Influência a serviço de Cachoeira
Demóstenes Torres ainda era um respeitado e influente senador da República quando solicitou à Anvisa, no começo de setembro do ano passado, um encontro com seu diretor-presidente, Dirceu Barbano. A conversa, dizia o pedido de audiência, serviria para tratar de um certo “protocolo de câncer de próstata”. Diante do pedido de um senador e da relevância do tema, Barbano encaminhou a solicitação com prioridade, marcando a conversa para 21 de setembro.
Com a audiência confirmada, Demóstenes apresentou então o real motivo da conversa com o comandante da Anvisa: discutir a liberação de registros da agência para medicamentos genéricos e similares do laboratório Vitapan, um dos braços de Carlinhos Cachoeira na indústria farmacêutica, localizado na cidade do bicheiro, Anápolis (GO).
A inclusão do tema foi realizada a partir de um e-mail enviado na véspera do encontro pela assessoria de Demóstenes à Anvisa. No dia 21, às 14h, como registra a ata do encontro, Demóstenes apareceu na Anvisa acompanhado de dois representantes do Vitapan para conversar com Barbano e deixou que eles apresentassem os pleitos de Cachoeira.
A mediação do encontro dos representantes do Vitapan com o chefe da Anvisa é uma das primeiras evidências diretas de que Demóstenes usava a influência do mandato para tratar dos interesses de Cachoeira junto a órgãos do governo. Sem a interferência de Demóstenes, os representantes do Vitapan dificilmente teriam conseguido uma audiência fechada com o comandante da Anvisa para tratar de interesses comerciais do laboratório.
Assuntos dessa natureza (obtenção de registro) costumam ter uma longa tramitação na agência e são tratados em audiências públicas, com conteúdo integralmente gravado em vídeo. O privilégio ao Vitapan só foi possível após a intermediação de Demóstenes. Apesar do empurrãozinho, a Anvisa garante que os pleitos comerciais do laboratório não foram levados a diante.
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