Enviado por Ruy Fabiano -
30.3.2013
| 8h00m
POLÍTICA
O pastor e a militância, por Ruy Fabiano
Não estou, nem professo seu credo religioso, nem subscrevo seus métodos de cobrança do dízimo. Não pelo dízimo em si, instituído há milênios por Abraão e confirmado por Moisés para a manutenção dos serviços religiosos, que, como se sabe, têm um custo, a ser compartilhado pelos que os utilizam.
Na origem, o dízimo correspondia à décima parte dos ganhos dos fiéis. Nos termos e nas proporções em que hoje é cobrado por alguns segmentos religiosos – como o do próprio Feliciano -, equivale a uma verdadeira extorsão.
Ele, porém, não é o único a fazê-lo, nem o faz às ocultas, nem estreou agora. Se até aqui os guardiões da lei nada fizeram contra essa prática (o que é espantoso), é natural que prospere. Quantos Felicianos há por aí enriquecendo às custas dos pobres?
Entretanto, o que se vê, sobretudo no período eleitoral, é uma exaltação, por parte de candidatos e partidos, a esses personagens. O populismo político se abraça ao populismo religioso e o resultado é um desserviço – moral, econômico e espiritual – à coletividade. Desmoralizam-se os agentes políticos e religiosos, num congraçamento altamente profano e danoso.
A candidata Dilma Rousseff bateu às portas de Marcos Feliciano (e de pastores assemelhados), em 2010, para pedir-lhe apoio – a ele e a seu rebanho extorquido. E ele não hesitou em atendê-la, postando um vídeo na internet.
Como não tem o hábito de agir de graça, nem mesmo em seu ofício religioso, deduz-se que alguma contrapartida lhe foi acenada. Ei-lo, portanto, à frente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, no cumprimento de um acordo. E eis o PT e seus aliados, beneficiários de seu apoio nas eleições, indignados com o pagamento da promissória eleitoral que eles mesmos firmaram.
Mobilizam aparato ainda maior que o que recebeu a blogueira cubana Yoani Sánchez, dando ao pastor-deputado uma projeção que jamais teria em circunstâncias normais.
Considerando-se que o barulho em curso é desproporcional ao número de adeptos de cada parte – os evangélicos são bem mais numerosos que o cortejo militante em ação -, é provável que o deputado se reeleja ano que vem com um número bem mais expressivo de votos que os que obteve em 2010.
Leia mais em O pastor e a militância
Ruy Fabiano é jornalista
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