sábado, 5 de fevereiro de 2011

LEIAM E TIREM AS SUAS CONCLUSÕES!!!





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urubu

05/02/2011 - 08h38

Destaques das revistas: Silas e Antônia, o casal encrenca da Câmara

ÉPOCA

Democracia
O que a rebelião no Egito ensina sobre a fraqueza das ditaduras e a construção da liberdade. “Vamos cumprir os acordos assinados”, diz a Época líder da oposição egípcia.

O casal encrenca da Câmara
Silas e Antônia são casados, mas foram eleitos por Estados diferentes. Eles colecionam problemas na Justiça
A deputada federal estreante Antônia Lúcia e o deputado federal Silas Câmara, reeleito para o quarto mandato, têm muito em comum. Eles são evangélicos, líderes da Assembleia de Deus e filiados ao mesmo partido, o PSC. Casados, moram na mesma casa, em Manaus. A única diferença é que foram eleitos por Estados diferentes: ele pelo Amazonas, ela pelo Acre. O caso pode parecer estranho, mas é formalmente legal. Foi a maneira encontrada para driblar a lei. Se tivessem o título de eleitor no mesmo Estado, não poderiam ser candidatos ao mesmo cargo. Em Brasília, vão morar juntos, no apartamento funcional ocupado por Silas. Mesmo assim, ela não abriu mão do auxílio-moradia de R$ 2.500 por mês.
O truque do registro em outro Estado e a apropriação questionável dos R$ 2.500 são as dúvidas mais leves que pairam sobre o casal. Antônia responde a sete ações no Acre: compra de voto, falsidade ideológica, fraude processual, formação de quadrilha, peculato, uso de caixa dois e falso testemunho. Um pedido de prisão preventiva chegou a ser aprovado em 2010. Os desembargadores entenderam que ela tinha fornecido endereço falso para se livrar de intimações e atrasar processos. Entre eles está um em que é acusada de distribuir 1.200 litros de combustível numa carreata.
Silas não é menos enrolado. Ele foi investigado pela Polícia Federal (PF) a pedido da Justiça Eleitoral do Amazonas. Escutas desvendaram as peripécias do casal nas campanhas simultâneas. O caso mais grave foi em setembro, quando a PF prendeu Heber e Milena Câmara, filhos do casal que estavam com R$ 475 mil sem origem declarada. O Ministério Público diz que o dinheiro tinha sido enviado pelo marido, do Amazonas, para a campanha da mulher, no Acre. Seria gasto com a compra de votos e despesas de caixa dois.
As escutas mostram que Antônia e Silas se assustaram, mas não se intimidaram com a prisão dos filhos. Por telefone, ela deu a notícia ao marido: “Nossos dois filhos foram presos na PF”. Ele perguntou sobre a acusação. Resposta: “Não sei. Pode (ser o) dinheiro?”. Silas concluiu: “Pode. Estou orando que não seja”. A oração não funcionou. A prisão foi mesmo por causa do dinheiro.

Eles são só sorrisos. Por enquanto...
Aliados de Dilma foram eleitos para presidir o Congresso. Mas a presidenta está descobrindo os problemas causados por uma base de apoio tão grande: com o gerir as disputas internas por cargos e influência
A presidenta Dilma Rousseff vive uma situação de fazer inveja a seus antecessores quando o assunto é o Congresso Nacional. Na semana passada, dois aliados foram eleitos para comandar as casas legislativas: Marco Maia (PT-RS) presidirá a Câmara dos Deputados e o sempiterno José Sarney (PMDB-AP) o Senado Federal. Na frieza dos números, o governo Dilma tem também o apoio de 402 dos 513 deputados federais e de 52 dos 81 senadores. É uma maioria folgada, que confere a Dilma a chance de aprovar seus projetos e alterar a Constituição. Mas, na prática, essa folga não deve se traduzir necessariamente em tranquilidade política. Na semana passada, na abertura dos trabalhos do Congresso com a posse dos novos deputados e senadores, começou a ficar claro como o governo Dilma terá trabalho para manter coesa uma base tão grande. As principais dificuldades não estão na oposição – que tem pouco poder para atrapalhar o governo –, mas entre seus aliados.
Na quarta-feira, Dilma foi ao Congresso entregar pessoalmente a Mensagem do Executivo. Foi um gesto simbólico. Em um discurso de 32 minutos, Dilma fez uma síntese do conteúdo do documento. Dilma repetiu a maioria dos pontos que tratou em seu discurso de posse, proferido na mesma tribuna no mês passado. Disse que pretende dar prioridade a duas reformas, a política e a tributária. Foi aplaudida pelos parlamentares, justamente os menos empenhados em fazer uma reforma política profunda, que pode colocar em risco seu conforto corporativo.

