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quarta-feira, 8 de junho de 2011

A ESQUENTADINHA E O PMDB


Crise no governo

Chegada de Gleisi piora relação entre Congresso e Planalto

Nova ministra da Casa Civil colecionou inimizades e apelidos - como Lady Gaga - em quatro meses de Senado; PMDB diz que interlocução será impossível

Gabriel Castro
A nova ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann: coleção de inimizades na passagem pelo Senado
A nova ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann: coleção de inimizades na passagem pelo Senado (Renato Araújo/ABr)
Ao escolher Gleisi Hoffman para comandar a Casa Civil, Dilma Rousseff preferiu mexer apenas em uma peça do tabuleiro federal. Por isso, optou por Gleisi em vez de outros nomes especulados, como o atual ministro das Comunicações, Paulo Bernardo (marido de Gleisi), e o da ministra do Planejamento, Miriam Belchior. Por trás da decisão de Dilma, também está a tentativa de atribuir à Casa Civil um perfil que a pasta possuía quando estava justamente sob o comando da atual presidente da República: o de coordenação dos programas de governo.
A presidente conheceu a sucessora de Antonio Palocci de perto durante o governo Lula: enquanto Dilma comandava o Ministério de Minas e Energia, Gleisi era diretora financeira da usina de Itaipu. Gostou do que viu. No aspecto político, entretanto, a senadora reuniu inimizades de todos os lados, em quatro meses de mandato no Senado. Apesar do comportamento aparentemente sereno, ela é vista como alguém que se irrita facilmente. "A ministra é preparada, mas muito esquentadinha", define o senador Demóstenes Torres (DEM-GO). 
Gleisi é filiada ao PT há 22 anos, e percorreu os atalhos da política em parte por causa da figura do marido. A oposição a classifica como alguém radical, que partidariza cada mínimo debate e prefere o "tratoraço" da maioria governista ao diálogo. Parlamentares ouvidos pelo site de VEJA acreditam que a relação entre Planalto e Congresso tende a piorar, justamente num período em que os ânimos já estão exaltados.
Peemedebistas atribuem a Gleisi uma operação para retirar das mãos de Romero Jucá (PMDB-RR) a liderança do governo no Senado em 2012. De fato, a senadora vinha tentando minar o trabalho de Jucá em algumas votações, numa disputa que tinha potencial para abrir uma guerra declarada entre as bancadas. Parlamentares do PMDB consideram impossível que a nova ministra seja responsável pela interlocução do Planalto com o Congresso.
Alguns petistas e integrantes de outros partidos aliados já foram apresentados aos modos, por assim dizer, pouco democráticos da nova ministra. Na semana passada, ela chegou a retirar o microfone da boca de dois colegas: os senadores Inácio Arruda (PC do B-CE) e Aníbal Diniz (PT-AC). Gleisi tentava apressar a votação de duas medidas provisórias que perderiam o efeito se não fossem votadas até meia-noite do dia 1º de junho. Fracassou na missão e saiu dela com a imagem arranhada entre aliados e oposicionistas.
As inimizades já renderam dois apelidos a Gleisi, que também se destaca como a figura mais bonita do Senado: Barbie e Lady Gaga. Ambos fazem troça com o apreço com o visual e aquilo que alguns chamam de pose demasiado altiva da petista.
Lacuna - A nova ministra também foi uma das vozes mais fortes dentro da bancada petista contra a blindagem ao ministro Antonio Palocci, o que alimentou rumores de que ela estaria trabalhando para que o marido ficasse com a vaga. Tida como alguém que tem lealdade canina ao partido, ela via em Palocci uma figura que construiu um projeto pessoal dentro do governo, o que seria inaceitável.
Gleisi Hoffmann já afirmou que sua tarefa no cargo será eminentemente técnica. Isso deve evitar atritos com o Congresso. Por outro lado, a escolha de Dilma Rousseff abre uma lacuna cujo preenchimento ainda é uma incógnita: quem fará a articulação política do governo? O ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, atuava apenas quando o tema em jogo era pouco relevante. Caso contrário, era Palocci quem resolvia. Agora, sem diálogo com a Casa Civil, o Congresso pode ficar órfão. Petistas minimizam a situação, alegando que a relação do governo com o Parlamento precisa apenas de "ajustes finos".  Na prática, ninguém acredita nisso.

sábado, 4 de junho de 2011

O que ainda falta para a demissão?



