sábado, 18 de fevereiro de 2012

EX-OBESO E A FORÇA DE VONTADE




Morte da mãe em cirurgia bariátrica faz estudante do ES perder 50 kg

Lucas Arosio, de 23 anos, iniciou reeducação alimentar e exercícios.
Após sofrer com ansiedade, calor e preconceito, jovem tem vida social.

Luna D'AlamaDo G1, em São Paulo

A morte da mãe do estudante de direito Lucas Cesar Arosio, de 23 anos, em uma cirurgia de redução de estômago em 2006, foi uma espécie de gatilho para ele perceber que precisava emagrecer.
O processo de conscientização levou mais algum tempo e precisou do incentivo de uma amiga personal trainer e da irmã mais velha, que já havia eliminado 20 kg. Um ano e meio atrás, portanto, o morador de Vila Velha (ES) iniciou a mudança de hábitos, acelerou o metabolismo e baixou de 130 kg para 80 kg, em 1,80 m de altura. Por semana, chegou a reduzir 3 kg.
“Após perder minha mãe, comecei a pensar na saúde e no que estava fazendo com a minha vida e o meu próprio corpo. Tinha uma visão distorcida de mim, não me achava tão gordo, só gordinho”, conta Lucas, que atingiu o patamar da obesidade mórbida.
Montagem Lucas (Foto: Arquivo pessoal)Estudante de direito aparece em foto de 2010 (à esq.) e bem mais magro este ano (Foto: Arquivo pessoal)
O estudante substituiu a alimentação rica em gorduras, frituras, doces e refrigerante – cortados radicalmente durante oito meses – por itens mais saudáveis e refeições regradas, feitas religiosamente a cada 3 horas. Desde então, coloca o alarme do celular para despertar.
“Quase sempre pulava o café da manhã e chegava a comer três hambúrgueres acompanhados de dois litros de refrigerante de uma vez só. Duas barras grandes de chocolate também iam numa tarde”, lembra.
Os salgadinhos, lanches, biscoitos recheados e outros tipos de comida rápida eram suas opções favoritas. Elas foram trocadas por sanduíches e biscoitos leves, iogurtes, sucos, frutas como maçã, banana e mamão, e até 2,5 litros de água por dia – carrega sempre uma garrafinha.
“Agora tomo café sempre e levo marmita de casa para o almoço, que antes era em restaurante de buffet e chegava a pegar até 1 kg de comida, com muita massa, arroz, carne vermelha, sobremesa e refrigerante. Eu dizia que não gostava de coisas saudáveis sem nunca ter experimentado”, recorda o estudante, que no começo contou com a orientação de uma nutricionista.
Lucas 3 (Foto: Arquivo pessoal)Lucas faz aulas de muay thai há sete meses e
agora leva uma amiga junto (Foto: Arquivo pessoal)
Malhação, corrida e muay thai
No fim de 2009, Lucas também se matriculou na academia, onde passou a fazer 1 hora de atividade aeróbica no transport (simulador de caminhada) e musculação cinco vezes por semana. Hoje, vai seis vezes por semana e passa até 3 horas no local.
“No início, tinha que cuidar das articulações e malhava para fortalecer o corpo. Agora quero ganhar massa e chegar aos 85 kg ou 90 kg”, diz.
O morador de Vila Velha, que é gaúcho de Passo Fundo, também corre 10 km no calçadão da praia, três vezes por semana à noite, e há sete meses pratica muay thai, que o ajudou a perder os últimos 16 kg de gordura.
“Sempre gostei de exercícios, mas não conseguia fazer e também sentia vergonha. Na época do colégio, jogava vôlei, no máximo”, ressalta.
Ansiedade, calor e preconceito
Lucas lembra que a ansiedade o fazia mastigar ou ter algo na boca o tempo todo, nem que fosse uma bala. Além disso, ficava sentado por muito tempo no escritório, onde sentia fome. “Já não penso mais na comida como uma fuga de problemas e estresse, mas como algo que deve contribuir para que eu continue vivendo com qualidade”, afirma.
Eu tinha uma visão distorcida de mim, não me achava tão gordo, só gordinho"
Lucas Arosio
E, com o excesso de gordura, ele sofria demais com o calor. “Tenho que trabalhar de roupa social, e resolvia pendências na rua, andava de ônibus. Aí suava muito”, revela.
O jovem enfrentou, ainda, o preconceito das pessoas, principalmente na época da escola, em que era excluído dos grupos e das festas.
“Agora tenho mais amigos, mas porque me abri, o problema estava em mim. E, para uma menina ficar comigo antes, tinha que me conhecer muito além da primeira impressão. Hoje minha vida social anda bem agitada, e é muito bom ver interesse no olhar de outra pessoa na rua”, destaca.
Lucas diz que não mudou só por fora, mas também por dentro. “Eu era fechado para o mundo, triste, cabisbaixo. Me protegia para não sofrer. Agora estou aberto a novas possibilidades e me sinto capaz de qualquer coisa, pois já passei pelo mais difícil", acredita.
Montagem Lucas 2 (Foto: Arte/G1)Jovem continua usando terno por causa da profissão, mas em 2007 (à esq.) era bem maior (Foto: Arte/G1)
Guarda-roupa renovado
O morador do ES teve que se desfazer de todas as roupas antigas, pois não podiam ser ajustadas. Então, doou as peças para uma instituição de caridade e foi comprando novas aos poucos. “Comecei a me ligar em moda, porque antes usava o que servia. Agora me visto melhor”, comemora.
A blusa, que era XXL, ou GGG, virou P ou M, dependendo do modelo. A calça tamanho 54 diminuiu para 40. Ele ainda não sai sem camisa ou usa roupa de banho porque ficou com flacidez na barriga, cuja pele gostaria de retirar numa cirurgia plástica que custa R$ 10 mil.
Hoje minha vida social anda bem agitada, e é muito bom ver interesse no olhar de outra pessoa na rua"
Lucas Arosio
“Olho para mim e sinto um grande orgulho. O segredo é ter determinação, disciplina e estabelecer metas de curto prazo para estar sempre motivado”, cita.
Lucas comenta que o incentivo da irmã, com quem morava no começo da reeducação alimentar, foi fundamental. “Quando há um obeso em casa, todos têm que mudar, senão não adianta. No meu caso, só tinha o que eu podia comer, e ela me acompanhou mesmo sem precisar emagrecer”, afirma.
Além da irmã, que hoje é magra, o jovem tinha a mãe, tios e um primo (que fez bariátrica) com excesso de peso. “Fui uma criança normal, mas engordei na adolescência. Sou de uma família gaúcha que, na maioria, vive numa cidade fria e não tem a cultura de se exercitar”, conta.
Antes de perder peso de forma saudável, Lucas tomou moderadores de apetite à base de anfetamina. “Usei várias vezes, durante dois ou três meses seguidos, por conta própria ou recomendação de médicos duvidosos. Mas parei porque me dava muito efeito colateral, como tremedeira, boca seca e gosto amargo”, diz. Quando interrompia a medicação, o estudante ganhava o dobro dos quilos eliminados.
O objetivo agora é resistir às tentações, estabilizar-se na balança e controlar, para o resto da vida, a facilidade de engordar. “Muitas pessoas à minha volta não me reconhecem e pensam que a perda de peso ocorreu da noite para o dia, como num passe de mágica. Mas me esforcei muito para isso e ainda tenho dificuldade em me manter, pois engordo só de passar perto da comida”, afirma.
Três amigas de Lucas já foram incentivadas pela história dele e emagreceram – uma delas, 13 kg. “Hoje, ela corre e faz muay thai comigo”, revela.

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