Executivos declaram que Apple sabe do trabalho escravo nas fábricas da FoxconnDe acordo com fontes, abusos de serviços continuam porque "não há outra alternativa". Para ex-executivo, muitos ficariam perturbados se conhecessem a origem do iPhone | |
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Foxconn (Reprodução) |
As informações foram declaradas por mais de trinta operários atuais ou antigos, além de cerca de seis executivos também atuais ou antigos da empresa da maçã, todos sob condições de anonimato. O texto fala sobre as péssimas e desumanas condições de trabalho nas instalações da Foxconn, na China. Trechos trazem as péssimas condições do ambiente e a agonia de funcionários que sofreram acidentes ou de pessoas que perderam parentes dentro da companhia, como em cenários de explosões e serviços forçados.
"Nós já sabíamos dos abusos de trabalho em algumas fábricas há quatro anos e, mesmo assim, eles ainda estão acontecendo. Por quê? Porque o sistema funciona para nós. Os fornecedores mudariam tudo amanhã se a Apple dissesse não haver outra alternativa", disse um ex-executivo da Apple que, assim como outros citados na matéria, falou sob condição de anonimato devido a acordos de confidencialidade assinados com a companhia.
Outros ex-executivos da maçã dizem que há uma tensão dentro da empresa: uma parte quer melhorar as condições nas fábricas, mas todo o empenho nesse sentido se esgota pela necessidade da entrega rápida de novos produtos e lucros incessantes. O árduo sistema de produção na China tornou possível fazer dispositivos de maneira rápida e surpreendente, e não apenas para a Apple. Outras empresas de tecnologia, como Dell, HP, IBM, Lenovo, Motorola, Nokia, Sony e Toshiba também foram citadas na entrevista.
Ainda segundo a reportagem, menores de idade têm ajudado a construir os produtos da Apple, como iPhones e iPads, e os fornecedores têm descartado resíduos tóxicos de forma inadequada, gerando uma série de infrações já registradas pelas auditorias promovidas pela própria Apple. Contudo, não houve sequer uma solução mais eficaz para o problema. Além disso, os funcionários trabalham horas extras excessivas - e, em alguns casos, sete dias por semana -, e vivem em dormitórios lotados.
Os executivos argumentam que o sistema não é dos melhores, mas que uma possível reforma radical poderia tornar o processo de produção mais lento. As pessoas querem inovações eletrônicas todo ano e isso custa dinheiro. Como a mão de obra na China é mais barata do que em outros locais, o país se tornou o paraíso para que as gigantes da tecnologia produzam seus dispositivos de maneira rápida e a baixo custo.
"A Apple nunca se preocupou com nada além de aumentar a qualidade dos seus produtos e diminuir o custo de produção. O bem-estar dos trabalhadores não faz parte dos interesses da Apple", disse Li Mingqi, que até abril de 2011 trabalhou na administração da Foxconn. Li está processando a taiwanesa por causa da sua demissão. Quando era funcionário, ajudou a gerenciar a fábrica de Chengdu, onde ocorreram explosões.
Em 2010, Steve Jobs falou sobre as relações da empresa com os seus fornecedores, em uma conferência para investidores da indústria. "Acho que a Apple faz um dos melhores trabalhos entre todas as companhias em nossa indústria, e talvez em qualquer setor, ao compreender as condições de trabalho na nossa cadeia de fornecimento. É uma fábrica, mas eles têm restaurantes, cinemas, hospitais e piscinas, e, para uma fábrica, isso é muito bom."
Um ex-executivo da Apple afirmou que "realmente estamos tentando fazer com que as coisas fiquem melhores. Mas a maioria das pessoas ainda ficaria perturbada se visse de onde vem o seu iPhone".
Apple responde
Por meio de uma carta enviada a seus funcionários, Tim Cook, CEO da Apple, rebateu a reportagem do The New York Times. O site 9to5Mac divulgou o documento, que traz afirmações como, por exemplo, a de que a Apple "se preocupa com cada um de seus trabalhadores em toda a cadeia do processo. Qualquer acidente é um problema, e qualquer incidente relacionado a condições de trabalho é motivo de preocupação. Qualquer insinuação de que não nos preocupamos é falsa e ofensiva para nós". Ele ainda afirma que a Apple inspeciona cada vez mais fábricas todos os anos, expandindo cada vez mais a fiscalização para todas as suas fornecedoras. "A gente desconhece qualquer um em nossa indústria que faça tanto quanto nós, em tantos lugares, com tantas pessoas".
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