Comportamento
Síndrome de Nóe
Mírian Ribeiro
Diferente da função do protetor - que visa ao bem-estar do animal, cuidar e doar -, o comportamento de acumular um número exagerado de cães e gatos dentro de casa, sem condições de higiene e alimentação adequada, nada tem de saudável. Conhecida como Síndrome de Colecionador, Síndrome de Diógenes ou Síndrome de Noé, trata-se de um transtorno mental que envolve a necessidade compulsiva de ter e controlar animais, associada à incapacidade de reconhecer o sofrimento deles.
Em Santos, a Coordenadoria Municipal de Proteção à Vida Animal (Coprovida) acompanha alguns casos de pessoas com até 70 animais em casa. "Em um primeiro momento, essas pessoas recolhem os animais por gostar deles, mas depois não percebem o limite entre cuidar/proteger e a obsessão e maus tratos. A maioria são pessoas idosas, abandonadas pela família. São compulsivas e não aceitam doar seus animais. E, para piorar, tem muito vizinho que joga novos animais na porta desses colecionadores para se livrar do problema", conta o vereador Benedito Furtado.
Furtado preside a Comissão Especial de Vereadores (CEV) - também integrada pelos vereadores Marcelo Del Bosco e Geonísio Aguiar - que acompanha as políticas públicas dos animais. Por implicar crime de maus-tratos aos animais e envolver sérias questões de saúde pública, a CEV decidiu priorizar a discussão sobre os colecionadores.
Dia 31 de maio, os vereadores estiveram reunidos com representantes da Coprovida, do Conselho Municipal de Proteção da Vida Animal, Ongs, protetores independentes e das secretarias municipais de Saúde, Assistência Social e Meio Ambiente para formar uma força-tarefa.
"O único jeito de tirar os animais dessas pessoas sem trauma é, uma vez detectado o fato, envolver a força-tarefa para atuar em várias ações: a Assistência Social, no auxílio psicológico; a Saúde, o trabalho da Vigilância Sanitária; a Secretaria de Finanças, na aplicação de multas. Quanto aos animais devem ser vacinados, vermifugados e castrados, como manda a legislação, e paulatinamente serem doados", defende Furtado.
Síndrome de Diógenes
A acumulação de animais é um dos aspectos da compulsão também conhecida como Síndrome de Diógenes. Caracterizada pelo acúmulo de grandes quantidades de sujeira e materiais inúteis em casa, a doença normalmente afeta pessoas de idade avançada que vivem sozinhas, em estado de abandono pessoal, social e em isolamento voluntário em seu próprio lar. O nome da síndrome foi inspirado em um filósofo grego chamado Diógenes, que vivia em um barril pregando ideais de animalismo e niilismo. O acumulador compulsivo é popularmente chamado de "colecionador de lixo" e a síndrome pode também acometer pessoas mais jovens, ou de bom nível econômico e intelectual.
Características de quem possui o problema
• Incapaz de colocar um limite no número de animais abrigados
• Mantém um número anormal de animais em casa
• Incapaz de dar aos animais o mínimo de condições de vida: alimento adequado, água, cuidados veterinários,
e higienização do animal e do ambiente (as fezes e a urina se acumulam)
• Inábil para admitir a própria incapacidade de cuidar minimamente dos animais e perceber o impacto negativo em sua própria saúde e bem-estar, na das pessoas próximas e dos animais abrigados
• Incapaz de agir sobre a deterioração das condições dos animais ou do ambiente
• Incapaz de doar um animal que seja (há casos em que nem os animais mortos são retirados do local)
O que caracteriza o colecionador
Nem todos que terminam com muitos animais são colecionadores. Há uma grande diferença entre o que resgata e são capazes de cuidar bem deles e um colecionador que está usando animais para alimentar sua compulsão. Colecionadores geralmente se veem como as únicas pessoas que se importam com eles; os animais ficam doentes e não recebem cuidados médicos; dejetos não são removidos e a saúde dos bichos fica em risco, exatamente a situação que o colecionador achava que estava prevenindo.
Doutor em psicologia do Smith College, de Massachusetts, Randy Frost comenta que uma das características da síndrome é a ligação forte que essas pessoas sentem com os animais, tão próxima que eles não conseguem deixar o animal ir embora, mesmo quando está claro que ele ficaria melhor em outro lugar.
"Essas pessoas são facilmente identificadas em suas comunidades como "a mulher dos gatos", ou algo assim. E aí os vizinhos que não querem mais seus gatos vão jogá-los dentro da casa dessa mulher. E isso contribui para agravar o problema. E o que essa mulher vai fazer? Ela não será capaz de despejá-lo na rua, pois tem medo de que o gato não sobreviva".
A coordenadora da Codevida, Leila Abreu, alerta que os problemas já identificados podem se agravar caso essas pessoas venham a falecer. "A cidade terá animais órfãos e o município não se vê em condições de abrigá-los uma vez que não tem espaço físico. "A Codevida já abriga animais além de sua capacidade", disse.
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