sexta-feira, 22 de junho de 2012

ABÍLIO DINIZ " PERDE" O PÃO DE AÇUCAR


Após 60 anos, chega ao fim era Diniz no Pão de Açúcar

Após 60 anos, chega ao fim era Diniz no Pão de AçúcarFoto: Cleber Bonato/Divulgação_Adriana Mattos/Folhapress

ÀS 9 HORAS DESTA SEXTA-FEIRA, O FRANCÊS DE ORIGEM ARGELINA JEAN-CHARLES NAOURI, PRESIDENTE DO CASINO, ASSUME O COMANDO DA REDE BRASILEIRA. DEPOIS DE UMA TENTATIVA FRUSTRADA DE PASSAR UMA RASTEIRA NO SÓCIO, A DERROTA DE ABILIO DINIZ É ANUNCIADA COMO UM TROFÉU PELA IMPRENSA FRANCESA

22 de Junho de 2012 às 06:55
Roberta Namour – correspondente do 247 em Paris – "Jean-Charles Naouri prestes a levantar o troféu brasileiro." Com chamadas infladas, os jornais franceses de hoje não escondem a satisfação de assumirem, enfim, o controle do gigante Pão de Açúcar, depois de uma tentativa frustrada de Abilio Diniz de passar uma rasteira no sócio.
Após 60 anos, às 9 horas desta sexta-feira chega ao fim a era Diniz no Pão de Açúcar. Em uma assembleia extraordinária, Abilio Diniz deixará a presidência da Wilkes, holding criada em 2005, quando o varejista francês Casino, do qual Naouri também é presidente do
Conselho, pagou US$ 900 milhões para comprar uma fatia maior do varejista brasileiro – o primeiro aporte havia sido feito em 1999. O cargo será ocupado por Jean-Charles Naouri. Diniz passa a ser acionista minoritário (com 21% das ações) e o francês toma o controle do maior conglomerado de varejo do Brasil, de acordo com o acordo assinado há sete anos.
Na parte da tarde, acontece as mudanças no Conselho. Até esta quinta, Abilio tinha cinco assentos, ocupados por ele, seus três filhos e sua esposa, Geyze Marchesi Diniz. Outros cinco postos estavam com integrantes do Casino, além de quatro conselheiros independentes. Agora, Abilio terá direito a apenas três assentos, enquanto o Casino passará para oito, com um conselheiro a mais do que existe hoje. No futuro, o Casino pode indicar ainda mais três e chegar a 11 conselheiros ou 18 no total.
Tudo deve acontecer em clima protocolar. Naouri tem pressa e, sobretudo, quer evitar qualquer contato mais próximo com Abilio Diniz. Desde que o brasileiro tentou negociar secretamente a fusão do grupo com o rival do Casino na França, o Carrefour, as relações entre os dois se tornaram insustentáveis.
Conforme o acordo, Diniz terá dois meses para vender ou um lote de um milhão de ações ao Casino, por US$ 10,5 milhões, para selar a mudança. Se não o fizer, o Casino exercerá o direito de adquirir, pelo valor simbólico de R$ 1, uma ação que lhe dará maioria na Wilkes, a holding de controle do Pão de Açúcar.
Mesmo asssim, Naouri sabe que não se livrará do ar soberbo de Diniz pelos corredores do GPA. Quem conhece o autoritário Abilio, que já passou por cima até mesmo da irmã Lucília para conseguir o que queria, sabe que dificilmente ele perderá a magestade
A batalha promete ser dura já que a sua frente terá um dos varejistas mais poderosos e brilhantes da França. O francês de origem argelina é chamado no meio empresarial de gênio. A comunicação não é seu forte, nem sua vaidade. Constuma usar sempre o mesmo terno preto e sobretudo azul-marinho. Mas possui uma capacidade intelectual acima da média, que o ajudou a sair da Argélia para estudar em uma das melhores escolas de Ciências da França e fazer um mestrado em negócios em Harvard. Sua carreira começou em 1984, como chefe de gabinete do ministro socialista da Economia e Finanças, Pierre Bérégovoy.
O varejo cruzou seu caminho em 1991, com a Rallye, da região da Bretanha. Mas sua ambição o fez bater à porta do Casino, a respeitada marca da família Guichard. Hoje, ele possui, por meio de sua holding, 57,3% do grupo.
A personalidade pouco afável foi desenvolvida ao longo de muitos embates de um estrangeiro contra caciques franceses do setor. Mas o episódio mais doloroso que o moldou para sempre aconteceu em 1988, quando foi acusado de abuso de informação privilegiada envolvendo o banco Société Générale. Em 2002, foi absolvido, mas serviu de lição para torná-lo uma das personalidades mais duras do meio empresarial.

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