Os tesouros esquecidos do Palácio do Planalto
Uma valiosa coleção de quadros, móveis e esculturas foi encontrada abandonada em armários, depósitos e garagens da sede da Presidência
Quando a reforma do Palácio do Planalto ficou pronta, há cinco meses, uma comissão interna de especialistas saiu à procura das obras de arte espalhadas pela sede e pelos quatro anexos da Presidência. O objetivo era reunir o que de melhor havia para decorar os amplos corredores e salões vazios da sede do poder. Era um pedido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, incomodado com os quadros trancados em gabinetes, longe dos visitantes.
O que Lula não sabia, nem a comissão desconfiava, era da existência de uma valiosa coleção de quadros, esculturas e móveis abandonados em armários, depósitos e garagens. Dois quadros do pintor espanhol Joan Miró, avaliados em US$ 1,5 milhão cada um, apareceram assim. Um saiu de um depósito de suprimentos. O outro estava na parede de uma salinha ocupada por uma funcionária. Parecia tão improvável que foi preciso verificar a autenticidade da assinatura para ter certeza sobre o tesouro escondido.
Na garagem do Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente, foi encontrada uma tela do pintor e arquiteto Firmino Saldanha feita para a inauguração do Palácio do Planalto, em 1960. Da mesma forma, a obra Os músicos, de Glênio Bianchetti, pintor, ilustrador e tapeceiro gaúcho, voltou a formar o quinteto original depois que o quinto quadro foi encontrado num dos anexos da Presidência. Durante muito tempo, os quadros com quatro dos cinco “músicos” serviram de encosto para seguranças num corredor.

Enfim, completo
A indicação de Luiz Fux recompõe o Supremo Tribunal Federal, desfalcado há seis meses, e deverá encerrar um período de confusão na Corte
O Supremo Tribunal Federal (STF) atravessou nos últimos meses um período de incertezas e contradições. Em alguns momentos, as decisões tomadas provocaram confusões jurídicas de grande repercussão – casos da aplicação da Lei da Ficha Limpa e da extradição do italiano Cesare Battisti. Boa parte da insegurança legal foi causada pelo fato de o STF estar desfalcado desde agosto do ano passado, quando o ministro Eros Grau se aposentou e o plenário passou a contar apenas com dez integrantes. Na última semana, a presidenta Dilma Rousseff deu um passo importante para que o Supremo volte a atuar de forma plena, ao indicar para a vaga o carioca Luiz Fux, hoje ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ). O gesto de Dilma criou a expectativa de que o Supremo viva tempos melhores de agora em diante.
A indicação de Fux recompõe o quadro e devolve ao Supremo as condições para desempatar situações complicadas. Fux também pode contribuir por seu perfil. Aos 57 anos, ele chega à Suprema Corte amparado em uma ampla rede de apoio nos meios jurídicos, acadêmicos e políticos. Fux foi indicado para o STJ pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ministros e advogados que atuam nos Tribunais Superiores dizem que Fux é um juiz agregador e espirituoso, capaz de amenizar o clima beligerante que marcou os últimos julgamentos do Supremo. “Ele é extremamente preparado”, diz a ministra Eliana Calmon, do STJ. No Supremo, a avaliação não é diferente. “Ele é um ministro de grande valor, de excelente formação técnica e humanística”, diz o ministro Marco Aurélio Mello, do STF, que conhece Fux desde que os dois atuavam no Judiciário no Rio de Janeiro.
Fux foi escolhido em um dos mais longos processos de vacância no STF. Desde a aposentadoria de Eros Grau, em agosto, esperava-se a indicação do substituto. Mas o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva resolveu adiar a decisão por questões políticas.
O processo eleitoral foi um complicador por causa das alianças que dariam nas urnas a sustentação a sua candidata. Havia o receio de que a indicação ao STF pudesse interferir nas articulações para a eleição de Dilma Rousseff. Outros nomes cogitados para a vaga foram o ministro Cesar Asfor Rocha, do STJ, e o ministro Luís Inácio Adams, da Advocacia-Geral da União (AGU). Dilma acabou preferindo Fux.

