista. “A CartaCapital tem uma marca, que é uma linha editorial progressista: pró-mercado, mas contrária a uma globalização desenfreada. O website tem de refletir mais essa marca, esse brand”, diz Carta.
Divergência
No painel “O Futuro da Mídia”, o debate girou em torno de uma divergência entre Luiz Carlos Azenha,  Marcelo Coutinho e Enor Paiano. Paiano é diretor de publicidade do UOL e Coutinho é diretor de Inteligência de Mercado do portal Terra, os dois grandes do jornalismo e entretenimento online. Já Azenha é dono do blog “Vi o mundo”, em que escreve sobre política.
Cynara Menezes, repórter especial de CartaCapital, durante o encontro
“A ecologia da mídia é a mesma de 50 anos atrás. O peixe grande come o peixe pequeno”, afirmou Azenha, iniciando a polêmica que se estenderia por quase toda a mesa. Isso porque Coutinho e Paiano defendiam a ideia de que, com a democratização dos instrumentos de mídia proporcionada com a internet, mais pessoas passariam a ser produtoras, quebrando o monopólio dos grandes meios de comunicação. Como exemplo, Paiano citou o UOL, que possui 300 sites agregados de pequenos empresários da mídia. Esses sites são geralmente administrados por uma pessoa que faz a página e terceiriza serviços. “Alguns são remunerados, outros não”, observa Paiano.
Para contrapor a teoria, Azenha citou o próprio caso: o blogueiro afirma que não recebe quase nada para tocar o site e ainda tem gastos fenomenais em processos pelo que escreve. Para justificar, Coutinho afirmou que o problema é o tema: o jornalismo político sempre deu prestígio, nunca deu receita. O que vende é Esportes e Celebridade. “É claro que um blog politizado enfrenta mais pressões, como o Movimento”, argumenta Coutinho. O  jornal Movimento foi uma publicação fundada em 1975 que sofreu forte repressão durante a Ditadura Militar.
A grande questão, no entanto, é como sustentar o modelo digital e se, de fato, o papel entrará em decadência. “Talvez o online não signifique o fim do papel, mas como essas coisas podem coexistir”, colocou a moderadora e repórter especial de CartaCapital, Cynara Menezes. Mas a mesa discordou. Coutinho foi incisivo ao afirmar que o papel vai sim acabar, em pouco tempo, mesmo com a venda de jornais aumentando e os anúncios se concentrarem em grande parte nas publicações dos grandes veículos. Mas, diz ele, a cada reajuste, os anúncios ficam mais baratos, sufocando as empresas.
Paiano acredita no fim do modelo de produção que hoje assistimos: o grupo de pessoas que filtra a informação para todas as outras será posto em xeque. A televisão, segundo ele, terá ainda uma sobrevida, uma vez que o mercado publicitário está em torno do orçamento da rede Globo.
Especialistas debatem o futuro da comunicação, em SP. Foto: Foto: Divulgação NBC11
O americano Saman Rahmanian também foi categórico ao apostar no fim da mídia impressa. Os Estados Unidos estão anos na frente nesse processo, e já assistiram a naufrágios de diversos veículos de comunicação. Para Rahmanian, o papel se extinguirá e a notícia será dada em outro formato. “Uma redefinição do trabalho será necessária se quisermos nos manter no mercado”, oferece Rahmanian. “Todo mundo tem as ferramentas, mas nem todo mundo tem coisas interessantes para dizer.”
Fundamental, conclui ele, é oferecer conteúdo.
12 Respostas para “O jornalismo impresso vai acabar?”
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  • Wank Carmo disse:
    Minha tese é rápida: se alunos chegam ao ITA sem saber matemática básica, é porque o ensino vai mal; se uma professora diz que o Enem não mede conhecimento e alunos são reprovados em vestibulares, o ensino vai mal; se a prova justa da OAB reprova alunos, é porque o tudo vai mal.