Coluna do
Augusto Nunes
VEJA

Com palavras e imagens, esta página tenta apressar a chegada do futuro que o Brasil espera deitado em berço esplêndido. E lembrar aos sem-memória o que não pode ser esquecido.

03/06/2011 às 21:48 \ Direto ao Ponto
O que ainda falta para a demissão?

O rosto pálido, as mãos trêmulas, os lábios secos, a voz gaguejante, os pigarros interrompendo a frase como vírgulas bêbadas, a impossibilidade de consumar o gesto de agarrar o copo d’água ─ os incontáveis sintomas de nervosismo bastariam para transformar a entrevista concedida por Antonio Palocci à TV Globo numa confissão de culpa. Mas o conteúdo foi pior que a forma: o chefe da Casa Civil não explicou nada. Enredou-se em fantasias desconexas, negou-se a revelar os nomes dos clientes, confundiu-se com números e porcentagens, buscou refúgio na amnésia malandra, inventou a única empresa do mundo que ganhou mais dinheiro quando resolveu fechar as portas. Palocci naufragou num palavrório tão raso que, na imagem de Nelson Rodrigues, uma formiga conseguiria atravessá-lo com água pelas canelas.

Em 17 de julho de 2005, levado às cordas pelo escândalo do mensalão, o presidente Lula fez de conta que aprendera a lição antiga como o mundo: “A desgraça da mentira é que, ao contar a primeira, você passa a vida inteira contando mentiras para justificar a primeira que você contou”, constatou numa entrevista ao Fantástico. “Trabalhar com a verdade é muito melhor”. O problema é que a verdade é incompatível com mitômanos e megalomaníacos. Portador das duas patologias, Lula seguiu contando um mentira atrás da outra. No momento, jura que o mensalão nem existiu.

Em 2006, no depoimento à Corregedoria do Senado, o caseiro Francenildo Costa repetiu, com sinceridade, a lição que Lula declamou por esperteza: “O lado mais fraco não é o do caseiro, é o da mentira”, ensinou a vítima de Palocci. “Duro é falar mentira que você tem que ficar pensando. A verdade é fácil”. Como Lula, Palocci foi longe demais para reconciliar-se com a verdade. Vai seguir mentindo até a queda, que só falta agora ser formalizada.

Se foram essas as explicações oferecidas à Procuradoria-Geral da República, Roberto Gurgel não pode alegar que ainda não conseguiu enxergar com nitidez um traficante de influência instalado na chefia da Casa Civil. Se o que tem a dizer é o que disse à Globo, a presidente Dilma Rousseff tem o dever de demiti-lo imediatamente. O que não pode ser repetido é o embuste desta sexta-feira.

Os brasileiros honestos não merecem ver pela segunda vez na TV, protagonizando o espetáculo do cinismo mal ensaiado, o homem que não merecia uma segunda chance.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

UM EMPLASTRO CHAMADO PALOCCI





Aquilo que no passado o PT chamava de ‘esforço de militância’ confunde-se, cada vez mais, com mera ‘manobra de milícia’
28 de maio de 2011 | 16h 00

Francisco Foot Hardman

É lamentável que, defronte a esse território opaco dos segredos de uma firma chamada Projeto, protegida por uma fortaleza de "confidencialidades", deva-se ora constatar: o primeiro governo Dilma cambaleia, há menos de cinco meses de um início tão promissor. Mesmo que o prazo da sua sobrevivência se mostre incerto, afeito ainda a várias circunstâncias, já a hemorragia política letal do seu maior ministro não há como estancar, e nenhum expediente terapêutico ou jogada de craque deste que foi definido por Lula como "o Pelé da economia" - seria mesmo Pelé ou estaria mais para Ricardo Teixeira? - parecem, agora, poder reverter.

Ed Ferreira/AE
O chefe da Casa Civil, Antonio Palocci

Se o regime fosse parlamentarista, essa agonia seria visível a olho nu. No presidencialismo ultracentralizado, personalista e fisiológico, em que se funda o sistema político e partidário, talvez se mostre menos evidente, e aí também o perigo maior para o futuro do governo. A derrota na votação do Código Florestal na Câmara foi fragorosa, o PMDB deliberadamente decidiu terçar lanças e testar suas forças contra PT e Planalto. Seria diferente se a Casa Civil estivesse a todo vapor cumprindo sua função política primordial? Difícil responder, mas percebe-se que o jogo de silêncio e tergiversação com que o ex-prefeito de Ribeirão Preto repete, no estilo e no conteúdo, encenações passadas, porém não esquecidas, deixou não só a base aliada à deriva, mas atingiu agora seu ponto de saturação. E o retorno do processo do caseiro Francenildo, neste instante, só tende a agravar todo um quadro suspeitoso.


