sexta-feira, 8 de abril de 2011









07/04/2011

às 18:54 \ Direto ao Ponto

Lula inaugura o segundo Dia da Mentira

O ex-presidente Lula acordou no hotel em Washigton, nesta quarta-feira, disposto a transformar 6 de abril num segundo Dia da Mentira. Primeiro, aproveitou a palestra patrocinada pela Microsoft para revelar que a solução de todos os problemas do mundo está na praia. Cobrou 200 mil dólares por 90 minutos de pontapés na verdade. Continuou a espancá-la de graça depois do falatório remunerado, ao topar com jornalistas brasileiros interessados em saber o que achava do relatório final da Polícia Federal sobre o escândalo do mensalão.

Forçado a renunciar à mudez malandra, Lula ergueu cinco monumentos à mentira com as cinco frases seguintes:

1. “Não tem relatório final do mensalão, tem uma peça que dizem que foi o relatório produzido pela Polícia Federal”.


“Dizem” coisa nenhuma. “Produzido” coisa nenhuma. Foi divulgado o relatório final da Polícia Federal, fruto de cinco anos de investigações. Lula sabe disso.

2. “Não se sabe se o ministro Joaquim vai receber ou não, se aquilo vai entrar nos autos do processo”.

O ministro Joaquim Barbosa já informou que não pretende anexar o relatório da PF aos autos do processo que deverá ser julgado no começo de 2012. O documento será incorporado a um segundo processo em curso no Supremo. Lula sabe disso.

3. “Se entrar, todos os advogados de defesa vão pedir prazo para julgar, então vai ser julgado em 2050″.


Esse é o plano concebido pelo ex-ministro Márcio Thomaz Bastos, comandante do pelotão de bacharéis mobilizado para a absolvição dos mensaleiros. Joaquim Barbosa decidiu manter o relatório fora do processo precisamente para evitar mais uma chicana. Adiar o julgamento para 2050, ou para o século 22, é o sonho do bando delinquentes. Infelizmente para os réus, o relatório da PF não poderá ser utilizado para concretizá-lo. Lula sabe disso.

4. “Então, não sei se vai acontecer”.

Se não soubesse, não teria preenchido todas as vagas abertas no STF com ministros de confiança. Claro que Lula sabe.

5. “Não tive chance de dar uma olhada nem vou olhar, não sou advogado”.

Teve chances e tempo, que sempre sobra para quem não tem trabalho fixo. O que falta a Lula é vontade de ler qualquer coisa. Não é advogado porque nunca teve disposição para estudar, mas vive advogando em favor de bandidos de estimação. Sem profissão definida, apresentou-se em Washington como palestrante. Rima com farsante. Deveria criar coragem e ler o relatório da Polícia Federal. Vai gostar de saber do que escapou.


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06/04/2011

às 22:11 \ Direto ao Ponto

Depois de inventar o ministério sem ministro, Dilma cria a estatal do trem fantasma

Com duas medidas provisórias, Dilma Rousseff criou o ministério sem ministro e a estatal que pilota trem fantasma. Há dias, os parlamentares governistas assinaram a certidão de nascimento da Secretaria de Aviação Civil. Só falta escolher o chefe, que terá status de ministro. Nesta terça-feira, a Câmara dos Deputados apressou o parto da Empresa do Trem de Alta Velocidade (ETAV). Falta o trem-bala que Lula prometeu inaugurar em 2010 e não apitará em curva nenhuma antes de 2016. Depois dos Jogos Olímpicos do Rio.


Faltam também empresas interessadas na construção do colosso ferroviário que promete viagens de Primeiro Mundo na rota Campinas-São Paulo-Rio de Janeiro. Mas a gastança já começou: a medida provisória que criou a estatal do nada autoriza a União a garantir um empréstimo de até R$ 20 bilhões ao consórcio vencedor da licitação que deveria ter ocorrido em 16 de dezembro de 2010, foi remarcada para o fim deste mês e será novamente adiada por três meses. Mesmo com a abertura dos cofres do BNDES, será preciso esperar mais três meses. No mínimo.

Como demonstra o texto reproduzido na seção Vale Reprise, faltam ferrovias, vagões, locomotivas, metrôs, falta tudo que ande sobre trilhos, que também não existem. Nada disso parece importante aos passageiros da megalomania, da jequice e da ganância. Os países sensatos concluem a montagem de um sistema de transportes eficaz com a construção do trem-bala. O governo brasileiro resolveu começar pelo último capítulo. É mais que um monumental equívoco administrativo. É mais que um desperdício de pelo menos R$ 33 bilhões. É um ato criminoso tramado pelos parceiros que se consideram condenados à impunidade.


