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quarta-feira, 30 de março de 2011
Deixem a hipocrisia de lado e matem logo Kadafi se puderem. Ou: os desastrados
30/03/2011
às 17:50
Deixem a hipocrisia de lado e matem logo Kadafi se puderem. Ou: os desastrados
Em algum momento, Muamar Kadafi vai ter de cair, não é?, ou caem em desgraça nada menos do que Barack Obama, Nicolas Sarkozy e até o aprendiz David Cameron. Mas o coronel está dando um trabalho danado! Assim como a Casa Branca parecia desinformada sobre o estado da arte nos países árabes, parece evidente que trabalha com dados um tanto imprecisos sobre a guerra. Mesmo com a chuva de bombas e mísseis, as forças do ditador resistem e… avançam!
Ontem, representantes da coalizão se reuniram e discutiram, entre outros assuntos, um asilo possível para Kadafi. Hoje, sabe-se que os rebeldes tiveram de recuar de Bin Kawwad, Ras Lanuf, Brega e, neste momento, consta, lutam para tentar manter o controle de Ajdabiya, de onde a população foge apavorada. Essas cidades todas haviam sido retomadas pelos rebeldes depois que as impotências ocidentais começaram a bombardear as forças de Kadafi.
O que está em curso na Líbia é uma guerra civil, e os países ocidentais resolveram tomar partido, tentando destruir um lado para que o outro avance. Isso, obviamente, nada tem a ver com a proteção a civis nem caracteriza aplicação da zona de exclusão área. Ontem, enfiando um tantinho mais o pé na lama, Obama acenou com o envio de armas aos adversários de Kadafi. Segundo a incrível resolução da ONU — aquele tal “fazer o que for necessário” (?) —, também essas armas serviriam para… proteger civis!!! É, queridos, na era Obama, enviar armas a uma facção já armada, em guerra, tem o objetivo de proteger vidas!!!
Kadafi tem de sair, exige Obama, embora esse não seja, assegura, o objetivo da intervenção. Então é o objetivo de quem? Ora, de Obama! O curioso é que nem George W. Bush, o Satã de plantão, estabeleceu essa relação com Saddam Hussein. Foi bater às portas do Congresso para defender: “Saddam tem de sair”. E obteve a devida autorização para isso. Obama, esse demiurgo da nova era, estabeleceu uma espécie de meta subjetiva, pessoal, que dispensa o endosso do Congresso.
Franceses e ingleses já estão defendendo uma interpretação ainda mais larga da resolução, enviando também tropas terrestres para a Líbia. Aí, creio, a Rússia iria reagir com mais dureza. Hipocritamente, já está criticando os países ocidentais, acusando-os, o que é fato, de ir muito além da proteção a civis e da zona de exclusão. O fato é que conhecia a resolução e preferiu se abster. Quanto mais os EUA estiverem desmoralizados, melhor para Rússia e China.
Matar Kadafi
Se Kadafi não for traído pelos seus, há o risco de a guerra ser travada mesmo em Trípoli, e aí Deus tenha piedade dos… civis! Ou a inteligência militar dos aliados tente armar uma operação para fazer outra coisa que a resolução também não prevê: matar Kadafi num ataque cirúrgico. A vitória militar estaria garantida, embora se consolidasse uma derrota moral, com a constatação de que a resolução da ONU era uma pantomima.
Al Qaeda e Hezbollah
Mundo afora, no Brasil também, fez-se de conta que um comandante da Otan não afirmou aquilo que afirmou: há sinais de que a Al Qaeda e o Hezbollah estejam atuando entre os rebeldes líbios. Como essa informação embaralha a narrativa dos bandidos e mocinhos, então é melhor escondê-la. Estando certo o tal comandante, que deve saber do que fala, é a essa gente que Obama pensa enviar armamento pesado. Muitos diziam que ele inauguraria uma nova era no mundo. É, aquelas pessoas não deixavam de ter razão…
Por Reinaldo Azevedo
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