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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Rocinha vira “espetáculo midiático”

15/11/2011 21:00,  Por Redação, com Altamiro Borges - de São Paulo
Por Luciana Lima, na Agência Brasil:
A divulgação massiva das ocupações de comunidades pobres do Rio de Janeiro por forças da segurança púbica remonta, segundo especialistas, à República Velha, quando a hipervalorização dos presos buscava alcançar o reconhecimento da sociedade para o trabalho policial. Segundo Michel Misse, professor de sociologia e antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretor do Núcleo de Estudos em Cidadania, Conflito e Violência Urbana (Necvu) da UFRJ, a pirotecnia fez lembrar artigos da década de 1950 que criticavam a “aliança” entre imprensa e polícia para supervalorizar as prisões.
“O interessante é que são artigos críticos de Silvio Terra, que hoje dá nome à Academia de Polícia do Rio de Janeiro. Desde àquela época já se identificava a tendência de tornar muito mais importante, inteligente e perigoso aqueles que eram capturados pela polícia”, diz Misse. “Era uma forma de hipervalorizar o trabalho [policial]. Desde aquela época, já existia essa aliança entre a polícia e os veículos de comunicação, com suas editorias de polícia”.
A anunciada ocupação das favelas da Rocinha e do Vidigal no Rio de Janeiro domina o noticiário há uma semana. Mesmo antes da madrugada de domingo (13), quando as forças policiais subiram o morro, a prisão dos policiais que tentaram escoltar traficantes em fuga e a captura do traficante Antônio Bonfim Lopes, o Nem, tiveram ampla cobertura da imprensa nacional. O assunto também ganhou destaque internacional, mostrando que o Rio investe para reforçar a segurança para receber dois megaeventos esportivos mundiais: a Copa do Mundo em 2014 e das Olimpíadas de 2016.Isso já havia ocorrido no primeiros semestre do ano, quando as 13 favelas que formam o Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, foram ocupadas por forças da segurança pública.
“Essa aliança explica, em parte, a ênfase na divulgação da prisão de Nem, que era um traficante de varejo”, assinala o professor.
“O Nem já estava negociando com a Polícia Civil sua rendição. O advogado mantinha contatos com a polícia quando ele resolveu fugir”.
De acordo com Misse, o poder econômico do tráfico no Rio está em declínio e já deu vários sinais.
“Um deles foi o acordo feito por facções do Rio com facção de São Paulo. Foi a partir desse momento que o crack começou a entrar no Rio, coisa que antes os traficantes cariocas não permitiam”. O avanço das milícias (organizações formadas a partir da associação entre criminosos e policiais) também demonstra esse enfraquecimento, acrescentou o diretor do Núcleo de Estudos em Cidadania, Conflito e Violência Urbana da UFRJ.
Para Marcelo Burgos, professor e coordenador da área de sociologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, a forte ação midiática está no centro da política de implantação das unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Segundo ele, o “efeito UPP” tenta vender o conceito de uma cidade “pacificada”. “A UPP é uma política que se diferencia de outras até pelas ações de caráter midiático. O que temos no Rio não é só a UPP, mas também o “efeito UPP.”Embora ressalte que entende a intenção do governo do Rio em apresentar Nem como um “troféu”, oprofessor da PUC do Rio vê exagero na cobertura da imprensa. “O interesse da mídia e a repercussão da prisão de um traficante do porte do Nem não é compreensível. Apesar de não ser um pé rapado, de ter domínio territorial (sobre a Favela da Rocinha), de controlar um volume razoável de dinheiro e de mercadoria (droga), não se pode considerá-lo um chefão do tráfico. É claro que houve uma midiatização da prisão dele”.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

NEM, O BANDIDO QUE SABE DOS " PODRES"...VIVERÁ???

Rio de Janeiro

Nem, o bandido que precisa falar

Traficante que comandava a Rocinha pode entregar dezenas de policiais corruptos que o ajudavam a manter o controle da favela. Para o estado, foi sorte tê-lo encontrado com vida

João Marcello Erthal
Antonio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, chefe do tráfico na favela da Rocinha, após ser preso, na madrugada desta quinta-feira
Antonio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, chefe do tráfico na favela da Rocinha, após ser preso, na madrugada desta quinta-feira (Reprodução de TV/Rede Globo/Caio Amy/Folhapress)
A tese de que o bandido se beneficiava da cobertura de policiais foi confirmada na tarde de quarta-feira, com a prisão de um grupo que dava proteção a traficantes que fugiam da Rocinha
Por tudo que fez nos últimos anos, Antônio Francisco Bonfim Lopes teve sorte de ser capturado com vida. A sorte também é do estado, que tem a esperança de, pela voz do homem que se transformou no temido traficante Nem da Rocinha, descobrir quantos e quem são os policiais que o ajudavam. Por trás do mito do bandido que controlava a favela e até “garantia segurança” na região, ‘proibindo roubos’, havia a estratégia de alimentar uma máquina de corrupção policial que inviabilizava as tentativas de combate à quadrilha na Rocinha.
O secretário de segurança do Rio, José Mariano Beltrame, que está na Alemanha, afirmou, à TV Globo, no início da tarde desta quinta-feira, o que espera ouvir do bandido. "Ele tem muitas explicações a dar sobre o tráfico de drogas. Mas também sobre corrupção de agentes públicos. Com a prisão do Nem, tivemos um ótimo exemplo de como há policiais honestos, interessados na pacificação do Rio. Mas também já tivemos um passado triste, com policiais que colaboravam com o crime", disse Beltrame.
Nem sabe muito. Se quiser falar, pode levar para a cadeia algumas dezenas de policiais. Entre as lendas sobre sua equipe de seguranças, há a de que policiais de elite do Rio atuavam como seus guarda-costas. Faz sentido, portanto, a intenção do governador Sérgio Cabral de mantê-lo longe do estado, em um presídio federal de segurança máxima, nos moldes do que já acontece com Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, e, mais recentemente, Alexander Mendes da Silva, o Polegar da Mangueira.
A tese de que o bandido se beneficiava da cobertura de policiais foi confirmada na tarde de quarta-feira, com a prisão de um grupo que dava proteção a traficantes que fugiam da Rocinha. Assim como Nem, eles estavam confiantes na impunidade, e, escoltados pelos policiais, Anderson Rosa Mendonça, conhecido como Coelho, chefe do tráfico no morro de São Carlos, e Sandro Luiz de Paula Amorim, conhecido como Peixe, estavam acompanhados por Paulo Roberto Lima da Luz, conhecido como “Paulinho”; Varquia Garcia dos Santos, conhecido como “Carré”; Sandro Oliveiro; Carlos Daniel Ferreira Dias, policial civil lotado na secretaria de Saúde Pública; Carlos Renato Rodrigues Tenório e  Wagner de Souza Neves, policiais civis lotados na Delegacia de Roubo e Furtos de Cargas; José Faustino Silva, PM reformado; e Flávio Melo dos Santos, ex-PM.
Os agentes de segurança presos são só uma parte do esquema criado por Nem. E, por isso, a partir de agora, é importante zelar pela vida do bandido. Preso, sem o mesmo poder que tinha encarapitado em seu ponto de vista privilegiado da Rocinha, de onde distribuía dinheiro, ele passa a ser alvo de todos os que corrompeu.