NOSSA REGIÃO
Jornal O VALE
January 26, 2012 - 04:00
Após reintegração de posse, Pinheirinho vira ‘terra sem lei’
Claudio Capucho
Terreno é invadido por saqueadores dez minutos depois de ser devolvido oficialmente à massa falida da empresa Selecta S/A; uma máquina que fazia a demolição de casas na área foi incendiada por vândalos
Beatriz Rosa
São José dos Campos
A área do Pinheirinho, na zona sul de São José, se transformou em ‘terra de ninguém’ dez minutos após a conclusão da reintegração de posse oficial do terreno.
Vândalos atearam fogo em uma das seis máquinas escavadeiras que trabalhavam na demolição das casas e saqueadores invadiram o terreno em busca materiais de construção, móveis e eletrodomésticos deixados pelos sem-teto.
A reintegração foi iniciada às 6h do último domingo concluída oficialmente às 19h20 de ontem. Uma hora antes ainda era possível observar caminhões de mudança deixando a área.
Entrega. Representantes da Justiça, da Polícia Militar e um advogado da massa falida da empresa Selecta, proprietária do Pinheirinho, assinaram uma ata de reintegração de posse da área.
Temendo por sua segurança, o representante da massa falida assinou o documento sem sair do carro. Cerca de 400 policiais que faziam a segurança da área partiram.
Minutos depois, a fumaça indicava o primeiro ato de vandalismo após a reintegração de posse.
Uma escavadeira que estava dentro do Pinheirinho foi incendiada.
De acordo com o operador da máquina, L. A, pelo menos três homens chegaram em um carro e colocaram colchões e pneus sobre a escavadeira. Em seguida, atearam fogo.
Após o incêndio, depositários da massa falida retiraram todo o maquinário da área sob a escolta da polícia.
“Por falta de segurança, iremos retirar tudo. Essas máquina foram alugadas. Vou fazer boletim de ocorrência e acionar a juíza para nos dar segurança para continuar nosso trabalho. Essa área foi abandonada”, disse o depositário da massa falida, Reinaldo Maia.
Segundo ele, era necessário mais um dia de trabalho para concluir todas as demolições. Ele estima que 10% das casas ainda estão de pé.
Saques. A ausência da PM também atraiu um grande número saqueadores ao terreno.
Nem mesmo a escuridão atrapalhou o ‘garimpo’ nos escombros. “Vim em busca de cobre, mas eu não morava aqui não”, disse uma mulher, que saiu sem se identificar.
A todo o momento, pessoas saiam do terreno carregando cadeiras, prateleiras, caixas d’água, barras de ferro, madeira e até galinhas.
Segurança. Segundo a PM, com o fim da reintegração a responsabilidade pela gleba passa para a massa falida.
“A ação da PM acaba hoje \[ontem\] com a finalização da operação. A responsabilidade pelo patrimônio privado é do proprietário. A PM não trabalha para a área. Vamos cuidar das pessoas do bairro”, disse o comandante da corporação no Vale do Paraíba, coronel Manoel Messias Mello.
A PM irá manter apenas o policiamento nos arredores do Pinheirinho para garantir a segurança de moradores.
A corporação entende que, em caso de uma nova invasão, não será necessário um outro processo judicial para que haja a desocupação da área.
“A Justiça já se decidiu. Se as pessoas voltarem para a área, podemos cumprir novamente a reintegração”, disse o capitão da PM Antero Alves.
A Prefeitura de São José informou que não tem nenhuma responsabilidade sobre a área do Pinheirinho.
DENÚNCIA
Vídeo mostra agressão da GCM
São José dos Campos
Um novo vídeo que circula na internet mostra guardas civis agredindo um coordenadores do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), Guilherme Boulos, durante a reintegração de posse do Pinheirinho.
As imagens mostram um confronto entre integrantes da Guarda, policiais militares e sem-teto dentro do centro poliesportivo do Campo dos Alemães, onde a prefeitura montou centro de triagem.
Após o desentendimento, as partes se dispersam. Logo depois, quatro guardas aparecem arrastando Boulos --que aparenta estar ferido no rosto-- algemado. O líder do MTST é puxado pelos cabelos e empurrado para dentro de uma viatura da Guarda Civil.
No dia da reintegração, um ex-morador do Pinheirinho foi baleado pelas costas durante confronto com guardas municipais. Ele está internado PS da Vila Industrial.
A Polícia Civil apura a denúncia de que o disparo teria sido feito por um guarda.
A prefeitura informou ontem que vai analisar toda a ação da Guarda na operação.
