Para a polícia, oito vítimas relataram extorsão, estupro e agressões.
Duas mulheres disseram que foram obrigadas a beber a própria urina.
A determinação de uma vítima de abusos sexuais foi fundamental para a polícia e o Ministério Público chegarem a um homem acusado de praticar diversos crimes contra mulheres de São José dos Campos, nesta quarta-feira (15). Oito vítimas apresentaram acusações contra o homem.
A investigação da polícia teve início depois que uma das mulheres, que conviveu um ano com ele, resolveu denunciar e procurar por outras vítimas. "Eu deixei de trabalhar por seis meses porque eu queria denunciá-lo, que ele fosse punido por aquilo que ele fez", diz a mulher, que é advogada.
O acusado é bacharel em direito e conheceu a vítima quando ele estagiava em um dos cartórios do fórum de São José dos Campos. "No começo ele foi um cavalheiro, depois começaram os socos, cintadas, espancamentos", conta a advogada. "Ele me fotografou e me ameaçou, disse que se ele publicasse as fotos eu só conseguiria trabalhar como prostituta e teria que mudar de cidade", conta.
A partir de então começaram as ameaças contra a vítima. "Ele fazia faculdade e enquanto ia para a aula me deixava trancada no escritório que ele tinha. Me fazia beber a própria urina e me batia, batia muito", conta.
Investigação particular
Foi em janeiro deste ano que a advogada decidiu denunciá-lo e iniciou uma procura por outras vítimas. Procurou informações em documentos públicos, na internet e com pessoas próximas ao rapaz. "Ele me falava de outras mulheres, mas falava como se fossem apenas ex-namoradas. Eu liguei, consegui reuni-las e elas aceitaram testemunhar contra ele", diz.
Foi em janeiro deste ano que a advogada decidiu denunciá-lo e iniciou uma procura por outras vítimas. Procurou informações em documentos públicos, na internet e com pessoas próximas ao rapaz. "Ele me falava de outras mulheres, mas falava como se fossem apenas ex-namoradas. Eu liguei, consegui reuni-las e elas aceitaram testemunhar contra ele", diz.
Ele me fazia beber a própria urina e me batia. Batia muito."
- diz vítima
Assim ela conseguiu localizar Márcia (nome fictício), que viveu três anos com o homem. "Eu havia acabado de me separar e trabalhava como gerente em uma empresa de recursos humanos, ele me convenceu a pedir conta e abrir uma empresa junto com ele", contou Márcia ao G1.
A vítima diz ainda que, após dois meses, se viu 'amarrada' financeiramente ao sócio. "Ele ficou com a empresa, sumiu com um carro meu, quando eu precisava sair ele abastecia com gasolina contada, tirou meu celular e me separou dos amigos. Eu apanhava todo dia e minha filha dormia no quarto ao lado. Ele dizia que se eu falasse, ia matar minha filha", conta Márcia, que chegou a denunciar o acusado na delegacia, mas não representou o caso na Justiça.
O G1 entrevistou também o irmão de outra vítima. O relacionamento teria acontecido há pelo menos dez anos. "Nós só soubemos de toda esta história recentemente. Ela chegava machucada em casa, mas não falava o que era". Para ele, a atitude da advogada em denunciar a violência foi determinante para que o caso da irmã, que hoje é casada, também fizesse parte do inquérito.
Outra vítima encontrada pela advogada é uma mulher casada, de 33 anos, que relatou problemas semelhantes com o acusado. Segundo o depoimento dela, ao qual o G1teve acesso, utilizando uma faca o acusado a obrigou a ingerir a própria urina e assinar quatro promissórias no valor de R$ 7 mil. Em outra oportunidade, ele teria forçado a vítima a manter relações sexuais na presença do filho dela, de dois anos.
O vídeo dos momentos de intimidade foi gravado pelo rapaz e utilizado para ameaçar a vítima. Ele chegou a descontar as notas promissórias e, mesmo assim, enviou cópia do vídeo para o marido da vítima.
O acusado, de 35 anos, morava com os pais em um edifício do bairro São Dimas, bairro de classe média na região central de São José dos Campos. "É uma pessoa de extrema periculosidade, ele praticava crueldades com as vítimas, nos últimos cinco anos ele praticou furto, roubo, extorsão e violência doméstica. Além disso ele age com desvio de conduta sexual", diz Roberto Martins, delegado seccional de São José dos Campos.
As vítimas eram abordadas nos locais de trabalho ou em bares da cidade. "Ele tem um enorme poder de persuasão. Tem controle total sobre a vítima e age em cima de um perfil: todas trabalham, são recém-separadas e possuem bens", diz Martins.
Denúncia
Em depoimento dado em março deste ano na Delegacia da Mulher, ele nega as acusações e diz que as desavenças com uma das vítimas teriam se originado em um empréstimo de R$ 30 mil que ele teria feito para ela.
Em depoimento dado em março deste ano na Delegacia da Mulher, ele nega as acusações e diz que as desavenças com uma das vítimas teriam se originado em um empréstimo de R$ 30 mil que ele teria feito para ela.
Durante as investigações, o acusado teria ainda tentado intimidar policiais. Segundo a polícia, ele chegou a registrar denúncias na Corregedoria contra policiais civis que trabalharam na investigação.
O caso chegou ao Ministério Público, que ofereceu denúncia. A prisão preventiva foi decretada esta semana pela 3ª Vara de São José dos Campos. Ele responde pelos crimes de estupro, furto, ameaça, extorsão e violência doméstica.
O acusado também deve responder por falsa comunicação de crime, já que registrava boletins de ocorrência para intimidar as vítimas. Em um dos casos, ele chamou a polícia para acusar a mulher por ameaça e perturbação do sossego.
Por telefone, o G1 tentou localizar a advogada do acusado, mas até o horário de publicação desta matéria não houve retorno.
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