Blecaute na costa do sol
Era noite da quinta-feira quando acabou a energia no Estádio Fonte Nova, em Salvador, um dos que abrigarão jogos da Copa do Mundo em 2014. O mesmo ocorreu no entorno da rodoviária do Recife, onde será construído um novo estádio para a Copa. O problema havia se originado, provavelmente, numa instalação de transmissão de energia em Jatobá, Pernambuco, conforme as primeiras explicações do Ministério de Minas e Energia. A pane, que teria ocorrido na subestação Luiz Gonzaga, causou um efeito em cadeia que cortou o fornecimento de eletricidade para sete Estados – Bahia, Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe e Paraíba, com uma população total de 51 milhões de pessoas. Houve relatos de blecaute também no Piauí. O suprimento de energia começou a voltar ao normal na madrugada. As últimas áreas a se recuperar, em Alagoas e Pernambuco, tinham luz novamente ao amanhecer da sexta-feira. Diante dos primeiros questionamentos sobre o acidente, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, arriscou aquele tipo de declaração pavonada e pouco consistente que em nada contribui para resolver o problema: “Não há no mundo nada mais moderno que o sistema brasileiro”. Em seguida, reconheceu que há “falhas” a corrigir.


ISTOÉ

A boa dieta da energia
Cientistas revelam o que comer para aumentar a disposição, combater o cansaço e melhorar o desempenho físico e mental

A disputa pela herança do ditador
O Paraguai busca no Brasil parte da fortuna de US$ 3 bilhões que Alfredo Stroessner acumulou em 35 anos
O ex-ditador Alfredo Stroessner, que morreu em Brasília em 2006, acumulou fortuna nos 35 anos em que governou com mão de ferro o Paraguai. Uma herança avaliada em mais de US$ 3 bilhões e que, segundo investigações da Procuradoria paraguaia, vinha sendo administrada secretamente por seu filho e herdeiro, o coronel Gustavo Stroessner Mora, militar reformado, que enfrenta agora um câncer terminal. A iminente saída de cena de Gustavo passou a alimentar ainda mais uma polêmica sobre o destino dos bens da família, que incluem contas em paraísos fiscais, ações de empresas e imóveis em nome de terceiros. No Brasil, Stroessner chegou a ter propriedades, como uma casa de veraneio em Guaratuba, no litoral paranaense, uma fazenda em Minas Gerais e um terreno na Barra da Tijuca, no Rio, além de cavalos de raça. “Toda essa fortuna foi obtida de forma ilegal”, afirma o advogado e ex-preso político Martin Almada, autor de uma representação à Justiça paraguaia que tenta reabrir o processo de corrupção contra Gustavo.
Em junho passado, um juiz paraguaio decidiu arquivar o caso por prescrição. “Crimes contra o Estado não prescrevem e as provas contra os Stroessner são fartas”, diz Almada. Investigações preliminares encontraram, por exemplo, seis contas bancárias nos bancos suíços UBS e Unione di Credito, em nome de Gustavo e de pessoas próximas, como Hirán Delgado Von Leppel, ex-presidente do Supremo Tribunal do Paraguai e advogado da família. No levantamento dos bens, também há menção a uma conta no Banco do Brasil, sem numeração.
No Brasil, por morosidade ou razões políticas, não se avançou na apuração. Sabe-se apenas que Gustavo e o pai viveram durante anos numa mansão com oito quartos, piscina e elevador privativo, avaliada em R$ 10 milhões, localizada na restrita Península dos Ministros, a área mais nobre do Lago Sul, em Brasília. No processo de separação de Gustavo e sua ex-mulher Maria Eugênia Heikel, em meados da década de 90, foi localizado um imenso terreno na reserva do Itanhangá, na Barra da Tijuca, no Rio. O imóvel entrou na divisão de bens do casal e depois foi vendido. Na ocasião, o advogado estimou em US$ 60 milhões o patrimônio de Gustavo e Maria. Agora os paraguaios querem saber onde essa fortuna foi parar.