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06/04/2011

às 0:46 \ Direto ao Ponto

O relatório da Polícia Federal sobre o mensalão fez Lula perder a pose e a voz

Surpreendido pela divulgação do relatório da Polícia Federal sobre o mensalão, que ampliou o número de integrantes e o acervo das bandalheiras da quadrilha, o ex-presidente Lula perdeu de novo a pose e a voz. Achou melhor guardá-las para duas palestras pagas em dólares e proibidas para jornalistas — uma em Washington, outra em Acapulco — e um encontro (sem remuneração em dinheiro) com banqueiros internacionais na Cidade do México. Nesta terça-feira, depois do acesso de mudez que o livrou da imprensa na véspera, embarcou rumo aos EUA num jatinho cedido pela Coteminas. Mandou avisar que estará de volta no fim de semana.


O ilusionista terá cinco dias para planejar o próximo ato do interminável espetáculo da mentira — e preparar o próximo truque . O estoque vai chegando ao fim. Desde julho de 2005, quando o país foi confrontado com o pai de todos os escândalos, Lula já pediu desculpas por não ter enxergado o mensalão, já se declarou traído sabe-se lá por quem, já procurou transformar roubalheira em caixa 2, já tentou reduzir crimes hediondos a erros corriqueiros, já jurou que o mensalão não existiu – até decidir, há um ano e meio, que tudo não passou de uma invencionice forjada pela oposição para derrubar o governo. E prometeu apurar a trama assim que deixasse a Presidência.

Em 5 de novembro de 2009, numa entrevista ao repórter Kennedy Alencar, caprichou na imitação de detetive de filme classe C para impressionar os espectadores da RedeTV! com a frase enigmática: “Essa história de mensalão é uma das muitas histórias que ainda não estão devidamente esclarecidas e explicadas. Quando estiver fora do governo, eu vou me dedicar a estudar o caso até entender o que realmente aconteceu”.

Se tivesse lido a denúncia do procurador-geral Antonio Fernando Souza, trataria de manter-se distante do tema de altíssima voltagem. Se conhecesse o conteúdo do processo que corre no Supremo Tribunal Federal, não teria embarcado na falácia irresponsável. Se pressentisse a aproximação do relatório da Polícia Federal, teria procurado Kennedy Alencar para retirar o que disse. Ou por sobra de autoconfiança ou por falta de juízo, segue na trilha que leva ao penhasco.

Oficialmente, Lula ainda não comentou o relatório por ignorar-lhe o teor. Como não teve acesso ao documento, mandou dizer por um assessor de imprensa que só poderia falar mais tarde. Quem jamais leu um livro dificilmente encontrará ânimo para a travessia das 332 páginas que resumem as descobertas dos investigadores. Mas decerto pediu que alguém lesse em voz alta o noticiário dos jornais. Descobriu que a bravata declamada em 2009 foi implodida de vez pela Polícia Federal. E soube que o bando de mensaleiros ficou um pouco maior.

Ficou também um pouco pior para quem sempre alegou não ter visto nem ouvido nada que o alertasse para a roubalheira arquitetada nas salas ao lado ou um andar acima do gabinete no Planalto. A turma que acaba de subir ao palco inclui, por exemplo, o notório Freud Godoy, amigo e ex-segurança de Lula, que confessou aos investigadores da Polícia Federal ter embolsado dinheiro do propinoduto administrado por Marcos Valério.

Lula está dispensado de investigar o falso enigma. Ele sabe o que houve. Sempre soube. Se acaso esqueceu alguns detalhes da grande farra de 2005, basta convocar para uma noitada de drinques e conversas os companheiros Delúbio Soares, José Genoíno, Freud Godoy e mais dois ou três comparsas. Com José Dirceu como convidado especial, naturalmente.



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04/04/2011

às 23:13 \ Direto ao Ponto

A troca do presidente da Vale informa que o governo brasileiro acabou de inventar a demissão por excesso de competência

Ao se intrometer na vida da Vale, o governo federal produziu simultaneamente três assombros: inventou a demissão por excesso de competência, transformou Roger Agnelli no único executivo da história que perdeu emprego por ter feito tudo certo e criou a primeira empresa privada do Brasil cuja diretoria é escolhida pelo Palácio do Planalto e decidiu nesta segunda-feira que o novo comandante será o ex-diretor Murilo Ferreira. Não é pouca coisa. E não é tudo.


