sexta-feira, 16 de setembro de 2011

CRACK, MADE IN PARAGUAY


PF descobre que criminosos estão importando crack pronto de países vizinhos


Publicação: 16/09/2011 07:20 Atualização:

 (Adauto Cruz/CB/D.A Press)

Em apenas dois dias deste mês, a Polícia Federal (PF) apreendeu mais de 250kg de crack — cerca de 30% do que recolheu durante todo o restante do ano. Grande parte da droga vinha de regiões produtoras de coca ou próximas delas. O novo método do tráfico comprova uma suspeita da PF: o alto consumo da pedra da morte no Brasil está fazendo com que alguns países da fronteira, além de produzir o cloridrato — a cocaína em seu estado puro — e a pasta base, também passassem a intensificar a fabricação de crack. Além disso, as operações realizadas pela PF desde o ano passado mostram que há um avanço também nas rotas dentro do país, principalmente entre estados do Nordeste.

Na última terça-feira, ao abordar uma carreta que fazia o trajeto Foz do Iguaçu-Curitiba, policiais federais desconfiaram do nervosismo do motorista e decidiram fazer uma revista no veículo. Para a surpresa dos agentes, foram encontrados mais de 205kg de crack dentro de compartimentos falsos do caminhão, a maior apreensão feita pela PF nos últimos anos.

A droga, provavelmente, foi enviada dos países produtores ao Paraguai, onde foi transformada em pedra e exportada para o Brasil. Isso vem ocorrendo com certa frequência. No mesmo dia, a Polícia Federal descobriu outros 50 quilos da substância em uma caminhonete do Paraná, que estava estacionada em um shopping de Belo Horizonte.

Destino

Além das regiões Sul e Sudeste, a Nordeste passou a ser alvo do tráfico de crack, seja ele interno ou externo. O Rio Grande do Norte é um dos principais destinos. Em uma apreensão em Natal no ano passado, 5,5 quilos do entorpecente chegaram ao estado pelos Correios, e a droga só foi descoberta porque funcionários do órgão notaram um forte odor em uma encomenda remetida de Brasileia, cidade acriana que faz fronteira com Cobija, na Bolívia. A Polícia Federal foi acionada e chegou aos donos do pacote, supostamente enviado por uma pessoa originária do país vizinho.

Outra forma encontrada para levar a droga para Natal foi embalá-la em garrafas pet. Cerca de 40 quilos de crack levados de Rondônia foram recolhidos na capital potiguar dentro de um caminhão, condicionados nos vasilhames de plástico. No Rio Grande do Norte, a PF fez a segunda maior apreensão de crack este ano: 161kg estavam em uma caminhonete vinda de Goiânia.

Nos últimos anos, a Polícia Federal vem concentrando suas ações em torno dos grandes traficantes e no mercado atacadista da droga — que é a pasta base e o cloridrato —, mas as apreensões de crack se tornaram inevitáveis pelo volume que tem circulado no país. Antes, o combate à pedra da morte estava quase restrito às forças de segurança dos estados.

A fabricação do entorpecente se restringia a pequenos laboratórios espalhados pela capitais e a grandes cidades do interior. Mas hoje, a substância chega pronta para o consumo por meio das rodovias que ligam as regiões Norte, Sul e Centro-Oeste. E uma das formas de transporte é a mesma usada em outros tipos de tráfico: pessoas necessitadas que são aliciadas pelos criminosos para se tornarem mulas.

Esse é o caso de uma mulher presa no início do ano em Pelotas (RS) com 2kg da pedra escondidas no corpo. Ela vinha de Pedro Juan Caballero, no Paraguai, e contou à polícia que receberia entre R$ 500 e R$ 2 mil para levar pequenos volume. Os valores dependiam do local da entrega.

As ações da PF têm mostrado também a presença de menores no tráfico internacional, conforme detectado em Foz do Iguaçu (PR), onde uma mulher de 23 anos foi detida com 2kg de crack em maio. Ela estava acompanhada por uma adolescente de 15 anos, que também portava pedras que seriam transportadas a São Paulo. No Espírito Santo, em julho, um adulto e um rapaz de 17 anos foram encontrados com 4kg de crack levados de Ji-Paraná (RO) para o interior capixaba.

O caminho da droga


Rota externa

O transporte do crack vindo dos países da fronteira com o Brasil é feito principalmente pelo Paraguai. As rotas mais frequentes, conforme as ações da Polícia Federal realizadas este ano, são as seguintes:

» Paraguai—Foz do Iguaçu
» Paraguai—Foz do Iguaçu—SP—MG
» Paraguai—Rio Grande do Sul
» Bolívia—Acre—Estados da Região Nordeste
» Bolívia—Rondônia—Região Nordeste

Rota interna


Veja como o crack circula dentro do país, segundo a PF:

» Goiás—Rio Grande do Norte
» Rondônia—Espírito Santo
» Paraná—Rio Grande do Norte
» São Paulo—Sergipe
» Rondônia—Rio Grande do Norte
» Mato Grosso—Estados da Região Nordeste

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