    Quem está lendo e escrevendo corretamente? Poucos!Quem está podendo comprar jornal e revista? Poucos! Então o Brasil está formado por analfabetos politicos e covardes. Basta entrar nas redes sociais. As vendas de jornais e revista vão mal? Debitem na conta do jornalismo chapa branca também! Vazio, pobre! Onde estão as grandes reportagens? Veja, CC, IstoÉ, são mecanismo de pressão política e não de informação. Encalha tudo! Mais: até a revista playboy com Adriane Galisteu, não vendeu, e não causaria ereçao em borracheiro de beira de estrada. A imprensa perde o gás, quando faz o jogo do capital e politicos e se esquece do Brasil que não conhece o Brasil. E nem tem interesse, porque são outros…
  • Paulo Roberto de Camargo Mello Junior disse:
    Não é a tecnologia que está acabando com o jornalismo impresso. Mas sim, o que está afetando é a falta de qualidade e de conteúdo. É difícil confiar em um jornal, serio, imparcial. Apenas gostariam que as informações fossem mais transparentes, que as informações fossem imparciais, mas politizadas quando for contra a humanidade e a sociedade, quando ferir a dignidade e o respeito de qualquer ser humano e qualquer opinião do mesmo. Veja você mesmo o quanto muitos jornais estão sendo manipulados. Jornal, revista tem um papel fundamental na sociedade: anunciar e denunciar, e não formar opiniões. A formação é responsabilidade da família, do meio social que a pessoa vive e das experiencias que a vida proporciona. Talvez quando os jornais souberem qual é o seu lugar, vão deixar de temer ficar sozinhos um dia.
  • Mauro Julio Vieira disse:
    O jornalismo impresso no Brasil é insignificante.
    Não tenho certeza, mas acho que a Folha, que vende mais, não ultrapassa 600 mil exemplares.
    No japão só um dos jornais de lá vende 10 milhões.
    Hoje, com a internet o leque de informação se multiplicou por mil e ainda dá ao usuário o direito de interagir com a mídia. Como agora.
    Enfim, o mundo nunca vai ser um paraíso. Mas com o capitalismo democrático sempre aparecerão novas tecnologias que melhorarão a vida no planeta, como esse computador que estamos usando agora, que evita que bilhões de árvores sejam derrubadas para fazer papel, bilhões de toneladas de combustível fóssil sejam queimados, ganha-se muito mais tempo e ainda podemos ficar muito mais informados.
  • Bacellar disse:
    Meu temor não é o fim do jornalismo impresso mas o fim do jornalismo e ponto final, seja na midia que for. Jornalismo já não é um termo dos mais precisos, o negócio agora é midialismo.
  • Fernando Ferrari disse:
    O futuro distante do jornal impresso será ser uma mídia segmentada para a classe culta e elitizada, a única que desejará consumir informação que será somente lida Daqui a três ou quatro décadas, o povão estará consumindo a multimídia, carregada de imagens e vídeos, mais facilmente digerível e que estará disponível por toda a parte. Até isso acontecer, os detentores da mídia tradicional continuarão a fazer o que fazem até hoje: vão agir para restringir o avanço da universalização da tecnologia para manter o status quo do mercado da transmissão da informação.
  • Oswaldo disse:
    Cobrar por acesso a conteúdo não vai funcionar. A e-mídia tem de voltar ao princípio, recuperando a credibilidade do negócio. Para isso, precisa aprimorar a qualidade de seu conteúdo e deixar ao consumidor online que ele mesmo defina o valor daquilo consumiu, debitando a importância que julgar conveniente em seu cartão de crédito, por exemplo. Utopia? Não acho. A mídia impressa sempre teve um caráter comunitário, digamos assim. Uma pessoa comprava um jornal, uma revista, e várias liam, muitas. Os responsáveis pela área de circulação dos veículos têm até um nome para esse compartilhamento. Fazer circular a informação, gratuitamente, portanto, não é coisa de hoje. A Internet vem apenas levando isto ao extremo e não há como parar esse processo. Eu mesmo já fiquei tão satisfeito com um conteúdo disponibilizado na Internet, que me senti na obrigação de fazer uma doação ao seu autor. Só não o fiz porque essa opção não me foi disponibilizada.
