domingo, 24 de abril de 2011

MARINA DE FÁTIMA OLIVEIRA, A SUPER " ETERNA " SECRETÁRIA - GOVÊRNO EDUARDO CURY - S.J. DOS CAMPOS (SP)





Ponto de Vista
Veja Quem Vai Cuidar de Nós

Ninguém governa sozinho. As mais elementares normas de gerenciamento recomendam que se compartilhem tarefas e decisões. Por isso, até por não ser nenhum retrógrado rei absolutista, o prefeito Eduardo Cury preocupou-se em montar uma boa equipe de auxiliares para enfrentar o desafio de administrar a segunda maior cidade do interior paulista, que é um dos mais importantes centros industriais e tecnológicos do país. Exatamente por ter essa característica, São José dos Campos está repleta de pessoas capazes, altamente qualificadas. Esta é uma cidade em que, todos os dias, cruzamos com algum PhD por aí. A seara, pois, era farta para que Cury fizesse a colheita de cérebros que viessem auxiliá-lo na prefeitura. Mas, na prática, nem tudo é assim tão simples.

Os salários oferecidos para os cargos públicos municipais, mesmo nos mais altos escalões, não competem com os que são pagos pelas grandes empresas. É difícil convencer um executivo a desistir de um emprego em que ganha 25 mil mensais, para vir ganhar 7 mil como secretário municipal. Além disso, muita gente prefere não assumir funções que impliquem qualquer vizinhança com a política. Consideradas essas restrições, a seara se reduz. Mas não a ponto de ficar escassa. Um amplo contingente de pessoas com capacidade e disposição para a causa pública continua disponível, porque, convenhamos, a vaidade também conta e já se disse que o poder é afrodisíaco...

De modo geral, os nomes anunciados para o secretariado de Eduardo Cury agradam. Um ou outro surpreende, um ou outro gera preocupação pela eventual inadequação para a função específica que lhe foi confiada. Daí porque vale a pena analisar alguns deles. A começar pelo chefe de Gabinete, a quem compete a coordenação das ações de todos os secretários. Na prática, ele é um auditor da própria equipe de governo. Discretamente, longe dos olhos do público, verifica se cada um está realizando a contento o que tiver sido combinado nas periódicas reuniões do prefeito com o secretariado. Qual o perfil ideal para o preenchimento do cargo? O de um gestor de contratos. Cury trouxe Carlos Eduardo Santana, PhD pela Escola Politécnica de Nova York, ex-diretor do INPE e da Agência Espacial Brasileira, a quem coube gerenciar a equipe que produziu o primeiro satélite brasileiro - aquele que vem tendo, no espaço, vida útil muito maior do que a esperada. Excelente escolha. Tem tudo para não deixar a orquestra desafinar.

A manutenção de José Liberato Júnior à frente da Fazenda já era previsível. Ele é de uma eficiência irritante e de uma discrição exemplar. Com esses dois, está montada a defesa para conter qualquer ataque. Em conversa comigo, em meu programa de rádio "Show de Idéias", Eduardo Cury referiu-se a eles como "meus dois zagueirões". A Juana Blanco e a Riugi Kojima, reeleito vice-prefeito, Cury disse que podiam escolher os cargos que desejassem. Ela acabou indo para a assessoria do governador, enquanto Kojima escolheu a árdua tarefa de trabalhar pela geração de empregos na cidade, à frente da Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Pelo que sei, a estratégia definida para esse fim resume-se, basicamente, a três pontos: descobrir o que de fato atrai grandes empresas e viabilizar o que for necessário para atraí-las; facilitar a vida das micro, pequenas e médias empresas que já estão aqui --por exemplo, com redução do Imposto Sobre Serviços-- para que prosperem e contratem mais empregados; e qualificar e reciclar a mão-de-obra hoje desempregada, para que fiquem com os trabalhadores locais as novas vagas que vierem a ser criadas, a começar pelas milhares decorrentes da ampliação da refinaria da Petrobrás. Tomara dê certo. Até hoje, desde que foi criada na primeira gestão de Emanuel Fernandes, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico tem mais aspecto de cabide que de fábrica de empregos.

E aqui começam algumas dúvidas. Eficaz é a palavra que melhor define a atuação de Claude Mary de Moura. É confiável, determinada, objetiva. A questão é que lhe foi entregue o trabalho de fazer a mediação entre o prefeito e os vereadores, um encargo eminentemente político, que exige habilidades específicas que, até prova em contrário, só a vivência confere. E ela não tem essa vivência que, no jargão político, se chama "jogo de cintura". Em qualquer função administrativa de primeiro escalão Claude seria aposta para se investir todas as fichas. Para a mediação política, entretanto, é preciso esperar e conferir. Torço por ela, de coração, porque merece ter sucesso. Da mesma forma, Antônia Caracuel Varotto seria perfeita para a Secretaria da Educação, por ser educadora de méritos indiscutíveis. Mas vai presidir a Fundação Cultural, sem ter, que se saiba, atuação perceptível na vida artístico-cultural da cidade. A este jornal ela disse que educação e cultura são afins, o que é verdade só em parte. E, bem humorada, informou que tem filhas e filho bailarinos. Que bom. Mas mesmo que os meus fossem economistas brilhantes não fariam de mim um titular adequado à Secretaria da Fazenda. Torço por ela também, porque é uma pessoa seríssima e de muita capacidade. Tem uma vantagem: antes dela, ninguém brilhou no cargo que vai ocupar. Em terra de cego, que tem um olho pode ser rainha. O que não significa que não tenha dois.

Surpresa mesmo foi a escolha da socióloga Marina de Fátima Oliveira para chefiar a área mais complicada da administração, a da Saúde. Não tenho o prazer de conhecê-la, mas me garantem que foi muito competente no comando da Secretaria da Administração. Em parte sua escolha faz sentido. Há quase um consenso de que à rede pública de saúde falta mais administração do que médicos e remédios. Se ela se provar uma boa e hábil gestora, se souber cobrar organização, método, cumprimento de tarefas, respeito a horários pelos profissionais, se obtiver do prefeito e da Câmara a necessária revisão da lei que criou o Plano de Carreira, Cargos e Salários para poder pagar adequadamente aos médicos que ingressem na rede pública, ela pode dar certo. Tenho o privilégio de ter incontáveis amigos médicos, que há sete anos desfilam, todos os sábados, por um dos programas que apresento no rádio. Aqui entre nós: eles são os primeiros a admitir que médico é péssimo administrador. Dona Marina assumiu uma encrenca. Mas pode se dar bem. Para finalizar, menciono o que não me parece nem surpresa, nem dúvida, é puro enigma: o que o simpático empresário de imóveis Alfredinho de Freitas vai fazer na Secretaria dos Transportes, meu Deus?!

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