Polícia. A Polícia Militar apura o espancamento de um homem por um grupo de policiais militares no centro de triagem da prefeitura. O caso ganhou repercussão nacional.
A vítima, o servente de pedreiro Claudio Anésio Martins, 49 anos, disse que estava no local apenas para ajudar a ex-mulher com a mudança e acabou atacado porque PMs o teriam confundido com um homem que arremessou uma pedra contra o grupo.
Desde domingo, a PM prendeu 21 pessoas em operações contra atos de vandalismo na zona sul de São José.
VISTORIA
Líder sem-teto planeja visitar terreno hoje
São José dos Campos
Lideranças do movimento sem-teto pretendem fazer hoje uma vistoria no terreno do Pinheirinho para identificar se a reintegração de posse do terreno foi realmente concluída pela PM.
“Se não foram demolidas todas as casas e a reintegração não foi concluída, cabe as famílias voltar para o terreno. Isso está garantido na Constituição”, disse o líder dos sem-teto Valdir Martins, o Marrom.
Marrom criticou “a forma truculenta” como a desocupação foi realizada. Em apenas quatro dias, foram removidas 1.700 famílias. Normalmente, uma desocupação desse porte levaria 15 dias.
“Parecia que eles tinham medo de uma decisão do Supremo. Fizeram tudo às pressas e deixaram muitas famílias sem seus pertences. Destruiram casas com tudo dentro”, disse.
Prejuízos. Segundo Marrom, o movimento irá acionar a Defensoria Pública para cobrar do Estado ressarcimento pelos prejuízos materiais.
“O Estado vai ter que pagar. Essa ação covarde de desocupação foi um estupro social nos moradores do Pinheirinho. As famílias não tiveram o direito nem de retirar seus móveis e documentos.”
Segundo ele, a associação de moradores também pretende questionar a polícia oficialmente sobre o desaparecimento de pelo menos oito pessoas.
“Estamos percorrendo os abrigos para identificar casos de abuso da polícia e pessoas que estão desaparecidas.”
A REINTEGRAÇÃO
InícioAs 6h do último domingo e envolveu um contingente de cerca de 2.0040 homens da Polícia Militar
RemoçãoTodas as 1.700 famílias foram removidas da área. A prefeitura cadastrou 953 delas. Parte delas foi levada para abrigos
ConclusãoA conclusão da reintegração de posse foi ontem às 19h20. Um documento assinado por representantes da Massa Falida, da PM e do Judiciário atestou a entrega da área livre de pessoas e bens
São José dos Campos
A área do Pinheirinho, na zona sul de São José, se transformou em ‘terra de ninguém’ dez minutos após a conclusão da reintegração de posse oficial do terreno.
Vândalos atearam fogo em uma das seis máquinas escavadeiras que trabalhavam na demolição das casas e saqueadores invadiram o terreno em busca materiais de construção, móveis e eletrodomésticos deixados pelos sem-teto.
A reintegração foi iniciada às 6h do último domingo concluída oficialmente às 19h20 de ontem. Uma hora antes ainda era possível observar caminhões de mudança deixando a área.
Entrega. Representantes da Justiça, da Polícia Militar e um advogado da massa falida da empresa Selecta, proprietária do Pinheirinho, assinaram uma ata de reintegração de posse da área.
Temendo por sua segurança, o representante da massa falida assinou o documento sem sair do carro. Cerca de 400 policiais que faziam a segurança da área partiram.
Minutos depois, a fumaça indicava o primeiro ato de vandalismo após a reintegração de posse.
Uma escavadeira que estava dentro do Pinheirinho foi incendiada.
De acordo com o operador da máquina, L. A, pelo menos três homens chegaram em um carro e colocaram colchões e pneus sobre a escavadeira. Em seguida, atearam fogo.
Após o incêndio, depositários da massa falida retiraram todo o maquinário da área sob a escolta da polícia.
“Por falta de segurança, iremos retirar tudo. Essas máquina foram alugadas. Vou fazer boletim de ocorrência e acionar a juíza para nos dar segurança para continuar nosso trabalho. Essa área foi abandonada”, disse o depositário da massa falida, Reinaldo Maia.
Segundo ele, era necessário mais um dia de trabalho para concluir todas as demolições. Ele estima que 10% das casas ainda estão de pé.
Saques. A ausência da PM também atraiu um grande número saqueadores ao terreno.
Nem mesmo a escuridão atrapalhou o ‘garimpo’ nos escombros. “Vim em busca de cobre, mas eu não morava aqui não”, disse uma mulher, que saiu sem se identificar.