Os novos chefes do Congresso
O presidente do Senado, José Sarney, anda eufórico. Na quarta-feira 2, aos 80 anos de idade, ele arrastou pelo braço o presidente da Câmara, Marco Maia, para dentro do carro oficial, que os levaria por 100 metros até a rampa do Congresso, onde receberam a presidente Dilma Rousseff. Maia, 45 anos, havia se atrasado alguns segundos e Sarney já o aguardava na chapelaria. “Presidente Marco Maia, o senhor vai comigo”, disse Sarney, como se estivesse obrigando Maia a agir a contragosto. O veterano político maranhense em nada lembrava o homem cansado que em outubro foi operado do coração no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, com arritmia. Sarney e Maia conduziram a presidente da República até o plenário e prometeram se portar também como os fiéis escudeiros na votação de temas importantes no Congresso. Sarney destaca a reforma política entre estes temas: “O Brasil avançou na parte econômica extraordinariamente, avançou na parte social extraordinariamente, mas, infelizmente, na parte política regrediu”, justifica o senador.
Além da idade, há outras diferenças expressivas no currículo destes dois dirigentes do Legislativo. Ex-presidente da República, Sarney (PMDB/AP) tem 56 anos de vida pública, com quatro passagens pelo comando do Senado. No discurso de candidatura, ele lembrou que é o senador mais longevo da história do País, superando Rui Barbosa, o Águia de Haia, no quesito tempo de mandato. Rui Barbosa, que tem um busto no plenário do Senado, ocupou uma cadeira na Alta Casa por 35 anos, mas, ao contrário de Sarney, não realizou o sonho de ser presidente da República. Marco Maia (PT-RS) tem apenas seis anos de atuação na Câmara, onde entrou como suplente em 2005. O deputado compara sua trajetória à do presidente Lula, também torneiro mecânico e sindicalista. Maia chegou a cursar direito, mas aos 22 anos largou os estudos para se dedicar ao sindicalismo e à política. Perdeu três eleições para a prefeitura em Canoas (RS), uma delas em 2000, por ínfimos 1.900 votos, fato que ele não superou até hoje. O principal cargo público que exerceu foi o de secretário de Administração do Rio Grande do Sul, no governo Olívio Dutra.