A entrada em cena de Lula, garantindo respiro no curto prazo, parece destilar veneno também contra a estabilidade e força de sua maior criatura política. Estranha coreografia, essa, a do ex-presidente, diante do desastre anunciado, mal contido em sua desenvoltura de pai soberano e onipresente, recomendando a insistência no emplastro que já se sentia como encosto, como xarope ruim, como receituário incômodo e altamente dispendioso para a economia política do governo. "Tá rindo de quê?", seria a pergunta natural, diante do indisfarçável euforia com que o "Pelé da política" retornava aos meandros do oligarquismo e do personalismo com que ele tanto soube pactuar.


A tragédia no Brasil moderno, no entanto, é sempre mais vasta. Na solidão do Planalto, em algum pequeno instante iluminado, é de se esperar que a presidente Dilma avalie a dimensão do estrago e as perspectivas de desenlace que a liberem desse emplastro hoje impróprio, correndo de si mesmo nas torrentes do inexplicável e nos vícios das amizades capitais, cercado de assessores laranjas e de homens-dispositivos, servidor desregulado aos movimentos do senhor sem nome e sem pátria que alguém alcunhara, há quase 150 anos, de Das Kapital. Ele não era, ao que conste, o eleito de Dilma, bem ao contrário. Sua aceitação significou reverência ao lulo-petismo. Talvez a autonomia requerida para que a grande governante possa despontar se insinue exatamente aqui, nesta encruzilhada a que todo fel da derrota expõe. O primeiro governo Dilma declinou cedo, mas sua chefe pode agora reunir forças para um próximo período, e avançar nas reformas inadiáveis prometidas, livre de um estorvo que não criou, mas cuja proteção, a continuar, lhe custará, certo, muito caro. O preço da hoje tão nomeada blindagem, em face a um PT há muito esquecido dos trabalhadores, a uma base aliada predominantemente conservadora, chegando às raias da pura reação no caso do Código Florestal, já se manifesta algo brutal. Aquilo que no passado se dizia "esforço de militância" confunde-se, cada vez mais, com mera "manobra de milícia". Que, mercenária como qualquer milícia, arredia a toda regulação, clandestina e turva, empareda-se afinal àqueles serviços que alcançam "enorme valor", frutos de uma "experiência única".


Longe dos alaridos enganadores do poder e dos amigos da onça, a presidente Dilma poderia ensaiar exercício imaginário de contrapor a opacidade gritante do enriquecimento vertiginoso do ministro ex-Libelu à clareza cristalina da palavra pobre e rara da professora Amanda Gurgel, há dias, na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte. Já que muita vez o soberano, na solidão de seu posto, é obrigado a escolher sob qual voz melhor se inspirar. Ou sob qual espírito. Nessa semana, em Brasília, enquanto se investia tanta energia inútil em salvar aparências e manter velhos interesses intactos, nos sertões amazônicos do Pará, mais uma vez, a história se repetiu como tragédia, e não houve chance nem apelo para os líderes extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo, assassinados a mando de desmatadores.


Processos aparentemente isolados, mas em íntima conexão: a paralisia de um governo às voltas com sua Casa Civil convertida momentaneamente em casamata de segredos espúrios, em cofre-forte de fugas da realidade, é a outra face do Brasil, esse do povo trabalhador e guardião da floresta, esse das professoras heroínas e alunos desamparados. A presidente Dilma sabe, sem vacilo, para onde conduz a incúria do Estado e a ganância dos mercados.


FRANCISCO FOOT HARDMAN É PROFESSOR DE TEORIA E HISTÓRIA LITERÁRIA NA UNICAMP

quarta-feira, 9 de março de 2011

A DEPUTADA CORRUPTA E O MINISTRO DA JUSTIÇA

08/03/2011
às 18:20 \ Direto ao Ponto
Augusto Nunes - Veja
A deputada corrupta vai escapar do castigo com a ajuda do ministro da Justiça

No vídeo capturado pela Polícia Federal, hoje em poder do Ministério Público e divulgado pelo Estadão, a deputada federal Jaqueline Roriz (PMN-DF), escoltada pelo marido malandro, aparece recebendo uma bolada de R$ 50 mil das mãos de Durval Barbosa, pivô do escândalo que encerrou a carreira do governador José Roberto Arruda. Em seguida, a filha de Joaquim Roriz pede um aumento de propina ao vigarista que foi secretário de Relações Institucionais do Distrito Federal no governo do pai. Para os padrões da família, aquilo era dinheiro de troco.

