Por que são os papas “velhos” que renovam a Igreja
Um dos aspectos que causaram certa perplexidade nesta quarta-feira, quando se conheceu o novo papa, foi a sua idade: 76 anos — Francisco fará 77 ainda neste 2013. Nos últimos 100 anos, só dois eleitos eram mais velhos: justamente Joseph Ratzinger, a quem sucede, e João XXIII, que estava a um mês de completar os mesmos 77. Vejam quadro. Volto em seguida.
Observem como a duração do mandato e a idade do eleito não querem dizer grande coisa. Nos últimos 100 anos, João XXIII, que sacudiu a Igreja Católica com o Concílio Vaticano II, fez o papado mais curto (não estou considerando os 34 dias de João Paulo I).
Notem que um papa extremamente jovem no ato da escolha, João Paulo II, é uma exceção. Não havia ainda completado 58 anos. Antes dele, Bento XV chegou ao Trono de Pedro com pouca idade: estava prestes a fazer 60, mas morreu cedo, fazendo um papado de apenas sete anos e três meses.
A estes se seguiram dois papados longos, de Pio XI e Pio XII, respectivamente 17 e quase 19 anos. Aí veio o breve pontificado de João XXIII para mais um período relativamente extenso: os 15 anos de Paulo VI. Na história, apenas dois papas permaneceram no comando da Igreja mais tempo do que João Paulo II: o próprio Pedro, o fundador, e Pio IX, que teve um pontificado que beirou os 32 anos. Aqueles quase 27 anos distorceram a nossa percepção e estavam entre as exceções.
Não dá assegurar que seja uma tendência. Tendo a achar que, para o bem da Igreja, papados mais curtos são uma escolha sensata. Afinal, a força da Santa Madre tem de estar na doutrina. E, assim, evita-se a cristalização de vícios na Cúria Romana. A Igreja é inspirada por Deus, mas conduzida por homens.
Olhando a tabela acima, dá para perceber que a faixa entre 81 e 82 é, digamos, a zona de maior perigo para os papas, havendo duas exceções abaixo e duas acima: João Paulo II e o próprio Bento XVI. Vejam, no entanto, que curioso: em 100 anos, ele foi o papa com a idade mais avançada — perde para Leão XIII (papa entre 1878-1903), por exemplo, que morreu aos 93 anos.
A Igreja tem de saber conservar os seus valores renovando-se. E a renovação, meus caros, quando o mandato é vitalício, se dá é com a escolha de papas mais velhos. Tenho pra mim que a Igreja não precisa de pontificados de 25, 30 anos. Nem é essa a sua tradição. Com o aumento da expectativa de vida, um papa na faixa dos 75 anos é que é a medida da prudência.
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