Fraude: diploma de médico sai por R$ 1.220
Empresa diz vender documento da UFRJ em duas parcelas. Delegacia abre inquérito para investigar o caso
RIO — Seis anos em cinco dias. É o que promete a empresa que criou um site para vender diplomas de universidades públicas e particulares pela internet. Em resposta a uma consulta feita por e-mail, os responsáveis ofereceram um diploma do curso de medicina da UFRJ por R$ 1.220. Segundo o remetente, que não se identifica, o valor pode ser parcelado em duas vezes: “50% agora e o restante somente em 30 dias”.
Diplomas por todo o país
Como O GLOBO noticiou na quarta-feira com exclusividade, a Educacional Center passou a oferecer há uma semana na internet diplomas de graduação de universidades de todo o país, por valores a partir de R$ 410. Na página da empresa não há telefone, endereço ou responsável identificado, mas apenas um e-mail. A UFRJ e a UFF, cujos diplomas aparecem no site, dizem que os documentos devem ser falsos. Mas os responsáveis pela empresa são categóricos: “Já a (sic) algum tempo mantemos contato com colaboradores eficientes em relação aos trâmites legais para providenciar a graduação com base nos dados do cliente. (...) Vale a pena ressaltar que estamos falando de uma documentação registrada e original, obtida a partir de instituições credenciadas com o MEC e homologada legalmente”, informa o e-mail.
Publicação no DO é prometida
A empresa promete diploma e histórico escolar completo, com grade de notas, número de registro acadêmico, conteúdo programático em apostila e, ainda, certificado de colação de grau. Tudo com publicação no Diário Oficial, se o interessado quiser que a formatura tenha uma data atual. No caso de datas retroativas, só é possível publicar a partir de 1988.
Por fim, a empresa informa que o prazo da entrega dos documentos, enviados por Sedex ou carta registrada, é de até cinco dias úteis, a contar da data do primeiro pagamento.
Na quarta-feira, o delegado titular da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática, Gilson Perdigão, disse que vai instaurar inquérito para investigar o caso. Numa análise preliminar, a equipe de Perdigão constatou tratar-se de uma página criada num site dos Estados Unidos. Embora os textos estejam em português, ainda não é possível saber se ela foi criada no Brasil. Para o delegado, os responsáveis podem integrar uma rede de estelionatários. Ele disse que as investigações não têm prazo de conclusão, porque será necessário solicitar à Justiça quebras de sigilos pessoais.
— Os crimes são praticados por ambas as partes. Tanto a empresa como aqueles que procuram o serviço. Há falsidade ideológica, falsificação de documentos públicos e particulares, além de uso de documentos públicos e particulares falsificados. Deve ser uma falsificação grosseira — comentou o delegado, acrescentando que a pena para uso de documento público falso é de dois a seis anos de reclusão e para uso de documento particular falso, de um a cinco anos.
UFF vai procurar a PF
Na quarta-feira, o pró-reitor de Graduação da Universidade Federal Fluminense (UFF), Renato Crespo, informou que a instituição vai solicitar à Polícia Federal uma investigação para descobrir quem são os responsáveis pela fraude:
— Nossa preocupação ao procurar a Polícia Federal é zelar pelo nome da universidade. Mas é uma farsa grosseira. É absurda a ideia de pensar em ter em cinco dias um diploma oficial. O diploma é confeccionado com papel da Casa da Moeda, e não é usual a publicação da diplomação no Diário Oficial. O registro fica no MEC (Ministério da Educação). Não nos sentimos lesados. Isso é com quem compra.
O Ministério da Educação informou que já notificou o Ministério Público Federal e a Polícia Federal sobre o caso. O órgão disse ainda que vai monitorar atentamente as investigações policiais.
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