quarta-feira, 10 de outubro de 2012

BANCO CIFRA E OS ESTELIONATÁRIOS


09/10/2012 19h16 - Atualizado em 10/10/2012 07h10

Polícia investiga financiamentos fantasmas de veículos em São José

Veículos eram envolvidos em negociações sem o conhecimento das partes.
Golpe pode ter atingido mais de R$ 280 mil em desvios.



Renato FerezimDo G1 Vale do Paraíba e Região

A Polícia Civil investiga a atuação de estelionatários em uma financeira de São José dos Campos, interior de São Paulo, que estaria utilizando nomes de pessoas idôneas para simular o financiamento de veículos e desviar os valores para contas de parentes.

A investigação começou após a caminhonete de Patrícia Azevedo ser parada em uma blitz policial. "O carro foi levado para o pátio porque não estava licenciado. Quando fui ao pátio para retirar o veículo, descobri que ele estava em nome de outra pessoa", diz Patrícia.

A restrição apontada no documento da caminhonete de Patrícia é um financiamento feito por um correspondente do Banco Cifra, que funciona na rua Humaitá, Centro de São José dos Campos. De acordo com os dados cadastrados no Detran, o carro de Patrícia foi vendido para um funcionário de uma ótica, também em São José. A fraude foi descoberta quando a polícia localizou o rapaz, que na verdade é veterinário e nunca trabalhou na ótica.
Veículo S10 foi envolvido em negociação sem que a dona soubesse, em São José dos Campos.  (Foto: Patrícia Azevedo)Veículo S10 foi envolvido em negociação sem que a
dona soubesse. (Foto: Patrícia Azevedo)
"Eu não conhecia a Patrícia, nem o carro, nem a loja que vendeu o carro, nunca fiz negócios com essa financeira. Fui saber que tinha o carro no meu nome quando fui procurado pela polícia", diz o veterinário, que prefere não revelar o nome.
A partir daí a polícia fez a apreensão de documentos da financeira e também na casa do funcionário responsável por cadastrar os clientes. Ao todo, 39 documentos com veículos em situação parecida estão em poder da polícia - sendo que 17 deles financiados por duas lojas de veículos da cidade.
"Já foi caracterizado estelionato no caso da Patrícia, onde o funcionário da financeira fica apontado como o responsável por cadastrar a operação. Agora nós estamos apurando a situação dos outros veículos e quantas pessoas contribuíram para estes crimes", diz o delegado Hugo Pereira Castro, titular do 6º Distrito Policial de São José dos Campos, onde o caso é investigado. A polícia quer saber como os dados foram parar no cadastro do banco. Até o momento, descobriu que parte das vítimas é cliente de um mesmo contador.
O assessoria do Banco BMG, que controla o Banco Cifra, informou que a instituição foi comunicada do caso a partir da reportagem do G1 e que também se considera vítima dos casos investigados. O banco informou ainda que o funcionário da financeira foi demitido e que está colaborando com a polícia para o esclarecimento da situação. Nem a polícia, nem o banco conseguiram dimensionar o rombo deixado pelos golpistas. Se somados os 39 contratos apreendidos, R$ 280 mil teriam sido desviados dos cofres do banco.
Endereços fantasmasHá duas semanas os investigadores do 6º DP de São José dos Campos verificam os endereços dos contratos de financiamento apreendidos. O G1 acompanhou uma destas diligências. Em alguns casos o endereço é inexistente, como o do comprador de um Santana 95, financiado em nome de um homem que mora na praça Francisco Silvério, número 39, no bairro Jardim Imperial. O endereço é inexistente e os vizinhos nunca ouviram falar no rapaz.
Só que o endereço real do homem foi localizado pela polícia através de uma consulta criminal. Ele mora na rua Finlândia, bem distante do endereço apontado, e estava preso em novembro de 2011, data da compra do veículo.
Em outro caso, o financiamento de um Fiat Uno 1994, o endereço leva até um dono de bar, no Jardim das Indústrias. Ele nega que tenha realizado a transação, desconhece o veículo e confirma ser cliente do mesmo contador apontado nos outros casos.
Acusados negam envolvimento
O proprietário da loja envolvida na simulação de venda do carro de Patrícia, e de pelo menos outros quatro veículos, confirma que os veículos nunca passaram pela revenda e que teria emprestado o nome da empresa para que o funcionário da financeira realizasse as transações.
"É uma prática comum entre os lojistas. Se ele fizesse esse negócio pela financeira ele levaria uma comissão de R$ 80. Se ele faz comigo, nós dividimos a comissão da venda, que é de 11% do valor financiado", diz o lojista, que ainda é investigado pela polícia e pediu para não ter o nome divulgado.
Ele nega que tenha participado da fraude e diz que também seria uma das vítimas do esquema. "É só procurar por aí, tem mais de 500 carros desta maneira, mas eu soube disso somente depois que a polícia me procurou", diz.
A reportagem do G1 foi, por duas vezes, até a casa do ex-funcionário da financeira, responsável por cadastrar as operações consideradas fraudulentas. Ele não foi encontrado, mas um advogado foi indicado pela esposa dele.
"Ele colocava o dinheiro na conta da esposa porque a loja não tinha o nome limpo. Posteriormente, o dinheiro era retirado e dado para o dono da loja. A alegação do proprietário da loja de que ele era responsável por fazer este esquema é uma fantasia dele, uma alegação irresponsável", diz o advogado Brígido Fernandes Cruz.
O contador, responsável pelos documentos de clientes envolvidos nas negociações, também se diz vítima da quadrilha. "Ele foi furtado e só soube disso quando a polícia o procurou. Os documentos foram retirados sorrateiramente da mesa dele e utilizados nestes ilícitos", diz Luiz Antonio Lourenço, advogado do contador.

http://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2012/10/policia-investiga-financiamentos-fantasmas-de-veiculos-em-sao-jose.html

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