Após expropriação, Argentina pede investimentos a Petrobras
Governo brasileiro não estaria disposto a aumentar de 8% para 15% a participação na produção de petróleo no país vizinho
BRASÍLIA e BUENOS AIRES — Pelo menos neste momento, o governo brasileiro não estaria disposto a atender a demanda do governo argentino para que a Petrobras aumente de 8% para 15% a participação na produção de petróleo daquele país. O pedido de expansão dos investimentos foi formalizado na sexta-feira pelo ministro do Planejamento e Investimentos Públicos argentino, Júlio de Vido, que se reuniu com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e a presidente da estatal brasileira, Graça Foster. Por parte da Petrobras, não há disposição de abrir os cofres para novos investimentos antes de receber pelo menos um sinal de que será anulada a cassação de seu bloco de concessão na província de Neuquén — realizada dias antes de o governo da presidente Cristina Kirchner expropriar a petrolífera YPF da espanhola Repsol.
Após o encontro, que durou pouco mais de uma hora, Lobão não deu uma resposta concreta à solicitação de De Vido. Disse apenas que a Petrobras investiu cerca de US$ 500 milhões na Argentina em 2011 e que a empresa manterá o valor este ano. Alegou que seria preciso um esforço muito grande para o aumento da participação da Petrobras no mercado argentino, tendo em vista as perspectivas de investimentos necessários para a exploração do petróleo na camada do pré-sal no Brasil nos próximos anos. Ao GLOBO, o ministro disse que a prioridade da estatal do petróleo é o mercado interno.
Nos bastidores, o governo recebeu de maneira positiva a visita do ministro argentino e a garantia de que o Brasil não tem o que temer. Ou seja, que a Argentina não tem intenção de reestatizar a Petrobras, como aconteceu com a YPF, embora não haja como cobrar garantias formalmente. Mas, em princípio, a avaliação é de que, diante de todos os sinais dados pela Argentina recentemente, não haveria por que duvidar deste compromisso. De Vido reiterou o empenho político do governo Kirchner junto as autoridades provinciais em Neuquén e garantiu que 80% do problema já estaria solucionado. Pela Constituição, as províncias na Argentina têm autonomia para tomar este tipo de decisão.
Argentina busca parceria com outras petrolíferas
No Executivo brasileiro, uma corrente, que encontra eco na Petrobras, diz que ajudar os vizinhos seria uma decisão política que poderia prejudicar a imagem da estatal, uma companhia de capital aberto. Mas há quem defenda a tese de que tanto a petrolífera brasileira como as de outros países podem se beneficiar do espaço que era ocupado pela Repsol.
— Não pretendemos que a Petrobras substitua ninguém, mas que aumente sua presença em todo o território argentino. A estratégia da Petrobras no país, no entanto, é definida pela própria companhia — disse o ministro argentino.
Segundo o jornal argentino “El Cronista”, o governo da presidente Cristina Kirchner ofereceu à Petrobras, à petrolífera chinesa Sinopec e à companhia argentina Bridas parceria com o Estado argentino na nova YPF. O jornal dá detalhes das conversas que, segundo a Casa Rosada, foram iniciadas nos últimos dias e se completariam na reunião do ministro De Vido ontem em Brasília.
Ele negou que seu país tenha feito proposta semelhante à chinesa Sinopec, mas disse que, na segunda-feira, começará a conversar com representantes de várias empresas, inclusive as americanas Chevron e a Exxon, além da Sinopec.
A reunião comandada pelo ministro brasileiro com a presença de Graça Foster já estava agendada desde março, a pedido de Cristina, antes portanto da intervenção na YPF ser anunciada. Ela pediu a Lobão que intermediasse o encontro, porque queria que a empresa brasileira aumentasse seus investimentos na Argentina.
Nomeado interventor da YPF por 30 dias, o ministro argentino disse que a petrolífera em breve terá uma gestão profissionalizada, será uma sociedade anônima com controle estatal, “muito parecida com o exemplo da Petrobras”.
Indagado sobre o pedido do governo argentino de mais investimentos pela Petrobras na Argentina, o embaixador da Espanha, Manuel de la Cámara, mostrou-se cético:
— Creio que a Petrobras, e qualquer investidor estrangeiro, vai pensar muito antes de investir na Argentina.
O governo brasileiro acredita que a Argentina não teria motivos para prejudicar seu bom relacionamento com o Brasil, sobretudo após despertar a fúria da União Europeia, que obteve o apoio dos EUA. Brasil e Argentina devem construir duas hidrelétricas binacionais no valor estimado em US$ 4 bilhões, financiada pelo BNDES. Além disso, os argentinos usam 1.500 MW de energia brasileira.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/economia/apos-expropriacao-argentina-pede-investimentos-petrobras-4702812#ixzz1sfxpDg7G
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