Bastou a notícia de que o governo resolvera ditar os rumos da Vale para que mais de 4 milhões de investidores começassem a perder dinheiro. Só em março, as aplicações sofreram uma queda de 6,81%. “As ações deveriam estar voando”, disse em entrevista ao jornal O Globo o especialista em investimentos Bruno Lembi. “Os preços do minério estão lá em cima e a Vale divulgou um balanço excepcional”.

Privatizada em maio de 1997, a Vale começou a colecionar cifras superlativas a partir de julho de 2001, quando Agnelli assumiu a presidência para transformá-la, em 10 anos, na segunda mineradora do planeta e na maior produtora mundial de minério de ferro. Em 1997, tinha 11 mil funcionários. Hoje são 174 mil. A extração de minério subiu de 114 milhões de toneladas para 297 milhões de toneladas, e o lucro saltou de R$ 390 milhões para R$ 30,7 bilhões. Os investimentos somaram R$ 19,4 bilhões em 2010. Deverão chegar a US$ 24 bilhões em 2011.

Quem aplicou R$ 1 mil em ações da Vale no dia da posse de Agnelli tinha R$ 16.829 na conta neste 23 de março, quando o afastamento foi oficializado. A valorização foi de 1.583%. Em paragens civilizadas, tal performance faria qualquer chefe de governo disputar Agnelli a socos e pontapés com a iniciativa privada: como não instalar num ministério da área econômica alguém tão singularmente eficaz? No Brasil, como ensinou Tom Jobim, sucesso é ofensa pessoal. E a independência é o oitavo pecado capital aos olhos de governantes autoritários como Lula.

Enciumado com o executivo brilhante, indignado com o homem de empresa que ignorava determinações do presidente da República, Lula ficou à espera do pretexto para o início da ofensiva. A chance chegou em dezembro de 2008, quando a Vale incluiu a demissão de 1.300 funcionários entre as medidas adotadas para abrandar os efeitos da crise econômica internacional. De lá para cá, a abertura de 35 mil novos empregos compensou amplamente o corte, mas Lula continuou a tratar a demonstração de autonomia como traição à pátria.

Com o apoio de Dilma Rousseff, resolveu que ninguém teria sido demitido se a Vale reduzisse a exportação de minério e ampliasse os investimentos em siderurgia. E apertou o cerco ao inimigo imaginário em abril de 2009, quando Demian Fiocca, ex-presidente do BNDES ligado ao ministro Guido Mantega, foi demitido da diretoria da Vale. Em fevereiro deste ano, incumbido por Dilma Rousseff de articular o ataque derradeiro, Mantega conseguiu o apoio da maioria dos controladores da empresa para a torpeza longamente planejada.


Caso o governo soubesse o que é meritocracia, Agnelli poderia ser o ministro da Fazenda e Mantega e Dilma só apareceriam regularmente no gabinete do presidente da Vale se ele fosse o homem do cafezinho e ela, a mulher da limpeza. Na Era da Mediocridade, Obina joga na Seleção e tira Pelé do time. A multidão de ministros e figurões do segundo escalão comprova que, há quase 100 dias, a presidente da República é uma ilha de despreparo cercada por todos os lados de incompetentes, cretinos, vigaristas, ineptos e gatunos.

O Brasil decente sairia ganhando se todas essas nulidades fossem despejadas dos gabinetes que ocupam. Em vez disso, Dilma preferiu ultrapassar as fronteiras do Planalto para castigar a Vale com a demissão de um dos mais talentosos executivos do mundo. O País do Carnaval tem o governo que merece.


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03/04/2011

às 15:40 \ Direto ao Ponto

A homenagem do sindicato dos delegados da PF a Sarney criou outra brasileirice ultrajante: o investigado condecorado


“Polícia é polícia, bandido é bandido”, ensinou ao Brasil dos anos 70 o delinquente Lúcio Flávio Vilar Lírio, um tipo raro de criminoso que rejeitava ligações promíscuas com os homens da lei. Se tivesse sobrevivido, ele ficaria certamente perplexo com a homenagem prestada a José Sarney pelo Sindicato dos Delegados da Polícia Federal (Sindepol). Investigador é investigador, investigado é investigado, diria Lúcio Flávio ao delegado Joel Zarpellon Mazo, presidente do Sindepol.

