segunda-feira, 20 de agosto de 2012

OS "ADMINISTRADORES" DO SEU DINHEIRO - PARTE II


GOIS DE PAPEL

A bancada das quatro rodas

O flagrante delito do carro oficial placa 066, do presidente da Comissão de Esportes da Assembleia do Rio, deputado Chiquinho da Mangueira, estacionado sobre a calçada de uma rua em Vila Isabel, publicado quarta passada aqui, agitou a caixa postal da coluna. Muitos questionaram a expansão da frota do Poder Legislativo. Há vereadores de municípios miúdos que flanam a bordo de carros pretos, com chapas de bronze, pagos com o meu, o seu, o nosso dinheiro. É a “bancada das quatro rodas”.

A frota da Assembleia do Rio tem 157 veículos (carros, reboque, caminhonete, caminhão, ônibus como o do consumidor, que faz atendimentos ao público, e outros reservas). Cada um dos 70 deputados têm direito a carro com motorista e uma cota mensal de combustível de R$ 2.700 em vale-gasolina. 

Os deputados federais não têm direito a carro. Ainda assim, a Câmara, em Brasília, possui 80 veículos (inclusive, caminhão, caminhonete, ônibus, van, picape, motocicleta e ambulância). A despesa total com esta frota alcança R$ 6,5 milhões por ano. Só com motoristas terceirizados, a Casa do povo gasta R$ 4,8 milhões. Apesar de não desfrutarem de carro oficial, os deputados têm uma cota parlamentar que pode ser usada para locação de veículos, com limite de R$ 4.500 mensais para combustível. 

Nem sempre foi assim. Na década de 1940, no Rio, então capital da República, a Câmara tinha apenas 11 veículos. Aliás, em 1947, a Casa viveu um pequeno escândalo para padrões mensaleiros de hoje. O deputado baiano Altamirando Requião embarcou de navio para Salvador com um dos carros. Requião, que não devia ser parente do atual senador paranaense, ao ser denunciado por um colega da bancada baiana, o comunista Carlos Marighella, reagiu: “Não tenho carro particular e acho feio para um cavalheiro andar de ônibus”. Diante da insistência de Marighella, Requião teve um ataque de racismo: “Não permito que elementos de cor como Vossa Excelência se intrometam no meu discurso.”
O episódio está no livro “Marighella — O guerrilheiro que incendiou o mundo”, do coleguinha Mário Magalhães, que sai em outubro. Mas aí é outra história.
(Jorge Antonio Barros)

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