Prêmios de consolação
Para agradar aos políticos derrotados nas eleições que agora estão sem emprego, PT e PMDB tentam criar um trem da alegria no segundo escalão do governo federal
Até o próximo dia 25, o governo Dilma Rousseff pretende preencher todos os cargos de segundo escalão, acomodando os interesses dos partidos que compõem a base aliada. Não tem sido tarefa fácil. Não bastasse a acalorada disputa entre PT e PMDB por postos estratégicos em estatais, o Palácio do Planalto vem enfrentando outro grande problema na hora de definir os nomes com base nas listas apresentadas pelos dirigentes partidários. Contrariando orientação da própria presidente da República, as legendas têm indicado políticos que, desprovidos dos votos que também são desprovidos da bagagem técnica necessária para a função. Na maioria dos casos, o critério adotado pelos partidos observa o compadrio em detrimento da qualificação, transformando as vagas disponíveis, muitas vezes postos considerados chave para o desenvolvimento do País, num mero consolo para desempregados. É a famosa boquinha para quem, sem qualquer especialização, sobrevive à custa de nomeações para cargos públicos. “São pessoas que não têm qualificação para entrar no setor privado com o nível salarial que usufruem no setor público. Qualquer empresa que considere a relação custo/benefício não os contrataria”, constata o economista Raul Velloso, especializado em finanças públicas.
O PT, por exemplo, entregou ao ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, uma extensa lista de políticos reprovados nas últimas eleições para serem acomodados no segundo escalão. Entre eles, Zeca do PT, candidato derrotado ao governo de Mato Grosso do Sul, para a diretoria de Administração de Itaipu; Rodrigo Soares, candidato a vice-governador derrotado na Paraíba, para uma diretoria da Sudene; e o ex-deputado Paulo Rocha (PT-PA), que teve sua candidatura ao Senado impugnada pela Lei da Ficha Limpa, para uma diretoria da Eletronorte. Para piorar, nenhum dos citados possui familiaridade com a área em que deseja atuar. “Nossos políticos são generalistas. Ou conseguem o cargo público ou vão tentar algum trabalho de consultoria, mas nem todos têm essa facilidade”, atesta Velloso.
O PMDB não ficou atrás. Insiste em acomodar os derrotados nas eleições para governador Geddel Vieira Lima (BA) na Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), José Maranhão (PB) na vice-presidência de Loterias da Caixa, Íris Rezende (GO) na vice-presidência de Agronegócio do Banco do Brasil, e Orlando Pessutti (PR), que desistiu da candidatura à reeleição no Paraná para apoiar Osmar Dias (PDT), na vice-presidência de Governo do Banco do Brasil. “Temos o direito de indicar nomes. O Ministério da Saúde tem 1.262 cargos. Sabem quantos são ocupados pelo PMDB? Apenas dois”, esbravejou, durante a semana, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), que aposta na prática distorcida e viciada do Congresso.

Cabotagem suspeita
Irmão do senador eleito Roberto Requião é acusado de envolvimento em esquema de corrupção no Porto de Paranaguá
Há problemas em Paranaguá, o maior porto graneleiro da América Latina, e não se trata apenas de desvio de mercadoria. Superintendente do porto situado no litoral do Paraná entre 2003 e 2008, Eduardo Requião, irmão do senador eleito e ex-governador Roberto Requião (PMDB), é acusado de ser o maior beneficiário de um esquema envolvendo propina de US$ 5 milhões na compra de uma draga importada da China. A negociata foi descoberta pela Polícia Federal durante monitoramento de telefones feito para investigar denúncia de desvio de mercadorias no porto. “A draga foi uma surpresa”, afirma Jorge Fayad Nazário, delegado-chefe da Polícia Federal em Paranaguá. “O negócio não se concretizou, mas o simples fato de solicitar propina já caracteriza o crime de corrupção passiva.”
Além do acerto para a propina – a parte de Eduardo Requião totalizaria US$ 2,5 milhões –, as interceptações telefônicas detectaram a existência de um amplo esquema de corrupção e de contratação direcionada de empresas. Acusado de participação direta na maior parte das irregularidades, o superintendente que sucedeu Eduardo Requião, Daniel Lúcio Oliveira de Souza, foi preso no Rio de Janeiro e transferido para o Paraná na terça-feira 25. Sua prisão ocorreu durante a chamada Operação Dallas, que cumpriu 29 mandatos de busca e apreensão, inclusive em propriedades de Eduardo Requião. Em uma delas – uma casa no Rio de Janeiro –, a polícia encontrou R$ 140 mil em espécie e apreendeu farta documentação, além de armas.