Invocando os “bons serviços” prestados à instituição pelo presidente do Senado, Mazo entregou-lhe a medalha Deferência Polícia Federal. “Alguém só é considerado culpado depois do trânsito em julgado”, alegou. “A medalha é concedida aos que fizeram e fazem pela Polícia Federal e seus policiais”. O doutor está convidado a revelar que tipo de bom serviço Sarney andou prestando. A julgar pelo noticiário político-policial, o que mais tem feito o clã liderado por José Sarney é dar trabalho aos agentes da PF.

“Tudo isso foi levado em conta pelo conselho ao escolher o seu nome”, retrucou o delegado sindicalista. “Quem responde diante do Poder Judiciário brasileiro não é o presidente Sarney, mas o seu filho, e isso não se relaciona diretamente à pessoa dele”. Como se o primogênito pudesse fazer com qualquer sobrenome as coisas que faz impunemente. Como se o filho agisse agisse escondido do pai.

Os policiais que honram a instituição não podem perder a chance de mostrar que o Sindepol acabou de encenar mais um ato do interminável espetáculo da pouca vergonha. Basta confrontar o presidente da entidade com as conversas telefônicas gravadas pelos colegas escalados para a Operação Boi Barrica. Mazo ficará sabendo, por exemplo, que nos diálogos em código travados por integrantes da quadrilha José Sarney é o “Madre Superiora”, Fernando Sarney é o “Bomba” (ou “Bombinha”, ou “Madre”) e Edison Lobão é o “Magro Velho”.


Saberá, sobretudo, o que a turma andou fazendo. E talvez entenda que, se tivesse aprendido com Lúcio Flávio, não teria piorado o país com a criação de outra brasileirice ultrajante: o investigado condecorado.

Erenice Guerra, Ana Maria Amorim, Mariza Campos e Marisa Letícia

A gestação do tributo a Sarney pode ter começado em 20 de abril de 2010, quando Erenice Guerra foi condecorada com a Grã-Cruz da Ordem do Rio Branco. Agraciada em 2005 com a medalha de Grande Oficial, a melhor amiga de Dilma Rousseff esperou cinco anos para emocionar-se com a mais alta honraria conferida pelo Itamaraty, um privilégio reservado aos que “por qualquer motivo se tenham tornado merecedores do reconhecimento do Governo Brasileiro, servindo para estimular a prática de ações e feitos dignos de honrosa menção, bem como para distinguir serviços meritórios e virtudes cívicas”.

Em setembro passado, soterrada por provas e evidências de que reduzira a Casa Civil a um esconderijo da quadrilha formada por parentes e agregadas, a companheira meliante perdeu o status de ministra, perdeu a pose e perdeu a companhia permanente da Dilma. Mas manteve a medalha. Desde quarta-feira, tem um argumento a mais para recusar-se a devolvê-la. Pode exigir que Sarney devolva a dele primeiro.


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03/04/2011

às 15:34 \ Direto ao Ponto

A Galeria dos Campeões do HSV

Atendendo a uma justa exigência dos leitores-eleitores, a coluna juntou no mesmo espaço os 27 ganhadores do troféu mensal e os dois supercraques contemplados com o título de Homem sem Visão do Ano. A partir deste domingo, a Galeria dos Campeões do HSV está aberta à visitação pública.


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02/04/2011

às 10:18 \ Direto ao Ponto

O vídeo que juntou o talento de Thomaz Farkas e o virtuosismo de Pixinguinha

Confira na seção Feira Livre.


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01/04/2011

às 18:43 \ Direto ao Ponto

Confirmado: na delação premiada à brasileira, ninguém vai para a cadeia

O vídeo que mostra cenas de roubalheira explícita protagonizadas pela deputada federal Jaqueline Roriz e pelo vigarista Durval Barbosa, também produtor e diretor da série de filmes clandestinos, confirmou que o País do Carnaval vai consolidando mais uma assombrosa brasileirice: a delação premiada em que ninguém vai para a cadeia. O resumo da ópera está no primeiro parágrafo do post reproduzido na seção Vale Reprise:


Nos países sérios, a cada delação premiada concedida a um quadrilheiro graúdo segue-se a prisão do resto da quadrilha. O acusador entra no programa de proteção a testemunhas e os acusados vão para a cadeia. No Brasil, a Justiça garante a liberdade do delinquente delator, que não se dá ao trabalho de mudar de endereço nem de identidade, e não prende os meliantes delatados.

