sexta-feira, 9 de agosto de 2013

RONALD BIGGS, O FIM DE UM LADRÃO

Bernardo Mello Franco/Folhapress
09/08/2013 - 03h39

Ronald Biggs comemora 84 anos em pub e finge roubar dinheiro

BERNARDO MELLO FRANCO
DE LONDRES

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Ronald Biggs descansava em sua festa de aniversário num pub londrino, ontem à tarde, quando um amigo sacou um maço de notas de 10 xelins. Eram réplicas do dinheiro que sua gangue roubou no famoso assalto ao trem pagador, em 1963.
O veterano larápio não hesitou: estendeu a mão direita, fingiu surrupiar uma das cédulas e riu, para delírio dos cerca de 30 presentes.
Apesar da saúde frágil, o integrante mais conhecido do "crime do século" celebrou os 84 anos ao estilo irreverente dos velhos tempos. A festa coincidiu com os 50 anos do assalto lendário.
O dia de Biggs começou no cemitério de Highgate, onde ele participou do enterro das cinzas do líder da quadrilha, Bruce Reynolds, que morreu em fevereiro deste ano, aos 81 anos.
De chapéu preto de gângster, óculos escuros e suspensório estampado com várias caveiras, ele chegou ao local numa cadeira de rodas empurrada por seu filho Mike, ex-cantor do grupo infantil brasileiro Balão Mágico e hoje empresário.
O clima de luto foi quebrado quando a responsável pela cerimônia fúnebre leu um trecho do best-seller de Reynolds, "A Autobiografia de um Ladrão", lançado em 1995 e inédito em português.
Biggs, que sobreviveu a sete derrames, ficou visivelmente emocionado com a leitura. "Ele era o meu melhor amigo. Era meu irmão", disse, na saída da cerimônia."Olhei para o meu relógio Omega de aço inoxidável. 2h45min. Apenas 15 minutos para o destino", recitou.
Sem conseguir falar, ele se comunica por meio de uma cartela de letras.
Quando a Folha perguntou a ele se sentia falta do Brasil, Biggs respondeu com um sinal de positivo. "Do quê?", perguntou o repórter da TV Globo. "Do calor", ele respondeu, apontando para suas letrinhas.
O assaltante viajou ao Brasil em 1970, depois de conseguir pular o muro da prisão onde estava preso usando uma corda e passar cinco anos escondido na Austrália.
Viveu 31 anos como dublê de fugitivo e celebridade no Rio, até decidir voltar para o Reino Unido e se entregar para a polícia. Ontem, ganhou de presente uma camisa da seleção brasileira.
No pub, Biggs foi bastante festejado por motoqueiros com jaquetas dos Hells Angels. Quando alguém se aproximava para tirar fotos, estendia o braço amistosamente e surpreendia o fã com uma "gravata".
"Não estamos celebrando o assalto. Certo ou errado, ele agora faz parte da história britânica", disse o filho Mike.
Na porta do pub, dois cartazes de "Procura-se" anunciavam um novo livro sobre o crime. Os lucros irão para as famílias de Reynolds e Biggs.

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