Prato cheio para um novo governo
O ínicio oficial das relações da presidente dilma com o Congresso mostra que a maioria conquistada nas urnas pode permitir ao executivo a aprovação de projetos polêmicos e importantes para o país sem precisar entrar em disputas sangrentas
Ao ser recebida pelo presidente do Congresso, José Sarney (PMDB-AP), na cerimônia de abertura da 54ª legislatura, a presidente Dilma Rousseff foi aplaudida de pé por um plenário lotado. Comovida, Dilma levantou-se da mesa da Câmara e inclinou-se repetidas vezes para a frente num gesto típico de agradecimento, devolvendo os aplausos. Não foi uma cena qualquer. Ela deu a exata medida da força do governo no novo Congresso. Nunca, desde a redemocratização do País, uma legislatura começou com tamanha concentração de parlamentares governistas. Na Câmara, Dilma conta com o apoio de 388 dos 513 deputados, maioria suficiente para aprovar mudanças constitucionais, se necessário. No Senado, do total de 81 senadores há 63 pró-governo. A situação atual é muito mais confortável que a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Uma pequena demonstração do poderio do governo foi dada durante as eleições, sem sobressaltos, de José Sarney para a presidência do Senado e de Marco Maia (PT-RS) para a Câmara. Ambos são aliados de primeira hora do governo e agora, no comando das duas Casas, dificilmente ousarão causar maiores constrangimentos para o Executivo. “Eu tenho certeza de que aqui vai ser o grande espaço do debate”, disse à ISTOÉ o ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, em tom otimista.
A expectativa é de que esse cenário altamente favorável ponha fim à necessidade de abertura do tradicional balcão de negócios a cada votação. No entanto, a maioria expressiva está também sendo construída com base na distribuição de cargos. Em um primeiro momento, isso ocorreu nos ministérios. Agora, a discussão se dá em torno dos milhares de cargos que o governo precisa preencher nos próprios ministérios e nas estatais. No discurso da quarta-feira 2, com 32 minutos de duração, em que leu a mensagem do Executivo ao Congresso, Dilma sublinhou a necessidade de uma “parceria em favor do Brasil”. Se a unidade da base aliada, observada durante as eleições para as presidências da Câmara e do Senado, for mantida nas discussões de temas considerados fundamentais para a sociedade brasileira, a presidente terá caminho aberto para o êxito, sem lançar mão do modelo da troca de favores. Entre os desafios para a legislatura recém-empossada está a apreciação das esperadas reformas política e tributária. O governo e os novos parlamentares têm consciência de que a revisão do sistema político-partidário brasileiro e da complexa estrutura de impostos não é só uma reivindicação de setores específicos da sociedade, mas um clamor nacional.

Curto-circuito na base
Na disputa por um orçamento de quase R$ 100 bilhões, PT e PMDB entram em guerra para definir quem comandará o setor elétrico brasileiro
Nos próximos dias, o governo retomará as conversas com os partidos aliados sobre o preenchimento de cargos do segundo escalão. O ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, foi incumbido de conduzir a delicada negociação, mas, antes, precisará de muita habilidade para debelar um incêndio de proporções imprevisíveis no setor elétrico, considerado o xodó da presidente Dilma Rousseff. Os postos estratégicos da área, cujo orçamento, em 2011, soma nada menos do que R$ 99 bilhões, são alvo da cobiça de PMDB e PT, que travam uma guerra desde o início de janeiro. A queda de braço mais acirrada envolve o controle de Furnas, hoje um feudo do PMDB fluminense. De um lado da trincheira está o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que comanda a estatal desde 2007, quando o ex-prefeito Luiz Paulo Conde assumiu a presidência. E do outro lado encontram-se o PT de Minas Gerais, à frente o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e o do Rio de Janeiro, representado pelo atual secretário de Habitação e deputado licenciado, Jorge Bittar.
Ao longo da semana, a contenda foi alimentada pela divulgação de um dossiê produzido por engenheiros de Furnas descontentes com os desmandos na estatal, deficitária há dois anos. Bittar encarregou-se de encaminhar a denúncia ao ministro de Relações Institucionais, Luiz Sérgio. No documento, os engenheiros dizem que “a marca da gestão Eduardo Cunha é o desrespeito às leis, estatutos e regulamentos que regem o mundo corporativo”. O texto acrescenta que o atual presidente da estatal, Carlos Nadalutti, também indicado por Cunha, “aprofundou e explicitou essa interferência, comportando-se como um ajudante de ordens de seu patrocinador”. O relatório menciona ainda algumas operações heterodoxas que teriam dado prejuízo a Furnas, como a da usina da Serra do Facão. Segundo o documento, “a estatal deixou de exercer direito de compra da participação acionária da empresa Oliveira Truste, por R$ 5.000, para posteriormente comprar esse mesmo direito da empresa Serra Carioca por R$ 80 milhões”. O negócio teria favorecido o grupo Gallway, cujo diretor seria ligado a Cunha. Mas o fato de o documento elaborado por engenheiros da estatal poupar o diretor de operação, Cesar Ribeiro Zani, do grupo do petista Bittar, serviu de munição para o deputado do PMDB questionar as reais pretensões do PT. “Já estavam de plantão escalados para isso e cumprem a missão. São os assistentes dos aloprados”, disparou Cunha.