Nesta quinta-feira, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal livrou Durval Barbosa de dois dos 20 processos que o envolvem em casos de corrupção, desvio de dinheiro público, fraude em licitações, improbidade administrativa e outras delinquências. No primeiro, a condenação a 4 anos e 7 meses de reclusão foi reduzida a 1 ano e 6 meses e, em seguida, convertida em pena alternativa. No segundo processo, a sentença foi anulada porque a redução da pena antecipou a prescrição do prazo. Assim será com os 18 papelórios que faltam.

Tamanha brandura pareceria menos ultrajante se a Justiça não fosse igualmente misericordiosa com o resto da quadrilha que enriqueceu com o chamado “mensalão do DEM”. Em menos de 10 anos, governadores do Distrito Federal, deputados distritais, secretários estaduais e desembargadores tungaram mais de 4 bilhões de reais. Repito: mais de 4 bilhões. Estão todos em liberdade.

Jaqueline Roriz livrou-se até do trabalho. Não aparece na Câmara desde o dia da estreia do vídeo na TV. Justifica o sumiço com atestados médicos que criaram outra brasileirice: a cleptomaníaca que, depois de um surto especialmente preocupante, precisa de um algumas semanas de vadiagem ao lado do marido gatuno.


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01/04/2011

às 10:01 \ Direto ao Ponto

Celso Arnaldo e a entrevista que virou piada: o jornalista português ainda está tentando entender como Dilma se tornou presidente

Por Celso Arnaldo Araújo


Mea culpa: estávamos errados quando, sarcasticamente, dizíamos que a presidente Dilma, em suas andanças ou entrevistas internacionais, só não precisaria de intérprete em Portugal ou diante de um jornalista luso.

Helena Chagas, titular da Secretaria de Comunicação Social de Dilma, cometeu um grave erro ao expor a chefe a um encontro, sem intermediários, com o premiadíssimo jornalista e escritor Miguel Sousa Tavares, oposicionista ferrenho do atual governo de seu país, um advogado com prosódia de Camilo Castelo Branco e porte de Lord Byron, que conhece o Brasil muito melhor do que sua entrevistada, mas que, depois da conversa, deve estar reconsiderando seu antigo desejo de morar aqui ─ pelo menos até dezembro de 2014.

Miguel fala português bonito, escorreito. O teratológico português de Dilma escorre miúdo de um raciocínio não-linguístico e não-lógico, o dilmês.

A interpretação seria necessária, não para efeito da melhor compreensão das perguntas de Miguel ─ o que não melhoraria as respostas de Dilma ─ mas para verter a um idioma lusófono sadio as respostas de Dilma e assim poupar Miguel da tarefa estupefacta de tentar entender como a mulher à sua frente tornou-se presidente da República de um país tão querido de Portugal.

Uma intérprete do dilmês para o português não deixaria o grande jornalista e pensador luso voltar para casa com uma caravela de respostas sem nexo para exibir aos espectadores da SIC, Sociedade Independente de Comunicação, o primeiro canal de TV privado de Portugal.

(Aliás, vamos e venhamos ─ ou vênhamos, diria nossa presidente: uma estação de TV chamada SIC tem tudo a ver com Dilma. Sic, em latim, é “assim”, “deste modo” — uma expressão utilizada entre parêntesis após uma citação para indicar que uma ou mais palavras originais do texto estão reproduzidas fielmente, mesmo que estejam gramaticalmente ou ortograficamente erradas. Dilma é a presidente Sic ─ cada uma de suas falas, quando reproduzida fielmente, precisaria vir acompanhada de um piedoso sic entre parêntesis. No canal SIC, Dilma é Dilma por inteiro ─ sem necessidade de parêntesis.)


Um intérprete habilidoso, versado em dilmês, tentaria converter para Miguel, em português que tivesse forma e sentido, os raciocínios tortos da presidente na penosa, mas risível, entrevista-piada:

“Nós sabemos, por experiência própria de mais de 20 anos, que a inflação não contribui para o desenvolvimento como muitas vezes alguns pensavam”.

“Nos tiramos da miséria em torno de 28 milhões de brasileiros, miséria ai considerada todos aqueles que ganham 70 reais, é, é, 70 reais de renda per capita”.

“Tem uma parte da retirada das pessoas a partir de um determinado número da miséria que é como se você tivesse de customizá pra tirá”.

“Em qualquer território eu prefiro que não haja declaração de guerra”.

“O senhor Kadafi se enquadra numa situação fora de quaisquer princípios quando se respeita os direitos humanos”.

