A cura
Durante uma de minhas palestras na Austrália, uma jovem se aproxima.
“Quero lhe contar algo”, diz. “Sempre acreditei que tinha o Dom da cura, mas nunca tive coragem de tentar com ninguém. Até que um dia meu marido estava com muita dor na perna esquerda, não havia ninguém por perto para ajudar, e eu resolvi – morrendo de vergonha – colocar minhas mãos sobre sua perna e pedir que a dor passasse. Agi sem acreditar que seria capaz de ajudá-lo. De repente, escutei-o rezando: ‘Permite, Senhor, que minha mulher seja capaz de ser mensageira da Tua luz, de Tua força’, dizia ele. Minha mão começou a esquentar, e as dores logo passaram. Depois perguntei porque havia rezado daquela maneira. Ele respondeu que não lembrava ter dito nada. Mas hoje sou capaz de curar, graças aquelas palavras”.
Pensamentos para mudar o mundo
Durante um jantar em Kyoto, o professor coreano Tae-Chang Kim analisa as diferenças entre o pensamento ocidental e oriental.
“Ambas as civilizações tem uma regra de ouro. No Ocidente, vocês dizem: farei para meu próximo aquilo que gostaria de fazer para mim. Isto significa: aquele que ama, é quem estabelece as condições em que o amor pode se manifestar”.
“A regra de ouro do Oriente parece quase igual: não farei ao meu próximo aquilo que não desejo que ele faça comigo. Mas ela parte do que a outra pessoa está sentindo, isto faz toda a diferença”.
“Para melhorar o mundo, não impomos uma maneira de demonstrar nosso amor, mas sim evitar a manifestação da nossa raiva.”
Tradição
As pessoas leem muitas histórias de bruxas, de fadas, de paranormais, de meninos possuídos por espíritos malignos. Assistem a muitos filmes com rituais em que pentagramas, espadas, e invocações são feitas. Tudo bem, é preciso deixar que a imaginação funcione, que estas etapas sejam vividas; e quem passa por elas sem se deixar enganar, termina entrando em contato com a Tradição.
A verdadeira Tradição é isso: o mestre jamais diz ao discípulo o que deve fazer. São apenas companheiros de viagem, dividindo a mesma e difícil sensação de “estranhamento” diante das percepções que mudam sem parar, dos horizontes que se abrem, das portas que se fecham, dos rios que às vezes parecem atrapalhar o caminho — e que na verdade não devem ser atravessados, mas percorridos.
A diferença entre mestre e discípulo é apenas uma: o primeiro tem um pouco menos de medo que o segundo. Então, quando se sentam ao redor de uma mesa ou de uma fogueira para conversar, o mais experiente sugere: “por que não faz isso?”. Nunca diz: “ande por aqui, e irá chegar onde eu cheguei”, já que cada caminho é único, e cada destino é pessoal.
O verdadeiro mestre provoca no discípulo a coragem de desequilibrar seu mundo, embora também ele esteja com receio das coisas que tem encontrado, e mais receio ainda do que lhe reserva a próxima curva.
O que você salvaria?
Durante minha estada no castelo alugado por uma revista brasileira em Brissac, França, um jornalista da região vem me entrevistar. No meio da conversa, assistida por outras pessoas, ele quer saber:
“Qual foi a melhor pergunta que um repórter já lhe fez?”
Melhor pergunta? Acho que já me fizeram todas as perguntas, menos a que ele acaba de fazer. Peço tempo para pensar, estudo as muitas coisas que queria dizer e nunca quiseram saber. Mas no final, confesso:
“Acho que foi exatamente esta. Já tive perguntas que me recusei a comentar, outras que me permitiram falar sobre temas interessantes, mas esta é a única que não tenho como responder com sinceridade”.
O jornalista anota. E diz:
“Vou lhe contar uma interessante história. Certa vez fui entrevistar Jean Cocteau. Sua casa era um verdadeiro amontoado de bibelôs, quadros, desenhos de artistas famosos, livros … Cocteau guardava tudo, e tinha um profundo amor por cada uma daquelas coisas. Foi então que, no meio da entrevista, eu resolvi perguntar: ‘se esta casa começasse a pegar fogo agora, e você só pudesse levar uma coisa consigo, o que escolheria?’”
“E o que Cocteau respondeu?”, pergunta Álvaro Teixeira, responsável pelo castelo onde estamos, e grande estudioso da vida do artista francês.
“Cocteau respondeu: ‘eu levaria o fogo’”.
E ali ficamos todos, em silêncio, aplaudindo no íntimo do coração a resposta tão brilhante.