A volta da estrela
Às vésperas de uma eleição para definir quem comandará o partido, o PSDB recorre a FHC para evitar que uma guerra pública seja deflagrada
Em meio a uma guerra fratricida para definir quem comandará o partido pelos próximos anos, o PSDB decidiu recorrer a sua maior – porém esquecida – estrela, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, para protagonizar o programa político em rádio e televisão a que tem direito todos os semestres. Os principais dirigentes do partido, entre eles o presidente Sérgio Guerra (PE), o ex-governador de São Paulo José Serra e o senador Aécio Neves, chegaram a concordar que a melhor opção seria transferir a veiculação do programa para depois das eleições que vão eleger o novo presidente da sigla, em abril. No entanto, o Tribunal Superior Eleitoral não aceitou o pedido de transferência e o PSDB precisou, às pressas, gravar os dez minutos que foram ao ar na noite da quinta-feira 3. Ainda sem saber que bandeira empunhar e com que cara se apresentar ao eleitor, os caciques tucanos decidiram escalar FHC. Oficialmente, argumentam tratar-se de uma homenagem ao ex-presidente, que em 2011 completa 80 anos e foi solenemente escanteado do debate eleitoral nas últimas três disputas presidenciais.

Lula abre alas
Os bastidores da escola de samba Tom Maior, que vai homenagear o ex-presidente no Carnaval, e a disputa de seus amigos por um lugar de destaque na passarela
Estacionado no Sambódromo de São Paulo, a poucos metros da passarela do Carnaval, o caminhão Mercedes-Benz carrega re­pi­ques, cuícas, surdos, pandeiros e tamborins. Enquanto os integrantes da escola de samba Tom Maior descarregam os instrumentos musicais para o primeiro grande ensaio do desfile 2011, nota-se que o veículo recebeu uma pintura curiosa. Foram desenhadas no para-choque dezenas de estrelas vermelhas parecidas com aquelas que viraram símbolo do Partido dos Trabalhadores. Pode ser coincidência, mas há outros sinais indicando que a política está presente no Carnaval da Tom Maior. Uma bandeira da Central Única dos Trabalhadores tremula ao sabor do vento, aqui e ali há gente caminhando com adereços sindicais (broches do Sindicato dos Químicos, faixas da CUT na cabeça, essas coisas que lembram passeatas) e um sujeito exibe orgulhoso uma camiseta com a inscrição “100% Lula”. Se há alguma dúvida a respeito das intenções da escola, ela desaparece quando o samba começa a tocar. Versos como “sem medo de ser feliz” e “brilhou lá” são quase explícitos: eles são uma referência ao ex-presidente. O tema central da escola é a cidade de São Bernardo do Campo, polo industrial na Grande São Paulo onde Lula começou sua arrancada, mas isso é só um pano de fundo para o verdadeiro homenageado. Pela primeira vez Lula vai sair em uma escola de samba – e cada vez aumenta mais o cordão de amigos, companheiros, militantes, sindicalistas e puxa-sacos sedentos por aproveitar a chance de sair ao lado, ou pelo menos perto, do ex-presidente.