“Eu não acho que Portugal é Europa. Eu acho que Portugal é Portugal”.

“Nós temos fronteiras bastante extensas no Brasil, tanto no que se refere à fronteira seca como a marítima, ou seja, o nosso litoral pro mar Atlântico”.


“Eu bloqueio a entrada de drogas pelas fronteiras e eu monto os esquemas de controle nas grandes cidades”.

“Em duas grandes cidades do Brasil, o problema [das drogas] é simbólico – Rio e São Paulo”.

“Eu não diria que essa experiência do Rio de Janeiro é um grão de areia. Eu diria que já é uma quantidade de areia mais significativa”.

E então vem a passagem non sense do “mau feitio” de Dilma ─ que definitivamente contrapôs, na entrevista, usuários de idiomas e culturas diferentes. Nunca Brasil e Portugal estiveram tão distantes. E o mau feitio de Dilma deve ter sido a gota d´água que talvez faça Miguel Sousa Tavares rever o sentido do que disse sobre o Brasil, em 2009, profeticamente, numa entrevista ao Diário de Noticias de Lisboa:

“É um país novo, de que eu gosto há muitos anos. E sou muito bem tratado sem ser popular na rua, o que é óptimo. É um país optimista, não está cansado, não está desiludido, sem esperança. Mesmo que agora haja tanta asneira feita no Brasil, todos os dias, não é? Só que eles têm espaço e tempo para uma maior dose de asneira do que nós”.

Com Dilma no poder, e a ameaça real de muito mais constrangimentos, o feitio não é mau nem bom.

O feitio é de oração.



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31/03/2011

às 21:27 \ Direto ao Ponto

Mais sete maravilhas da fauna do Planalto

Antonio Palocci perdeu a chance de candidatar-se à Presidência da República ou ao governo de São Paulo por ter-se enfiado até o pescoço em histórias muito mal contadas, começando pela encomenda do estupro do sigilo da conta bancária do caseiro Francenildo Costa. Pelo mesmo motivo, virou ministro-chefe da Casa Civil. A escolha de quem vai instalar-se no gabinete já ocupado por José Dirceu, Dilma Rousseff e Erenice Guerra é determinada não pelo peso do currículo, mas pelo colorido do prontuário.


Ana de Hollanda acha que Romero Britto é o Velázquez que o Brasil merece. Baseada em pareceres de mil comissões de especialistas, concluiu que é muito justo Maria Bethânia ganhar R$ 50 mil por mês para declamar um poema por dia. Virou ministra da Cultura porque é irmã do Chico.

Guido Mantega tem tanta coragem que, se vislumbrar um tsunami econômico avançando para as praias do Brasil, é capaz de escapar a nado e chegar à África em algumas horas. Continua ministro da Fazenda porque nem precisa de palavras para mentir. Bastam números.

Carlos Lupi não escaparia do camburão se a lei da vadiagem valesse para todos. Longe do batente há muitos anos, tornou-se ministro do Trabalho porque Leonel Brizola era freguês da banca de jornais que explorava no Rio, os dois ficaram amigos, Lupi herdou o PDT do Rio e, graças a um bom contrato de aluguel, acabou escalado para piorar a vida de quem trabalha.

José Eduardo Cardozo sempre usou seus conhecimentos de Direito para livrar da cadeia companheiros delinquentes. Foi instalado no Ministério da Justiça para ampliar o serviço sem suar tanto a camisa: como o ministro também chefia a Polícia Federal, é só impedir que o camburão estacione no lugar certo.

Nelson Jobim só subjugou sucuris de quartel, comandou carnavais fora de época fantasiado de general, almirante ou brigadeiro, foi ignorado por aviões e urubus quando decretou o fim dos atrasos nos pousos e decolagens de tudo que voasse. Continua no Ministério da Defesa por ter virado especialista em compra e venda de caças franceses.


Gilberto Carvalho carregou as malas de Lula durante oito anos. Escalado para cuidar da bagagem de Dilma, pediu que fosse promovido a secretário-geral da Presidência da República para transformar-se no primeiro carregador de malas do Brasil com status de ministro. Vai continuar acumulando a chefia do Departamento Nacional de Acobertamento de Crimes Hediondos, Obstrução da Justiça, Ocultação de Provas e Proteção aos Companheiros Delinquentes.

O desfile do primeiro escalão ainda está na metade. Mas os 17 espantos já apresentados confirmam que a criatura superou o criador em mais um quesito: o ministério de Dilma é um pouco pior que o de Lula.

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