  • Celso disse:
    Não há nada mais agradável numa manhã que você ler um jornal impresso, em que você folheia as páginas com assuntos que te levem a conhecer um pouco mais do que está acontecendo no mundo. Não necessariamente com total isenção, porque isso é quase impossível. Mas opiniões e reportagens (sobretudo)que abram novos conhecimentos, abordagens que fazem com que o leitor nutra um compreendimento melhor da realidade e dissolva conceitos preconcebidos e distorcidos por outras fontes de informações que muitas vezes chegam enlatadas em filmes, propagandas e assim por diante.
    Ressaltando que o Estadão sempre foi jornal conservador , nunca deixei de apreciar as reportagens, os correspondentes internacionais e os cadernos de cultura em que haviam críticos de teatro, cinema e literatura. Esse comentário não é uma apologia ao Estadão, mas uma lembrança de que jornal pode ser feito com boa qualidade, com jornalistas competentes e sem cair no ridículo que vemos agora.
  • jõao disse:
    Jefferson agora nega o mensalão.
    Jefferson ao ser atingido pelo PiG furioso
    Saiu no twitter da Hildegard Angel
    “Jefferson declara que o tal mensalão não é fato é “pura retórica”, isto é, não existiu!Uma farsa.O “tenor” queria apenas as luzes da ribalta”
    “Quem deu credibilidade ao inacreditável Jefferson? Uma imprensa e uns políticos preocupados com suas conveniências e não com fatos.Vergonha!”
    A seguir, trechos da defesa de Roberto Jefferson ao Supremo
    Certo é que as acusações contra o Defendente não se sustentam e são claramente improcedentes e destituídas de qualquer fundamento fático.
    Com efeito e isso a todo tempo ficou dito e mostrado, sem contraste, que o Defendente andou sempre nos limites que a lei garante.
    Como Presidente de partido político, o PTB, formulou acordo para a campanha eleitoral de 2004, eleição de v
  • Bernardo César disse:
    Será que existe estatística sobre o consumo de jornal impresso por jovens de 18 a 30 anos?
    Este é o grande público que estará em atividade acadêmica, profissional e no campo das decisões políticas, associativas e negócios daqui a 20 anos.
    Outra pergunta, De que forma o jornal impresso está presente na vida das famílias hoje, e nas escolas? Este hábito difundido no ambiente onde há jovens é o que pode infleunciar a sobrevivência do velho standart ou tabloíde. Que eu adoro.
  • Marcelo Coutinho disse:
    Olá Clara, excelente resumo. Faltou apenas lembrar que não disse que o papel vai acabar, mas seu peso tende a ser insignificante até mesmo por questões “ecológicas”: um quilo de papel impresso exige cerca de 80 litros de água para sua produção. Não vejo a sociedade capaz de arcar com este custo em larga escala em 10 ou 20 anos.
  • geraldo lara disse:
    Vamos raciocinar um pouco no que as classes B e A estão produzindo tendo como referência o Facebook:
    Primeiro a total imersão na cultura do entretenimento e do narcisismo. Para completar e ser bem suscinto, um monte de frases trocadas, principalmente por mulheres, que deixariam os pára-choques de caminhão no patamar de literatura. Concluindo:Conteúdo é o que os jovens das classes dominantes deste país não querem nem ouvir falar a não ser como diz o Azenha: “o que interesa e dá dinheiro é esportes e celebridades.
    O futuro dos jornais impressos diminuem consideralvemente e o conteúdo dos jornais eletrônicos serão mais livres e muito mais ainda efêmeros…sem profundidade.
  • Gilberto disse:
    Com certeza vai acabar, e não é por mudança nos negócios e sim em virtude da falta de credibilidade da imprensa e jornalistas.
    Como já disse no Obsrevatório da Imprensa os jornalistas e jornais precisam se moralizar para não irem pelo ralo.
    Este é o fim de quem não tem credibilidade, veja o caso da Globo que vira e mexe está tomando coça da Record. Não porque esta última seja exemplo de credibilidade, mas de alguma forma o público dá sua resposta.
    Hoje com a internet já se sabe do filho bastardo do FHC que a grande imprensa e jornalistas esconderam durante tantos anos.
    A internet é democrática senhores jornalistas. Aprendam!

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