Provérbios chineses
Aqui vai uma seleção de provérbios chineses para animar a nossa semana (em Les proverbes chinois, Bernard Ducourant)
A mulher infiel tem a alma cheia de remorsos. A mulher fiel tem a alma cheia de arrependimentos. (Anônimo)
Se os seus filhos são preguiçosos, não merecem sua herança. Se eles são trabalhadores, não precisam dela. Então, use-a para lhe dar os prazeres merecidos da sua velhice. (Anônimo)
Para conhecer um homem: veja como ele age, descubra o que ele busca, examine o que lhe faz feliz. (Confúcio)
O tesouro mais bem guardado é aquele que está num lugar onde todos veem. (Le Yi-King)
É preferível dizer cem vezes “não”, do que dizer um “sim” e não cumprir a palavra. (Anônimo)
Quem não sabe sorrir, não deve abrir uma loja. (Anônimo)
Quem pergunta, é bobo por cinco minutos. Quem não pergunta, é bobo para sempre. (Confúcio)
Poupando a energia que resta
Dois rabinos tentam de todas as maneiras levar o conforto espiritual aos judeus na Alemanha nazista. Durante dois anos, embora mortos de medo, enganam seus perseguidores – e realizam ofícios religiosos em várias comunidades.
Finalmente são presos. Um dos rabinos, apavorado com o que pode acontecer dali por diante, não pára de rezar. O outro, ao contrário, passa o dia inteiro dormindo.
- Por que você está agindo assim? – pergunta o rabino assustado.
- Para salvar minhas forças. Sei que vou precisar delas daqui por diante – diz o outro.
- Mas você não está com medo? Não sabe o que pode nos acontecer?
- Eu tive medo até o momento da prisão. Agora que estou preso, de que adianta temer o que já aconteceu?
O tempo do medo acabou; agora começa o tempo da esperança.
Sobre a encruzilhada
Do paganismo romano aos cultos afro-brasileiros, da mitologia grega as tradições indígenas americanas, a encruzilhada sempre foi considerada um lugar sagrado. É ali que alguns deuses habitam, e observam o viajante tomar uma decisão.
Ali se concentram as duas grandes energias – o caminho que será escolhido, e o caminho que será abandonado. Ambos estão juntos numa encruzilhada. Ambos se transformam em um caminho só – mas por um curto período de tempo apenas. O caminhante pode descansar, dormir um pouco, até mesmo consultar os deuses que habitam as encruzilhadas.
Mas ninguém pode ficar ali para sempre: uma vez tomada a decisão, é preciso seguir adiante, confiar no próprio coração. E esquecer o caminho que não escolhemos.
Quando o discípulo está pronto o mestre desaparece
Diz um velho ditado mágico: quando o discípulo está pronto, o mestre aparece.
Pensando nisto, muitas pessoas passam a vida inteira se preparando para tal encontro. Quando cruzam com o mestre, se entregam completamente – por dias, meses, ou anos. Mas terminam descobrindo que o mestre não é o ser perfeito que imaginaram – mas um homem igual a todos, cuja única função é dividir aquilo que aprendeu.
Ao ver-se diante de uma pessoa com seus defeitos próprios, o discípulo sente-se roubado. Vem o desespero e o desejo de abandonar a busca – quando, na verdade, é assim que a coisa funciona, é justamente a mudança de mestres que nos deixa livres para criarmos nosso próprio caminho.
Edenilton Lampião deu uma versão muito melhor para o tal ditado mágico: quando o discípulo está pronto, o mestre desaparece.
Vontade
Vontade. Esta é uma palavra que a gente deveria colocar sob suspeita durante algum tempo. Quais são as coisas que a gente não faz porque realmente não tem vontade, e quais aquelas que não fazemos porque são arriscadas? Eis um exemplo de risco que confundimos com “falta de vontade”: falar com desconhecidos. Seja uma paquera, um simples contato, um desabafo, raramente conversamos com desconhecidos. E sempre achamos que “foi melhor assim”. Terminamos sem ajudar e sem sermos ajudados pela Vida. Nossa distância nos faz parecer muito importantes, muito seguros de nós mesmos, mas – na prática – estamos passando longe dos milagres que os anjos colocaram em nosso caminho.
Das Graças
Viva todas as graças que Deus te deu hoje. A graça não pode ser economizada. Não existe um banco onde depositamos as graças recebidas, para utilizá-las de acordo com a nossa vontade. Se você não usufruir destas bênçãos, irá perdê-las irremediavelmente.
Deus sabe que somos artistas da vida. Um dia nos dá forma para esculturas, outro dia pincéis e tela, outro dia nos da uma pena para escrever. Mas jamais conseguiremos usar forma em telas, ou penas em esculturas. A cada dia, o seu milagre. Aceite as bênçãos, trabalhe, e crie suas pequenas obras de arte hoje.
Amanhã você receberá mais.
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