CARTA CAPITAL

A marca de Dilma: A presidente já mostra um estilo próprio de governar
Converso com lula há mais de 33 anos, quando Lula era apenas apelido. Todas as qualidades dele saíram de São Bernardo e o Brasil aprendeu a conhecê-las e a admirá-las. E o mundo, até. Hoje ele gosta de falar de sua sucessora, de evocar o passado e de expor os sentimentos de quem tem de “desencarnar”. O verbo recorre em sua boca porque o esforço para adaptar-se à nova vida causa alguma ventania entre o fígado e a alma.
A respeito de Dilma ele é o primeiro a reconhecer o quanto ela foi indispensável ao êxito do seu governo e a revelar ter visto nela a sua candidata ainda no final do primeiro mandato. O que, confesso, muito me agrada: foi quando me atirei a apostar nesta escolha e a escrever a respeito. A partir, para ser exato, do momento em que ela substituiu José Dirceu na Casa Civil. Ali, Dilma mostrou por completo a que viera.
Lula conta deste período episódios muito indicativos da personalidade da sucessora. Cabia a ela organizar as reuniões do ministério, pronta a interrompê-las ao meio da fala de um ministro, para dizer em tom peremptório, embora pacato: “Presidente, não é nada disso, o senhor ministro está dourando a pílula, de verdade a situação é outra”. E desfiava então os fatos na sequência exata e fornecia a interpretação correta.

Os partidos no novo Congresso
Não existem diferenças reais de opinião na sociedade que justifiquem tamanha fragmentação partidária. Por Marcos Coimbra. Foto: Rodolfo Stuckert/Agência Câmara
Tomaram posse na segunda-feira 1º os senadores e deputados eleitos em outubro. Com o terço não renovado do Senado, vão formar a 54ª legislatura, que constituirá o Legislativo nacional durante o governo Dilma.
Mais que qualquer outra, é a legislatura mais afetada por decisões do Judiciário que já tivemos. Especialmente no Senado, mas também na Câmara, os empossados não foram, muitas vezes, aqueles que venceram as eleições em seus estados.
O motivo é justo. Trata-se de uma consequência da Lei da Ficha Limpa, apoiada pela maioria do País. Ainda assim, é lamentável que tenhamos feito uma eleição cujos resultados eram imprevisíveis. Os candidatos que podiam ser enquadrados corriam um risco calculado e tinham consciência de que os votos recebidos talvez não valessem. O mesmo não se aplica aos eleitores certos de que seu voto seria contado.

O pan-arabismo renovado?
A tampa da panela saltou, mas seu conteúdo continua em ebulição.”Palavras de Issa Goraieb, pena ágil do diário libanês L’Orient Le Jour. Goraieb refere-se ao Cairo, a Tunis e outras capitais de países árabes, onde massas demandam a queda de seus déspotas nas ruas. “Espero uma mudança nesses países”, me diz Goraieb. “Mas será que depois teremos outras ditaduras?” E o Líbano, embora aqui o premier-designado Najib Mikati tente formar um governo, entra na mesma equação. Para Goraieb, o sunita Mikati, escolhido pelo Hezbollah, agirá em nome da Síria e do Irã, países que financiam e apóiam politicamente o movimento xiita.
As revoluções a sacudir o mundo árabe anunciam a chegada de um novo pan-arabismo, sugere Ahmad Moussalli. O professor de ciências políticas e estudos islâmicos da Universidade Americana de Beirute acredita, porém, que o cerne do problema ainda continua sendo o conflito entre a Palestina e Israel. Mas, por ora, o premier israelense, Benjamin Netanyahu, comporta-se como um “imperador global”.

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