A gravação das cenas de corrupção explícita custaria à trinca uma pedagógica temporada na cadeia em qualquer paragem civilizada. No Brasil da Era da Mediocridade, Jaqueline está na iminência de entrar na multidão de condenados à impunidade. Embora tenha atropelado com selvageria o Código Penal, é altamente improvável que perca a liberdade: a Justiça brasileira não costuma valer para pais-da-pátria. Embora tenha espancado furiosamente a legislação eleitoral e o decoro parlamentar, é certo que não perderá o mandato nem os direitos políticos.

Será absolvida graças à “doutrina Cardozo”, uma abjeção concebida pelo atual ministro da Justiça quando defendia os interesses da companheirada no Conselho de Ética da Câmara. No começo de 2007, escalado pelo PT para encontrar uma fórmula que facilitasse a absolvição por atacado dos pecadores amigos, o deputado federal paulista pariu em poucos dias a malandragem prontamente encampada pelo Conselho: segundo a “doutrina Cardozo”, só podem ser abertos processos por quebra de decoro “referentes a atos cometidos depois da posse do acusado”.

Para preservar os mandatos dos mensaleiros Waldemar Costa Neto (PR-SP) e Paulo Rocha (PT-PA), acusados de quebra de decoro pelo PSOL por estarem enfiados até o pescoço na roubalheira descoberta em 2005, Cardozo argumentou no Conselho de Ética que a dupla fora purificada pela reeleição em 2006. “De alguma forma, o eleitorado optou pela anistia”, fantasiou o professor de Direito, inaugurando uma Justiça paralela em que a urna é a única instância.

É por esse buraco no porão que vai escapar Jaqueline Roriz. Por ter consumado a tunga não em 2010, mas na campanha anterior, Jaqueline nem precisará esperar a absolvição pelo plenário. Foi dispensada dessas miudezas pela “doutrina Cardozo”, criada pelo deputado que, há um ano, afirmou que não disputaria outro mandato por estar “decepcionado com o Congresso”. Fingiu ter esquecido o que fez. Fingiu que não estava apenas deixando a Câmara para concentrar-se na candidatura ao emprego de ministro.

Já escrevi nesta coluna que o Ministério da Justiça foi privatizado e anexado pelo PT em junho de 2005, quando o escândalo do mensalão obrigou o criminalista Márcio Thomaz Bastos a licenciar-se oficiosamente do cargo para concentrar-se na defesa do chefe Lula e seus 40. Depois de transformar o gabinete em sede do departamento jurídico do bando, o doutor justificou a fama de especialista em livrar da cadeia delinquentes com tanta culpa no cartório que o mais humilde guarda da esquina não hesitaria em dar-lhes voz de prisão. Foi ele quem descobriu que, vista de perto, a quadrilha dos mensaleiros era apenas um ajuntamento de pequenos contraventores. O mensalão nunca existiu, ensinou Márcio à clientela. Só dinheiro de caixa 2. Só recursos não contabilizados.

Herdeiro do escritório, Tarso Genro resolveu matar a saudade da Guerra Fria e envergonhar o Brasil decente com trapaças e trapalhadas internacionais. Em 2007, durante os Jogos Panamericanos do Rio, ganhou a medalha de ouro em subserviência ao afagar a ditadura cubana com a deportação dos pugilistas Erislandy Lara e Guillermo Rigondeaux. No ano seguinte, escalou o pódio do cinismo ao transformar em ditadura a democracia italiana, recusar o pedido de extradição de Cesare Battisti e promover o assassino de estimação em refugiado político.

No começo de 2010, com a substituição do bacharel gaúcho pelo interino vocacional Luiz Paulo Barreto, a instituição acabou reduzida a filial da grande fábrica de dossiês cafajestes, acionada regularmente pela Casa Civil e pelo Alto Comando da campanha de Dilma Rousseff. Decidida a prosseguir o trabalho de destruição que Lula começou, a sucessora entregou o Ministério da Justiça a José Eduardo Cardozo.

O caso Jaqueline Roriz confirma que confiou a missão ao homem certo.