A todo o momento, pessoas saiam do terreno carregando cadeiras, prateleiras, caixas d’água, barras de ferro, madeira e até galinhas.
Segurança. Segundo a PM, com o fim da reintegração a responsabilidade pela gleba passa para a massa falida.
“A ação da PM acaba hoje \[ontem\] com a finalização da operação. A responsabilidade pelo patrimônio privado é do proprietário. A PM não trabalha para a área. Vamos cuidar das pessoas do bairro”, disse o comandante da corporação no Vale do Paraíba, coronel Manoel Messias Mello.
A PM irá manter apenas o policiamento nos arredores do Pinheirinho para garantir a segurança de moradores.
A corporação entende que, em caso de uma nova invasão, não será necessário um outro processo judicial para que haja a desocupação da área.
“A Justiça já se decidiu. Se as pessoas voltarem para a área, podemos cumprir novamente a reintegração”, disse o capitão da PM Antero Alves.
A Prefeitura de São José informou que não tem nenhuma responsabilidade sobre a área do Pinheirinho.
DENÚNCIA
Vídeo mostra agressão da GCM
São José dos Campos
Um novo vídeo que circula na internet mostra guardas civis agredindo um coordenadores do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), Guilherme Boulos, durante a reintegração de posse do Pinheirinho.
As imagens mostram um confronto entre integrantes da Guarda, policiais militares e sem-teto dentro do centro poliesportivo do Campo dos Alemães, onde a prefeitura montou centro de triagem.
Após o desentendimento, as partes se dispersam. Logo depois, quatro guardas aparecem arrastando Boulos --que aparenta estar ferido no rosto-- algemado. O líder do MTST é puxado pelos cabelos e empurrado para dentro de uma viatura da Guarda Civil.
No dia da reintegração, um ex-morador do Pinheirinho foi baleado pelas costas durante confronto com guardas municipais. Ele está internado PS da Vila Industrial.
A Polícia Civil apura a denúncia de que o disparo teria sido feito por um guarda.
A prefeitura informou ontem que vai analisar toda a ação da Guarda na operação.
Polícia. A Polícia Militar apura o espancamento de um homem por um grupo de policiais militares no centro de triagem da prefeitura. O caso ganhou repercussão nacional.
A vítima, o servente de pedreiro Claudio Anésio Martins, 49 anos, disse que estava no local apenas para ajudar a ex-mulher com a mudança e acabou atacado porque PMs o teriam confundido com um homem que arremessou uma pedra contra o grupo.
Desde domingo, a PM prendeu 21 pessoas em operações contra atos de vandalismo na zona sul de São José.
VISTORIA
Líder sem-teto planeja visitar terreno hoje
São José dos Campos
Lideranças do movimento sem-teto pretendem fazer hoje uma vistoria no terreno do Pinheirinho para identificar se a reintegração de posse do terreno foi realmente concluída pela PM.
“Se não foram demolidas todas as casas e a reintegração não foi concluída, cabe as famílias voltar para o terreno. Isso está garantido na Constituição”, disse o líder dos sem-teto Valdir Martins, o Marrom.
Marrom criticou “a forma truculenta” como a desocupação foi realizada. Em apenas quatro dias, foram removidas 1.700 famílias. Normalmente, uma desocupação desse porte levaria 15 dias.
“Parecia que eles tinham medo de uma decisão do Supremo. Fizeram tudo às pressas e deixaram muitas famílias sem seus pertences. Destruiram casas com tudo dentro”, disse.
Prejuízos. Segundo Marrom, o movimento irá acionar a Defensoria Pública para cobrar do Estado ressarcimento pelos prejuízos materiais.
“O Estado vai ter que pagar. Essa ação covarde de desocupação foi um estupro social nos moradores do Pinheirinho. As famílias não tiveram o direito nem de retirar seus móveis e documentos.”
Segundo ele, a associação de moradores também pretende questionar a polícia oficialmente sobre o desaparecimento de pelo menos oito pessoas.
“Estamos percorrendo os abrigos para identificar casos de abuso da polícia e pessoas que estão desaparecidas.”
A REINTEGRAÇÃO
InícioAs 6h do último domingo e envolveu um contingente de cerca de 2.0040 homens da Polícia Militar
RemoçãoTodas as 1.700 famílias foram removidas da área. A prefeitura cadastrou 953 delas. Parte delas foi levada para abrigos
ConclusãoA conclusão da reintegração de posse foi ontem às 19h20. Um documento assinado por representantes da Massa Falida, da PM e do Judiciário atestou a entrega da área livre de pessoas e bens
Nenhum comentário:
Postar um comentário